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“Madre Paula – Rainha na Sombra” novo romance de Ricardo Costa Correia

Ricardo Costa Correia lançou o seu quinto romance “Madre Paula - Rainha na Sombra” no passado dia 18 de Novembro no Mosteiro de São Dinis e de São Bernardo em Odivelas. O autor vai estar numa nova sessão de apresentação, desta vez a Norte em São Mamede de Infesta a 7 de dezembro na Taberna Medieval "O Caldeirão", num evento a decorrer entre as 19h00 e as 23h30.

 

Este escritor tem como caracterítisca criar a ficção à volta de figuras históricas conhecidas. Desta vez tudo decorre no século XVIII.

 

Ricardo Costa Correia lançou o seu primeiro romance em 2017 “O segredo dos Bragança” com a história à volta do reinado de D. Carlos, livro esse cujas vendas correram conforme as suas expectativas.

 

No ano seguinte inicia a trilogia para um enredo histórico mais longo com o título “O regresso do desejado” à volta da vida de D. Sebastião após a batalha de Alcácer Quibir com a ideia da expansão do reino pela Peninsula Ibérica em vez de voltar ao norte de África. Esta trilogia despertou o interesse de um produtor norte-americano logo após a Feira do Livro de Lisboa desse ano. Contudo com o surgir da pandemia ficou temporariamente suspenso, pretendendo-se que retome para breve.

 

Quanto ao novo romance “Madre Paula – Rainha na Sombra” falamos de Paula Teresa da Silva e Almeida que ingressa na vida religiosa nas freiras do Mosteiro de Odivelas.

O seu pai é ourives de profissão e ambiciona melhorar a vida e de suas filhas pelo facto de ser fornecedor da Casa Real. Contudo Paula não tem vocação para a vida religiosa, ao contrário da sua irmã mais velha. Paula é uma bela jovem que não passa despercebida ao rei de Portugal, dom João V que a toma por amante. A raínha apercebe-se e consegue conquistar a sua inimizade, contudo o seu amor pelo rei aumenta. Paula é manipulada pelos inquisidores lisboetas que querem retomar o poder que tinham antes da Restauração de 1640 e esta jovem é o instrumento perfeito para espiar a corte e o rei.

 

Madre Paula entre amante do rei, mãe de um filho bastardo Inquisidor Geral de Portugal pouco tempo antes do Terramoto de 1755 e religiosa no Mosteiro de Odivelas, é uma das mais influentes mulheres do seu tempo.

 

Fica a questão: Quem foi na realidade Madre Paula?

AMMA: Um quinto livro em cinco anos, com um enredo à volta de figuras históricas, entre a corte, nobreza, clero e individualidades importantes da nossa história, é uma paixão muito ambiciosa? Quanto tempo demora materializar uma obra deste género?

 

Ricardo Costa Correia: Comecei a escrever o que viria a ser “O Segredo dos Bragança” cerca de 2012 ou 2013. Tinha feito uma extensa pesquisa sobre o Portugal da viragem do século XIX para XX e pensei que haveriam muitos pontos de interesse para explorar. Depois, com a dificuldade de entregar o manuscrito a uma editora, mas ainda assim explorando o quanto gostava da investigação, resolvi que haveria de dar um pulo mais atrás no tempo. Em finais de 2014 começou por isso a nascer a história ao redor de D. Sebastião, pensando desde sempre explorar um caminho alternativo à História de Portugal. Apenas publicaria “O Segredo dos Bragança” em 2017 e “O Regresso do Desejado” a partir de 2018. Claro que muitas vezes as pesquisas para uns assuntos nos levam a outros e acabam por nos envolver. Desde 2019 que faço Recriação Histórica e pratiquei Esgrima Histórica com a Companhia Livre e a Academia de Esgrima Histórica. Mas quase todos os meus livros demoram alguns anos a ser preparados, pois gosto de investigar para poder depois passar ao papel com ideia que sejam bem enraizadas. Este novo “Madre Paula, Rainha na Sombra” é também o resultado disso. Comecei a escrevê-lo em 2021, mas já desde 2020 que pesquisava e aprofundava o conhecimento sobre o Mosteiro de Odivelas e sobre o reinado de D. João V. Não tenho um prazo específico, mas penso que um livro deste género, entre a pesquisa e a escrita deverá tardar entre 2 a 3 anos.

