Confesso que quando me apercebi da denominação desta prova, pensei cá com os meus botões “o que é isto de park tour?”. Depois fiquei a saber que íamos dar uma volta pelo concelho de Matosinhos. Ok! Compreendi, era francês (sou mais para o anglo-saxónico).
Quatro etapas em parque/urbano, no mesmo dia, era um plano arrojado, o que desde logo me fez criar alguma expectativa quanto ao resultado final desta ambiciosa viagem (ou seria voyage?). Pôr de pé toda aquela estrutura organizativa, terá sido um verdadeiro “trabalho de Hércules”, mas a “máquina” bem oleada do GD4C funcionou na perfeição.
Foi um dia de autêntico frenesim, que para mim teve um cariz de “tourné”, de tal modo pude espalhar por terras vareiras, o perfume inconfundível do espécie de orientista (atendendo ao que suei, bem…).
Estas provas que também contam para o Desporto Escolar, são uma confusão quase a roçar o caos, mas também dão uma alegria, um movimento, um ambiente de festa e transmitem uma energia, que para ser suportável basta uns pozinhos de paciência e um ou outro “tabefe”. Digo mais, prefiro uma prova de quatrocentos atletas com a algazarra dos miúdos, do que sentir aquela sensação de solidão, nas provas em que só aparecem umas dezenas de “craques” (agora é que vou ser banido).
As etapas desenrolaram-se a um ritmo vertiginoso, o que em termos pessoais me veio a ser favorável (o meu fetiche pelos sprints). Não eram necessários grandes conhecimentos técnicos, mas sim uma boa dose de concentração e “pernas para que te quero”. Está bom de ver que para não passar vergonhas, tive de sofrer como um leão. Fui “desancado” sem dó nem piedade. Os cerca de 6400 metros que totalizavam os meus percursos, revelaram-se muito mais desgastantes, com o “pára arranca”, do que se tivessem sido percorridos duma assentada.
A prova de abertura, junto à autarquia matosinhense, deixou-me logo estarrecido ainda antes de se iniciar, quando dou conta dum ponto no meio do espelho de água. “Querem lá ver que vou ter de molhar as meias novas!”. Era um ponto de “mentirinha”. Não é que eu já não estivesse desconfiado, foi o cartão de visita da organização, gostei! Depois vieram os verdadeiros pontos e aí foi um constante vira para cá, torna para lá e vem novamente, que a dado passo, o quiosque central já me parecia ter mudado de local. Ao fim dos nove minutos, estava mais transpirado do que se tivesse ido comer umas “moelinhas à angolana” na tenda da gastronomia. Para meu desgosto nem tive oportunidade de lá “pôr o pé”, eram horas de seguir para a Quinta da Conceição (deuxième étape).
Etapa em zona de parque e pinhal, com algum desnível e bastantes pormenores, foi a minha preferida, sobretudo porque me correu bem (hehe). Mentira, as outras também correram. O local é que era mais propício à prática da orientação. Um mapa muito giro e um percurso traçado superiormente. Houve mp (ou “point oublié”) para todos os gostos, o que aqui para o rapaz, não deixou de ser um facto positivo, dado que não fui enganado pelo Élio Magalhães, o “arquitecto” daquele excelente e “armadilhado” traçado (gaba-te que na próxima já levas ).
No fim da segunda etapa, que coincidiu com a força do calor, nem me atrevi a sentar, para não terem de chamar os paramédicos para me levantarem, o que seria um vexame público para o espécie de orientista, e olhem que as partidas no Parque das Varas estavam situadas em local bem agradável, a convidar a uma boa soneca.
Porventura devia ter descansado antes das voltas ao Mosteiro, porque numa etapa tão curta, o mais pequeno lapso é “a morte do artista”. Foi só um miserável pontinho que me tirou as hipóteses de conseguir um percurso limpo, mas tinha de fazer jus ao título destas minhas “lamúrias”. O “espécie” atacou novamente. E o muro estava lá, o ponto14 é que era do lado de fora!!! Fora do contexto, devem-se ter achado os convivas do casamento, que entretanto saiu da igreja. Eles bem queriam tirar as fotos da praxe, mas o corrupio à sua volta nunca mais parava (naquele momento, só aquela cena me faria rir).
Depois fui a remoer sozinho até ao aparcamento, que ficava onde “Judas perdeu as botas” (valeu por mais uma etapa). E a fome que me começava a atrofiar? Fui salvo pelas “americanas” que entretanto tinha comprado no “Comezainas” (o excelente ponto da organização). O intervalo para a derradeira etapa, como dava mais tempo, foi aproveitado para retemperar forças e sossegar o estômago (mas não muito).
O percurso final, sendo o mais longo, e após três etapas nas pernas, apresentava-se como o mais exigente e como sói dizer-se “o rabo é o mais difícil de esfolar”. Continuou a haver uma saudável confusão nas partidas, mas a malta da organização, com maior ou menor dificuldade, lá conseguiu “empurrar” toda a gente para a prova.
O mapa do Carriçal, um misto de parque e urbano, é efectivamente um quebra-cabeças na zona das vivendas das Sete Bicas. Obrigaram-nos a um rodopio por ruas, ruelas, corredores, triângulos, sebe e jardinzinhos, que devemos ter feito tal alarido que os “guardas” da zona ficaram roucos de tanto ladrar. Tive alguma dificuldade a entrar no percurso, pois só ao fim do ponto 4 é que me apercebi, que a cor “deslavada” do mapa e que me estava a atrapalhar a visão, era apenas o efeito dos óculos de sol que me tinha esquecido de retirar (isto fica só para nós, não contem a ninguém). Por muito que me esforce, os episódios rocambolescos continuam a perseguir-me.
Se a etapa da manhã, no Basílio Teles, se tinha assemelhado a um “vira”, esta foi sem dúvida um valente “corridinho”. Justificou o final do “tour”, bem ao jeito das voltinhas aos “Champs Elysées”. Tudo está bem quando acaba bem, do género bola de carne com uma bem fresca salada de frutas.
E o dia seguinte? -“Ai que me dói tudo!” -“Alguém te fez mal?” -“Bem pelo contrário”.
Eu vou aparecendo (Je vais apparaître).