André Sobreira... um atleta em busca de ajuda
Entrevistado por José Duarte
Biografia Desportiva:
- 2008\2009 - Campeonato Nacional de Basquetebol em Cadeira de Rodas, pela Parasport-Portimão
- 2009\2010 - Campeonato Nacional de Basquetebol em Cadeira de Rodas, pela Parasport-Portimão
- 2010\2011 - Campeonato Nacional de Basquetebol em Cadeira de Rodas, pela Parasport-Portimão
- Maio de 2011 - Maratona de Handcycle em Mannhein(Alemanha), 38.º Lugar
- Junho de 2011 – 1.ª Edição de Jogos de Portugal Coimbra, 1.º Lugar (Handcycle)
- Abril de 2012 - Taça Nacional Paredes, 1.º Lugar (Handcycle)
- Maio de 2012 - Campeonato de Ciclismo Anadia, 1.º Lugar (Handcycle)
- Junho de 2012 - Taça do Mundo Para-ciclismo, Segóvia, 10.º Lugar (Handcycle)
- 2012\2013 - Campeonato Nacional de Basquetebol em Cadeira de Rodas, pela
Parasport
- 2013 - Prova de Abertura de Para-ciclismo, Fafe, 2.º Lugar (Handcycle)
- 2013 - 1ª Taça de Portugal Para-ciclismo, Gondomar, 1.º Lugar (Handcycle)
- O André sofreu um acidente de moto, quando tinha 23 anos de idade. Antes disso, praticava desporto. Quando é que o desporto entrou na sua vida e que modalidades praticou?
R: Sim, sempre pratiquei desporto. Para além do desporto escolar, também participei em varias modalidades,comoandebol, voleibol de praia, futebol, passeios de bicicletas de todo o terreno e cicloturismo. No entanto, foi em 2007 que iniciei com mais dedicação o ciclismo, na modalidade de todo o Terreno (BTT) e iniciei na competição nacional como atleta federado representando uma equipa da cidade.
- Explique-nos, resumidamente, como foi o seu acidente e os tratamentos que teve que fazer como consequência do mesmo.
R: Tive o acidente de moto já quando me deslocava para casa, penso que talvez devido ao cansaço, os reflexos já não estavam tão bons, descontrolei-me e tive uma saída de estrada. Embati fortemente com as costas no chão, partindo também a clavícula. A minha sorte é que ia com um amigo, e, após a queda, foi ele que ajudou e mobilizou todos os meios para que fosse prestada a minha assistência médica o mais rápido possível. Após a chegada dos paramédicos ao local, fui transferido para o Hospital de Portimão e, posteriormente,transferido para o Hospital São José, para ser operado. Após a operação, em que foram colocadas 2 placas e 12 parafusos para fixação da coluna, iniciei a recuperação e aprendizagem desta nova vida.Assim que foi possível clinicamente, fui integrando no Centro de Reabilitação de Alcoitão para fazer os ensinamentos e procedimentos. E logo após ter saído de Alcoitão, voltei àminha vida ativa, trabalho, fazer desporto e sair com os amigos. Independentemente de tudo, antes ou depois do acidente, sou eu mesmo. Sempre divertido e disposto a partilhar um sorriso.
- Quando é que teve a noção que a paralisia seria irreversível?
R: Logo após a queda percebi que algo não estava bem, pois não sentia absolutamente nada da cintura para baixo. No entanto, mantive sempre a calma pensado nas duas situações, ou não caminho mais pelos meus pés ou isto passa com o tempo. Sempre estive muito consciente da gravidade, daí conseguir viver com alegria mesmo com alguma limitação.
- Porque é que decidiu voltar a praticar desporto, desta feita, adaptado às limitações físicas com que ficou?
R: Sempre gostei de fazer desporto, não só por ser excelente para a nossa saúde, como também por me ajudar a tranquilizar e abstrair do stress do dia-a-dia. Por outro lado, é importante manter uma boa condição física para um melhor manuseamento da cadeira de rodas.
- Após o acidente, o primeiro desporto que praticou foi o basquetebol em cadeira de rodas. Porque é que optou por esta modalidade e onde é que a praticou? Continua ligado à mesma?
R: O basquetebol foi a primeira modalidade que me apresentaram. Em 2007, fui contactado e convidado pela Parasport (Associação de Promoção ao Desporto Adaptado) a participar nos treinos. Desde então, e até á data, faço parte da equipa, treinando uma vez por semana e fazendo os jogos do campeonato nacional (caso não tenha competições de handcycle).
- Como e porque começou a praticar o handcycling? Para os nossos leitores que desconhecem esta modalidade, pode descrever-nos em que consiste?