 

AMMA: Para escrever um romance nesta linha de pensamento, estuda muito o perfil das personagens históricas e o contexto geopolitico para depois as entrelaçar com a ficção?

 

RCC: Sem dúvida. Não conseguiria recriar uma personagem histórica sem a conhecer profundamente. Por brincadeira digo muitas vezes que às vezes chego a sonhar com essas personagens. Há sempre nos meus livros personagens verdadeiros, que existiram no seu tempo e a esses não consigo subverter. Deixo que eles sejam quem são, que desempenhem as tarefas que historicamente deveriam ter. Depois tenho as personagens da ficção que me acompanham e que são criadas por mim, com a ideia concreta do que eram as pessoas no período histórico de que falo em cada livro. Por vezes individuais, outras vezes caindo mais nos estereótipos ou mesmo como personagens coletivas. Todos os contextos e em especial o geopolítico são fundamentais. Recordo por exemplo o episódio do mapa cor de rosa, n’”O Segredo dos Bragança”, Alcácer-Quibir n’”O Regresso do Desejado” e mesmo neste “Madre Paula, Rainha na Sombra” não foram esquecidas as feridas com ingleses e holandeses em Angola e em Pernambuco, e também o Terramoto de 1755, que Paula terá vivido em pessoa, sofrendo com a devastação que o mesmo provocou a Odivelas.

AMMA: Com o facto de usar a corte e acontecimentos reais com a trama imaginária considera um desafio ou alguma ousadia no sentido positivo?

 

RCC: Escrever é por si um desafio. Posso contar a História de Portugal, mas quando o faço, há sempre uma parte do meu entusiasmo e da minha experiência que transparecem para as páginas de um livro. Não o considero uma ousadia, visto que estou a falar de personagens que já desapareceram há mais de um século, mas espero que para quem leia possa sentir-se pelo menos tentado a ir conhecer mais sobre as personagens históricas de quem falo.

 

AMMA: As suas obras centram-se basicamente em personagens dos finais da 2ª dinastia e da 4ª. Tem mais facilidade em conhecer bem o perfil real dos protagonistas para desenvolver os romances?

 

RCC: É engraçado porque calhou. Confesso que em termos históricos há períodos concretos que me fascinam. Já escrevi sobre um desses períodos que é o início do Partido Republicano e a transição dos séculos XIX para XX. Depois o período que chamamos de Filipino, entre 1580 e 1640 é outro deles. Falei sobre esse período, mas não o abordei do ponto de vista do romance, mas sim de uma ficção, contando uma história alternativa. Talvez algum dia lá volte, quem sabe após uma nova visita ao Arquivo Geral de Simancas em Madrid ou ao Arquivo das Indias em Sevilha. D. João V é um rei de uma fase transitória na 4ª dinastia: ainda se sentem os tumultos da Restauração de 1640, mas ainda não chegámos à estabilidade completa. E o Rei-Sol Português foi quanto a mim bastante mal caracterizado pela historiografia, que tem ainda muito a descobrir sobre este período. Os perfis dos monarcas que governaram nestes períodos sobre os quais escrevi foram muito interessantes de caracterizar, mas ainda há muitos mais. E muito mais para descobrir.

 

AMMA: Como surge “Madre Paula”? Qual foi a fonte de inspiração para este trabalho?

 

