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Longa e dura distância

Longa e dura é a distância,
Que me obriga a penar.
Frustrando a minha ânsia,
As pernas recusaram andar.

Na simplicidade destas quatro linhas, ao melhor estilo de “Tóno Rimas”, traduzo fielmente o sentimento da minha modesta (mas “mui” digna) participação no Campeonato Nacional de Distância Longa, que se desenrolou no coração da Serra da Cabreira, da responsabilidade dos exigentes minhotos .COM.

O dia nem começou sob os melhores auspícios, pois ao chegarmos à zona da Arena, constatamos que o incêndio que já vínhamos a observar quilómetros atrás, lavrava com alguma intensidade, mesmo na vizinhança da área de competição. Valeu o forte vento que se fazia sentir não ter alterado de quadrante e uns refrescantes 5º de temperatura, terem fornecido uma óptima ajuda aos bombeiros, não sem antes terem assustado as hostes orientistas, que vigiavam com alguma preocupação a evolução das chamas. Durante uns momentos pairou a hipótese duma rápida evacuação; quinhentas pessoas no meio de nenhures, não pressupunha tarefa logística fácil de realizar.

Para bem do evento, lá se esfumou o meu sonho de “bombeiro por um dia”, dando azo a outro objectivo pessoal, o de orientista durante 1.53,46! (hehe). Acham uma infinidade de tempo? Também me pareceu, mas só até analisar o comportamento dos restantes companheiros.

Nestas alturas sinto que necessitava de outra capacidade física, para poder ombrear um pouco melhor com a adversidade do terreno. Não é que não tivesse cometido alguns atropelos técnicos (deixaria de ser o verdadeiro “espécie”), mas perante prova de especial dureza, não são um ou dois minutos em cada ponto, que me farão diferença. O grande problema são as super-pernadas, onde o pessoal voa literalmente e eu não passo de um “arrastador de solas”.

A etapa apresentava 7.000 metros e 17 controlos, o que à primeira vista nem configurava grande obstáculo, mas se tomarmos em devida conta os quase 300 metros de desnível e as condições agrestes do terreno, os trabalhos que me esperavam iriam ser bem árduos. Os amigos do .COM ainda não satisfeitos, conceberam uma pré-partida a 1.250 metros (já se tornou um hábito), no intuito da malta ir aquecendo os “motores”. Com temperatura tão baixa até seria aconselhável, mas para o “espécie” não passou duma pernada para desgastar o corpinho. Uff! Ainda não tinha partido e já estava a bufar por quantas tinha.

O desnível deu logo um ar da sua graça para o primeiro ponto. Uma rampa com inclinação suficiente para me derreter as energias, mas que não foi capaz de me baixar os níveis de ansiedade, que teimosamente me acompanham. Pela enésima vez entro no mapa com o pé esquerdo (eu que até sou dextro). Oriento-me para o ponto 1, mas na sinalética li o código e o elemento característico do 2. Ora, um situava-se numa pacífica reentrância (o primeiro), o outro seria uma escarpa danada. Se eu queria umas pedras, nem passei cartão ao prisma que me dizia respeito, apesar de ter passado por ele, quando procurava a tal escarpa “fantasma”. Com este ataque de palermice devo ter esbanjado três preciosos minutos (uma vergonha!).

O segundo ponto situava-se no outro lado do mapa. Isto é, uma longuíssima pernada de quilómetro e meio, mas cujas opções nos levavam a percorrer mais umas centenas de metros. Escolhi a que me pareceu melhor solução, mas deparei com uma progressão de “montanhista”, dado que metade do percurso era a subir…subir…subir.

Do mal, o menos, noventa por cento do desnível acumulado estava cumprido. Sem qualquer pastanço ou hesitação, demorei uns intermináveis vinte minutos, que surpreendentemente me vim a aperceber no final, ter sido uma prestação mediana. Julguei que ninguém faria pior mas felizmente enganei-me (continuo com uma falta de confiança que até dói). Claro que os meus craques deram-me uma sova mestra, mas isso são contas de outro rosário. O que eu vou chorando para correr mais um bocadinho, mas o “mister” anda a fornecer-me uns treinos demasiado puxados, hehehe!

De modo a não me acontecer as debilidades de situações anteriores, fui ingerindo água em todos os pontos que fui encontrando (uma data deles), mas apesar de não me sentir mal, o ritmo que ia imprimindo nas progressões mais rápidas, não era de modo nenhum a me deixar satisfeito. Tinha a percepção que necessitava de mais gás, mas o meu depósito não dava para mais e a água definitivamente não era gaseificada.

Efectuei umas três ou quatro pernadas, por zonas espectaculares de floresta limpa, com variados limites de vegetação, linhas de água e bastantes pormenores de relevo, sem faltar umas “pedrolas” dispersas, colocando à prova os nossos conhecimentos técnicos, o que me deu um gozo dos diabos, pois fui batendo nas balizas à primeira (é um êxtase!).

Entretanto surge mais uma daquelas pernadas malucas (6/7), para papar quilómetros, que me obrigou a análise aprofundada do mapa, de modo a evitar alguma progressão menos ortodoxa. Decidi seguir pelo estradão e segundo os splits, parece que acertei. Embora tivesse de correr largo período contra o vento, em zona desabrigada, a minha envergadura anafada, que tantas vezes me prejudica, neste percurso deu um certo jeito e cortei os revoltos ares, qual espécie de “Bip-Bip” (bom…mais ou menos, hehe).

O ponto 7, na escarpa de um ribeiro, deu início a um quarteto de balizas colocadas na encosta de uma colina, basicamente na mesma curva de nível, obrigando a uma progressão lenta, com constantes desvios motivados por vegetação densa e uns quantos montículos rochosos. Se a prova, pela sua dureza, já me estava a pesar, nesta zona arranjei mais sarna para me coçar. Um grupo de pontos de cariz mais técnico, num cenário que não me é nada favorável – “pedrolas” embrulhadas em vegetação.

Tentei seguir a curva de nível o melhor possível, mas desvio por cima, contorno por baixo, motivados pelo aparecimento de pontos alheios (uma maldade do traçador que eu já não esperava) fez-me delapidar uma boa mão cheia de minutos e desgastando-me seriamente para a parte final.

Quando emergi da zona florestal, reanimado por uma providencial “barrinha”, ainda tinha pela frente mais cinco prismas para controlar, mas depois das agruras anteriores, esta área aberta apesar de carregada de montes graníticos e batida por vento arrepiante, pareceu-me um autêntico doce. O que não se revelou pêra doce, foi o facto de ter enterrado as canelas na “armadilha” lamacenta do ponto 14 (com bois tão perto, não sei se seria só lama, nhac!), que me deixou de tal forma desconfortável e pesado, que me forçou a “mergulhar” no riacho para uma lavagem que me tornasse mais levezinho e higiénico (se mais alguém tiver atascado neste “pântano” que levante o braço, hehe!).

Não obstante a dificuldade da prova, estou convicto que foi uma jornada do agrado da maioria, pois não tenho dúvidas que este género de terreno é o éden dos verdadeiros orientistas – altamente técnico e duro quanto baste – opinião que Maria Sá e Diogo Miguel podem corroborar, ou não sejam eles os novos campeões nacionais da distância. 

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segunda-feira, 9 de dezembro de 2024 – 04:22:43

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