R: Iniciei o handcycling em 2009, quando fui convidado a participar no programa regional de desporto adaptado em Faro ‘’Pedalar pela igualdade’’. O handcycling é uma modalidade destinada a pessoas com dificuldades na mobilidade dos membros inferiores. É um enquadramento das funcionalidades de uma bicicleta normal, com apenas uma diferença, pois trata-se de modelos em que a pessoa vai numa posição sentada ou deitada com as pernas esticadas para a frente e a sua locomoção é feita com a acção dos braços em simultâneo.
- O calendário competitivo nacional é constituído por um muito escasso número de provas e o número de praticantes também não é muito elevado. São essas as razões que o levam a participar, também, em provas no estrangeiro?
R: Não, pelo contrario. Em 2011, quando iniciei a competição no handcycling em Portugal e ao vencer a corrida da 1.ª Edição de Jogos de Portugal 2011 Coimbra, ganhei mais ambição para a divulgação desta modalidade, com a finalidade de ter mais atletas nas competições. E, uma vez que estive presente em provas internacionais, ganhei experiência e mais força em querer ter mais praticantes neste desporto, pelo que já consegui passar o gosto por pedalar a mais três pessoas no Algarve.
- No exterior, a generalidade dos atletas são profissionais, ao contrário do André. Qual é a sua profissão? Como é que arranja tempo para treinar?
R: Neste momento, estou desempenhando funções na Parasport, o que me permite ter disponibilidade para treinar. No entanto, acabo por não ter rendimentos suficientes para proseguir com a construção de uma vida estável financeiramente. Daí vem a necessidade de procurar mais apoios\patrocinadores.
- Relate-nos como é, em termos desportivos, uma semana da sua vida?
R: Um dia a dia dedicado ao desporto, uma vez que tenho treinos controlados, faço uma gestão entre treino de estrada, treino indoor, ginásio, piscina e sessões de fisioterapia.
- As “bicicletas” para o handcycling não são baratas. Como é que suporta as despesas com a sua aquisição e manutenção? Que tipo de apoios (públicos ou privados) tem recebido?
R: São mesmo muito caras. Eu adquiri a minha em segunda mão, que já tem mais de 5anos de uso! Uma vez que tenho conhecimentos de mecânica, sou eu que faço a manutenção, e tenho conseguido contornar as avarias do material. Dai, actualmente, procurar entidades que me possam ajudar na aquisição de uma nova handcycling de competição, que custa cerca € 10.000 (sem contar com acessórios de topo como rodas de carbon entre outros) o que resolvia muito dos meus problemas técnicos, inclusive aumentaria a minha performance na competição.
- Tem representado Portugal em diversas provas internacionais. Até ao momento, quais foram os seus principais resultados?
R: Representei Portugal na Taça do Mundo em Segóvia 2012, obtendo o 10.º lugar.
- Ambiciona participar nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Em que prova(s) deseja participar? Como é feito o apuramento para essa competição?
R: Sim, sem dúvida, um dos meus grandes objectivos é conseguir a qualificação. Este ano, em Junho, gostava de participar na Taça do Mundo Segóvia. E, para os próximos três anos, estar presente nas Taças do Mundo em Itália, Espanha e Canadá. Só os 10 primeiros lugares garantem pontuação para o apuramento.
- Na sua opinião, o que é que necessita, para melhorar a sua preparação e, consequentemente, melhorar as suas prestações competitivas?
R: A principal é a falta de apoio financeiro para deslocações a corridas no estrangeiro. A outra é, sem dúvida, a falta de uma handcycling de competição nova e equipamento técnico, para que possa evoluir como atleta.
- Exceptuando a vertente física, o André é, hoje, uma pessoa diferente do que era antes do seu acidente? Se sim, o que é que mudou?
R: Sou tal e qual como sempre fui, uma pessoa alegre, divertida e sempre pronto para mais aventura.
- Que mensagem quer deixar a quem lê esta entrevista?
R: Vou aproveitar para deixar dois apelos. O primeiro aos automobilistas algarvios e visitantes que tenham uma maior abertura para o desporto na deficiência e que tenham mais cuidado quando circulam nas estradas do barlavento, pois a postura da minha bicicleta é deitada e oferece pouca visibilidade. Por isso, faço-me acompanhar de uma bandeira de sinalização presa a handcycle e luzes reflectoras.
O segundo é que necessito, aproximadamente, de € 10.000 para adquirir uma nova handbike de competição mais leve e material técnico específico, para que fiquem reunidas as condições necessárias para a minha evolução como atleta internacional de para-ciclismo.
Como tal deixo o meu contacto, para que empresa\entidades interessadas possam contribuir na aquisição deste material.
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