RCC: “Madre Paula” surge precisamente de uma vontade de trazer alguma justiça a uma personagem injustamente esquecida pela história. A minha existência “cruzou-se” com o Mosteiro de Odivelas em 2015 e desde aí que o fascínio me puxou a descobrir muito mais. Foram vários os autores que sempre o trataram como uma espécie de prostíbulo ou bordel real e é impossível não falarmos de Odivelas sem nos passarem inúmeras anedotas e ditos jocosos pela cabeça. Em 2020, os meus editores sugeriram que buscasse uma personagem feminina para variar um pouco nas minhas narrativas e experimentar algum caminho. Falar sobre rainhas é interessante, mas supõe um desafio acrescido pois foram sempre tratadas nas sombras do rei que serviram. Em conversa com a minha esposa, que é de Odivelas, e entre as dúvidas sobre recuar ao tempo do patrono D. Dinis ou ficar numa época mais recente, Madre Paula surgiu como uma agradável surpresa. Era uma personagem ligada profundamente ao mosteiro de Odivelas e à história local, ao mesmo tempo que tinha sido muito injustiçada pela História. Daí ao início da descoberta foi um pulo, e seguiram-se meses de investigação, conseguindo muito pouco, mas o suficiente para começar a montar uma história.

 

AMMA: O facto de Paula ser amante do Rei e isso despoletar automaticamente a inimizade da parte da raínha, torna o fio condutor de toda a história? Ou seja o romance roda à volta deste trio?

 

RCC: Se o fosse já contar, os leitores perderiam a vontade de descobrir este livro. A rainha Maria Ana de Áustria tem uma influência e uma inimizade profunda pela rival, como o teve pelas outras amantes de D. João V. Só que o rei nunca deu a nenhuma delas o que deu a Madre Paula. E a rainha foi de alguma forma “obrigada” a aceitar a sua existência, pois Paula tinha um espírito e uma ambição bastante vincados e fortes. O romance ronda sempre à volta de Paula, que é a sua personagem principal. Acaba por se estender além da morte de D. João V, pois Paula ainda o sobreviveu por mais 16 anos, em que perdeu algum do seu fulgor, mas continuou a ter alguma presença na corte de D. José I, o rei que enfrentaria os desastrosos resultados do terramoto de 1755. Não esquecendo a presença de Sebastião José de Carvalho e Melo, aqui ainda retratado como jovem fidalgo e embaixador de Portugal em Inglaterra e na Áustria.

 

AMMA: Como vai buscar a figura do Inquisidor Geral de Portugal e o seu papel no romance?

 

RCC: Um dos meus locais preferidos de investigação são os Tomos da Inquisição Portuguesa. Por lá consegue-se perceber muito da sociedade portuguesa entre os anos de vigência da instituição. Durante os reinados de D. João V e de D. José I, a Inquisição Portuguesa é profundamente reformada e nem a propósito, o filho bastardo de D. João V com Paula, também chamado José, um dos meninos de Palhavã, é eleito Inquisidor Geral do Reino. Sendo a sua mãe uma religiosa e o seu pai o rei de Portugal, não é difícil perceber que as intrigas à sua volta seriam bastante “sumarentas” para qualquer livro que se referisse a este período.

 

AMMA: Sendo “Madre Paula” religiosa, como consegue gerir a sua relação com o filho, o bastardo do rei?

 

RCC: Espero que os leitores descubram, mas há algumas coisas bastante interessantes. A correspondência entre os dois não é vasta, mas há uma linha de texto muito curiosa. À pergunta de Paula sobre se o seu filho não teria consideração para com a própria mãe, o filho responde-lhe que o bastardo de um rei não tem mãe mas apenas pai, pois é simplesmente um “filho da mãe”. Talvez até tenha sido aqui forjada essa expressão... mas isso, deixo aos estudiosos e investigadores exclusivos deste período para que o descubram.

 

AMMA: Já tem novos trabalhos em preparação? Pode desvendar um pouco o que está para vir a seguir?

 

RCC: Agora, há que relaxar por um pouco e levar o livro “Madre Paula, rainha na sombra” ao maior número possível de leitores por todo o país e se possível a toda a diáspora no estrangeiro através da venda online. Contudo, há novas histórias em preparação e novas aventuras a caminho. Não sei ainda onde a imaginação irá parar, mas há alguns períodos da nossa História, uns mais recentes e outros um pouco mais antigos que eu gostava de explorar. Talvez daqui por algum tempo, se essa pergunta for novamente feita, eu já possa ter uma resposta mais segura para ela.

 

Texto: Pedro MF Mestre

Fotos e Capa: Ricardo Costa Correia e Ego Editora

 

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quinta-feira, 25 de abril de 2024 – 20:56:12

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