5…4…3…2…1…Pum! Libertação para os orientistas, susto na passarada!
Tradições enraizadas e costumes de bom gosto são sempre de manter e assim sendo, a decisão conjunta do RA 4 e COC de fazerem voltar tudo à primeira forma, é de aplaudir. Eu, que liderei activamente o movimento cívico “Soltem os orientistas a tiro de G3”, não posso deixar de me sentir plenamente satisfeito, pelo facto de o XI Grande Prémio RA4 em Vieira de Leiria, após o interregno de um ano, ser novamente caracterizado por uma espectacular partida em massa, ao soar do tiro de arma de guerra em tempo de paz.
No entanto, devo-me penitenciar por ter falhado uma antiga promessa, feita precisamente num destes meus escritos há cerca de dois anos (“E a praia ali tão perto”), quando abordava a prova realizada na Praia das Paredes. Nessa altura, empolgado por uma partida de “tudo ao molho e fé em Deus”, tinha prometido que numa próxima situação idêntica, iria assistir “de cadeira” a este belo momento de cor e movimento e só depois me incorporaria na prova. Pecador me confesso, “sou um pagador de promessas mal sucedido”.
Realmente não fui capaz de me alhear do espírito competitivo do evento, e na hora do tiro que abria as hostilidades, encontrava-me no seio da multidão de concorrentes (trezentos e tal) que aguardavam impacientemente por esse estrondoso segundo, que nos franqueasse as portas da floresta, para darmos início a uma motivante “massada”. Julgo que me perdoam este incumprimento e até que o compreendem – a paixão e a adrenalina falaram mais alto!
“Depois de teres faltado à palavra, espero que pelo menos tenhas realizado uma prova decente” – não me consigo libertar da “vozinha” maçadora – “queres encher-me de complexos de culpa, queres?”
Estão “carecas” de saber da minha predilecção por terrenos de pinhal e duna, portanto não vão estranhar se eu não vos apresentar aqui um relambório de lamúrias. A realidade é que este género de prova tem o reverso da medalha, que assenta no pressuposto de grupos de atletas do mesmo escalão serem confrontados com igual percurso, não obstante a existência de três “loops”, que desde logo implicava seis combinações diferentes.
Claro que os mais expeditos da perna e de escrúpulo mais fraco, embarcaram em “expressos” sobrelotados, que de alguma maneira podiam desvirtuar a verdade desportiva. Mas isso são contas de outro rosário, que pessoalmente não me aquece nem arrefece. A minha preocupação centrava-se no conveniente desfolhar das “pétalas” dos meus “loops” e tentar desbravar os 7.200 metros, o mais célere que as minhas estafadas pernas me permitissem.
A primeira volta, com cerca de 2.300 metros, arrancava com a pernada mais longa da etapa (800 mts), que deveria ser alvo de algum cuidado, porque caso contrário começaria cedo a ser penalizado (perdi “só” três minutos para o vencedor). Acabei por realizar o “loop” inicial, com seis pontos, em satisfatórios vinte minutos. Os vários caminhos, largos aceiros e as bem pronunciadas curvas de nível deram-me uma preciosa ajuda, de modo a não cometer grandes asneiras.
No “loop” seguinte, foi notório o aumento tanto da exigência técnica como física, apresentando mais 400 metros para percorrer e mais dois prismas a controlar, com um ou outro ponto mais escondido (a vegetação do 136 quase o camuflava definitivamente aos olhos do “espécie”), a que se juntava um par de pernadas com demasiada metragem, mas que foram bem esgalhadas. Não obstante o acréscimo de dificuldades, no cômputo geral continuei em plano aceitável, gastando pouco mais de uma trintena de minutos, não me desmoralizando o pormenor, de na viragem do “loop” me ter apercebido, que dois “ventoinhas” do meu grupo etário já estavam refastelados no bar, hehe! (veteranos no BI, adolescentes na corrida)
Faltava desfolhar a última “pétala”, que sendo a menos extensa, era igualmente a que aparentava menor complexidade técnica, mas os vinte e cinco minutos que demorei a procurar as suas reentrâncias e depressões, não foram de maneira nenhuma, marca de que me possa envaidecer. Atendendo a que não cometi nenhum atropelo técnico relevante, a única explicação que descortino, para justificar um registo mais preguiçoso que os anteriores, tem a ver com o desgaste físico que fui acumulando, que quase sem me aperceber, me foi baixando o ritmo para um nível de “arrastador de galhos” (e se eles eram aos milhares). O enganador ondulado do terreno, originou um demolidor rompe-pernas, que me impediu na fase final, de efectuar uma prova com resultado mais condizente com o rigor técnico demonstrado.
Ao concluir a etapa, sentia-me confortável com a generalidade da minha prestação, mas ao constatar a quantidade de parceiros que se encontravam junto à meta (alguns já cheiravam a sabonete!), esfriei de imediato os ânimos, porque não me podia esquecer que tínhamos partido em simultâneo. Contudo, para minha surpresa (agradável por sinal), os companheiros de escalão continuavam a chegar, o que desde logo se traduzia, que por cada um que terminava, significaria mais um a proteger-me as costas na tabela classificativa. Afinal vim a confirmar, que a partida em massa à moda de Vieira caiu mal a muita gente, mas nada que uns reconfortantes sais de fruto não resolvam (aqui em casa, a minha mulher esgotou o stock, hehe).
Quero pedir desculpas àqueles mais distraídos, que ao lerem tão sugestivo título “gastronómico”, aguardavam com excesso salivar, que eu lhes fornecesse uma esplêndida receita de algum pitéu regional, não lhes passando pela ideia que poderiam estar perante mais uma “traição” da língua portuguesa.