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Corre, corre, orientista…corre (I)

Desta vez não. Não aceito, nem consigo entender que alguém faça qualquer crítica acintosa à Organização do Troféu de Coruche, da responsabilidade do Clube de Orientação e Aventura.

Foi por demais evidente, que os elementos do COA envidaram todos os esforços para nos proporcionarem um fim-de-semana fantástico. Não adoraram o magnífico cenário da praia fluvial do Açude da Agolada? As condições da arena, com estacionamentos, secretariado, chegadas e partidas, tudo concentrado, não se apresentaram impecáveis? Os terrenos não foram do agrado geral? A canja e as bifanas não se encontravam bem condimentadas? Então façam o favor de lhes endereçarem o vosso agradecimento. È certo que um ou outro pormenor teve tratamento menos cuidado, mas não causou grande impacto no normal desenrolar da competição. Permitam-me utilizar uma terminologia tão em voga – a “avaliação do desempenho” da Organização foi excelente (hehe).

Iniciei o texto desta maneira, no intuito de salvaguardar a minha posição, pois se porventura alguém teria razões para se queixar, só poderia ser mesmo o “espécie de orientista”. E já vão saber porquê.

A etapa de sábado, traçada sobre distância longa, em terreno com características de montado alentejano, previa para o meu escalão cerca de 7.000 metros, com um desnível a rondar os 200. Ora, toda a gente sabe, que este género de terreno é de fácil progressão, e se juntarmos o facto de ser uma área completamente rasgada de caminhos e trilhos, o resultado estava à vista: verdadeiro corta mato para velocistas!

Julgo que começam a perceber o meu problema – era necessário correr, correr…e muito. E nem por sombras, sonhar com atascanços! As decisões teriam de ser rápidas e correctas. Como ainda continuo numa fase de aprendizagem à corrida, isto é, ando a tentar aprender a correr, porque jamais irei conseguir aprender a gostar de correr (não nesta idade), as perspectivas não se apresentavam muito animadoras. Desconfio que alguém cometeu uma inconfidência junto do traçador, no sentido de que o “espécie” anda a fazer umas corridas e vai daí…pimba…toma lá com um sprint encapotado de distância longa, que é para treinares (que mania de me perseguirem).

A abrir as hostilidades (cerca de mil metros, em linha recta!), opto por um azimute, galgo toda aquela área aberta o melhor que pude e acerto no ponto sem dificuldade. Mas, ainda não o tinha picado, sinto um restolhar nos calcanhares e quase sou atropelado pelo companheiro Antunes, que tinha saído dois minutos depois. - “Já estás aí?” – Que raio de progressão foi a minha? Seria motivo para desmoralizar, se um não fosse um dos ases do escalão e o outro, um simples “espécie”.

No final, fiquei a saber que o Rui escolheu seguir pelos caminhos, percorrendo mais uns metros, mas que se revelaram compensadores (mais uma lição). São as tais opções que me dão cabo da cabeça. Se tivesse optado pelos caminhos, tenho a certeza que a decisão correcta seria o azimute. Sou sempre “preso por ter cão e por não ter”. Os minutos perdidos neste trajecto não tinham grande relevância, dado que ainda haveria de perder para ele mais dezoito! Pertencemos ao mesmo escalão, mas não ao mesmo “campeonato” (hehe).

Este episódio teve o condão de me colocar em alerta máximo. Tinha de correr no limite das minhas capacidades, apelar ao meu espírito de sacrifício, porque o contrário significaria uma catástrofe classificativa. Quando me meto em andamentos mais ligeiros, surgem de imediato os comportamentos algo atabalhoados. Na progressão para a baliza 4, ao desviar-me repetidas vezes da incómoda vegetação rasteira, fui fugindo do azimute (e do mapa), afastando-me irremediavelmente do ponto. Acabei por apanhar um caminho, para percorrer os 200 metros em falta, que não foi o suficiente para me impedir de perder mais de cinco minutos para a maioria da rapaziada. Mas continuava a correr…mal, mas corria…que remédio tinha eu. Senão como poderia transpor os extensos 1.100 metros para o ponto 6 sem grandes perdas?

Nesta pernada, a progressão ideal aconselhava a atravessar uma quantidade enorme de caminhos, só que com a preocupação da corrida e o aparecimento de vários trilhos de tractores, perdi o fio à meada e a dada altura, fiquei sem saber em que caminho me encontrava. Onde parava o meu anjo da guarda?...Apareceu a minha mulher que é a mesma coisa, hehe.

Uops!!! Havia um obstáculo, não poderíamos comunicar – o “silêncio é sagrado”. Qual a atitude a tomar? O nosso curso intensivo por correspondência, de linguagem gestual, está atrasado. Que volta poderíamos dar à situação, sem infringirmos a lei? Arranjamos a solução possível. Como somos um casal, ninguém levaria a mal, que eu lhe sussurrasse ao ouvido a minha “aflição” e ela por sua vez, me confortasse com o segredo “apropriado”. Afinal de contas até estava bem orientado, mas estes “mimos” sempre elevam o moral.

De seguida, controlei meia dúzia de pontos de baixa dificuldade técnica, porque por mais complicada que fosse a sua localização, os caminhos que por ali abundavam, facilitavam imenso a nossa tarefa. Depois de tanta corrida e quando já seguia em ritmo mais moderado, sou surpreendido com uma super-pernada para o ponto 14 (1.200 metros bem medidos), com a infeliz particularidade de se poder efectuar por caminhos (uma violência para o “espécie”).

Foi a loucura geral! Era vê-los sprintar todos satisfeitos em dura passada, fazendo levantar o pó do estradão, pois a passagem pelo açude (500 metros) sendo comum a todos os escalões, gerou um caótico engarrafamento. Respirei fundo e segui naquela enorme coluna, fazendo das tripas coração, incentivado pela vozinha da minha consciência, que me gritava incessantemente – “corre, corre, Luís…corre”.

Ao penetrarmos na zona sul da represa, onde se localizavam os pontos finais da totalidade dos percursos, fomos confrontados com um terreno completamente diferente e de outro nível técnico, mas apenas controlámos duas balizas na vizinhança da arena. No dia seguinte, teríamos oportunidade de explorar e usufruir da restante área.

Apesar de ter a percepção de que efectuei uma prova, quase isenta de erros técnicos, não esperava grandes resultados, atendendo à rapidez com que a etapa foi percorrida, mesmo tendo em conta que 67 minutos para os 6.900 metros não serem de deitar fora! Qual não foi o meu espanto, quando me apercebo que esse tempo me atirou para uma das melhores classificações da já célebre carreira do “espécie”. Assim, retiro o que disse, porque ainda me arrisco a aprender a gostar de correr. 

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segunda-feira, 9 de dezembro de 2024 – 04:11:00

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