Andava mortinho por poder descarregar o meu SI, surripiar um mapa, desorientar a bússola e enfiar as solas por uma floresta adentro. Tudo bem contado, foram cinquenta e quatro dias de sofrimento (há quem lhe chame defeso), desde a última prova em…em…já nem me lembro. A oportunidade de dar início à nova época apareceu com a prova aberta de Pedreanes e um Ori-Show no parque da Marinha Grande, etapas que compunham o Relay Event, competição de estafetas a realizar no dia seguinte em Vieira de Leiria, numa iniciativa do COC.
Há umas semanas atrás, tinha começado a fazer umas corridas para tentar compor o físico, em jeito de preparação para as competições que se avizinham, por isso estava convencido que iria reagir bem melhor às pesadas sensações da “rentrée”. Pensava eu que só tinha de pôr a técnica em dia, porque a parte física já estaria mais equilibrada. Puro engano e eis-me perante o primeiro equívoco da nova época. Escolhi participar no percurso Longo/Difícil, que só apresentava 6.300 metros e uns fraquinhos 120 de desnível. “E os 29 controlos? Não contam?” – chamada de atenção que a minha “consciência” deixou passar em claro.
Tinha percorrido aquele mapa pouco antes do WMOC, com resultado satisfatório, portanto agora seria o treino ideal para sacudir as teias de aranha da vertente técnica. Com tanta quantidade de pontos não seria de esperar grandes facilidades técnicas, até porque este terreno, rico em pormenores de relevo, vinha mesmo a calhar para o pessoal da Elite rolar, mas não raciocinei assim e aguentei com um valente “treino”.
Os níveis de ansiedade estavam de tal maneira elevados, que entrei no mapa com demasiada voluntariedade e quase sem dar por isso, a primeira baliza “escondeu-se” na sua reentrância. Ou seja, corri e saltei pela floresta todo excitado, qual adolescente (como uma primeira vez se tratasse), “esquecendo” por completo que a escala 10.000 representa por cada centímetro cem metros e não “mil”, tamanha foi a impetuosidade da arrancada inicial. “Deixai-o correr que ele está tão feliz!” – desabafo dos meus neurónios “espécies” para os “orientistas”.
Julgo não ser necessário acrescentar mais detalhes. Enquanto tive forças, corri demais e pontos de menos, que me obrigou a um desgaste completamente gratuito. A máxima do “depressa e bem há pouco quem”, assentou-me na perfeição, apesar de este equívoco ser recorrente nas minhas prestações.
Tenho de levantar as mãos ao céu por apenas me ter atascado uns breves momentos, porque ai de mim se me tivesse perdido! Agora como é “expressamente proibido” confraternizar na mata (chiu! nem um ligeiro sussurro), não poderia solicitar ajuda a nenhum companheiro, teria mesmo de desistir ou aguardar que me viessem resgatar ao meio da floresta (seria uma emoção). Ando a matutar se a linguagem gestual também será penalizada. Perdoem-me os “irredutíveis” defensores dos regulamentos, mas parecem-me tiques de orientista nórdico, não nos roubem a nossa “latinidade”. Somos “palradores” por excelência e adoramos agir em equipa…pronto! Claro que todos conhecemos as normas, mas se elas se fizeram para infringir, qual o problema? (os “colas” dar-me-ão razão com certeza, hehe). Desculpem a franqueza, não resisti a meter uma “colherada” neste assunto, mas juro que vou “progredir” caladinho que nem rato – palavra de “espécie”.
Após o “estouro”, por volta dos pontos 18/19, senti uma “faniqueira” física (fome e sede angustiantes), que não me coibiu de continuar, mas obrigou a que as restantes pernadas fossem realizadas em câmara lenta. O interessante é que neste ritmo de “berdadeiro beteráno” (soue um home do nuorte c…! hehe), os prismas não me deram mais consumições, mesmo tendo em conta que o ponto verde do mapa relativo ao“127”, no terreno não passava dum arbusto isolado do tamanho dum vaso (deve ter sido aparado, hehe). Querem ver que tenho de efectuar as provas a passo?
Não obstante ter lidado de forma deficiente com os velhos equívocos do “espécie”, a prova resultou num treino e peras! A intensidade e aplicação foram de tal ordem, que consegui arranjar uma quantidade de bolhas (ou terei apertado mal as sapatilhas?), mas o tempo final, esse… foi a modos que para o vergonhoso.
Com os pés doridos e uma fadiga exasperante, tive algum receio de não estar em condições de participar na etapa da tarde: o agradável e sempre vertiginoso Micro-Sprint. Se tinha esgotado as minhas corridas de manhã, como poderia sprintar à tarde? Já ouviram dizer que “querer é poder”? Pois se assim é, ingeri duas pastilhas de férrea vontade e lá marquei presença na brincadeira.
Esta variante da orientação, que congrega para além da competição, um aspecto promocional da modalidade, origina invariavelmente uma certa efervescência nos atletas que participam e sobretudo cria curiosidade a todos os que assistem àqueles sprints espectaculares. Pena é, que o público em geral não perceba, que não somos uns tolinhos que andamos ali a correr sem qualquer nexo, mas sim que estão perante uma espécie rara de pombos-correio (irrequietos quanto baste, nunca se perdem, raramente se cansam, odeiam “comboios” e não perguntam nada a ninguém).
A prova consistiu em duas mangas de um quilómetro, que nos levou a calcorrear o parque em aceleração máxima (4 minutos para os primeiros), controlando cerca de trinta pontos sem código, em percursos ziguezagueantes, se possível sem falhas, dado que cada erro penalizava 30 segundos. Os menos velozes e os mais desconcentrados foram sendo eliminados. No final pontuaram os craques, mas quem esteve ao melhor nível foram as “comadres” do Gafanhoeira, que nos ofereceram um autêntico show. Muito me engano ou este clube alentejano vai ser a afirmação da nova temporada.
Para primeiro treino técnico da época, nem estive mal…nem bem, digamos que foi um comportamento do género “vira o disco e toca o mesmo”.