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Nova Experiência

Um dia destes, com tantas experiências que tenho levado a cabo, ainda me apelidam de “Professor Pardal”. E em que coisas novas (para além das tecnologias) é que um tipo já com idade para ter juízo se aventura?

Recordam-se de eu vos ter contado algumas das minhas visitas ao mundo das corridas? Comecei por participar nas caminhadas inseridas em eventos de Atletismo, mas percorrendo os percursos em ritmo de corrida. Cinco ou seis quilómetros eram normalmente a minha bitola, nunca me tendo abalançado para distâncias superiores. Um manifesto défice de coragem ou de estofo físico, aliado ao facto de nunca ter demonstrado qualquer gosto em correr, bem pelo contrário (com excepção de quando me chamam para a mesa).

No entanto, a minha entrada para as lides da Orientação implicou o repensar de algumas premissas e, quando me apercebo, estou a fazer corrida três vezes por semana, de modo a manter o físico preparado, face às exigências da paixão orientista. Até posso não gostar, mas obrigo-me a correr (também não aprecio cerveja, mas bebo uns goles…porque me alivia a alma). O mal que sabe pelo bem que faz, hehe!

Há uns dias atrás, pela primeira vez inscrevi-me numa prova de Atletismo (a tal corrida pelo ambiente), porque a distância não me amedrontou (os 6 km da praxe), mas agora dei mais um passinho e resolvi participar num evento de 8 km, da responsabilidade do Grupo de Atletas Veteranos de Estarreja – “Os Graves” – e mais uma vez juntamente com os “loucos” corredores, apesar de em simultâneo se realizar uma marcha de descompressão semanal.

Nada melhor para enquadrar esta nova experiência do que o agradável cenário da Reserva Ecológica dos Esteiros de Salreu. Percurso que eu já tinha o privilégio de conhecer, quando duma anterior jornada de pedestrianismo. A prova seria efectuada por entre o emaranhado de braços da ria, num estradão bem conservado, percorrendo imensas zonas de arrozais e caniçais, onde se poderia espreitar um ou outro sapal, ou num golpe de sorte, admirarmos o gracioso voo duma águia-sapeira ou dum milhafre-preto, enquanto nos chegava aos ouvidos o grasnar do colorido pato-real. Ambiente para desfrutar e não para uma fugitiva passagem.

Segundo o “speaker”, a distância do circuito ecológico (Bioria de sua graça) tinha sofrido uma correcção e teríamos de percorrer um pouco menos que os 8 km previstos, mais precisamente 7.755 metros (um pormenor que se regista). Para mim a dose de sofrimento seria idêntica, pois o calor fazia-se sentir com intensidade (26º) e se há alguma falha a apontar àquela zona é efectivamente a ausência de qualquer tipo de árvores de boa sombra.

Quando me dirigi ao local das inscrições, que se efectuavam até meia hora antes da partida, fui advertido – “ para a marcha é na fila ao lado” – mau…mau…quem lhe disse a ele que eu queria ir passear? O sujeito olhou para mim, tirou pela pinta e conjecturou “este cota está enganado, isto é para atletas”. Enganei-o bem! Mesmo contrariado lá inscreveu o casal da espécie de orientista na corrida, dizendo mal da vida dele, ao prever que teria de esperar por nós até à hora do almoço (enganou-se novamente, hehe). Somos uma espécie de desmancha-prazeres. Pelo menos a minha mulher deu-lhe uma alegria, pois passou a ser a única senhora concorrente.

Nem por sombras queria que alguém sonhasse que nos arvorávamos em lídimos representantes da nossa ilustre modalidade, porque provavelmente não iríamos “botar” figura e seria totalmente desprestigiante. Em boa hora surgiram umas caras conhecidas, para me aliviar de fardo tão pesado, dado que a família Miguel do Ori-Estarreja também marcava presença. Logo me aprestei a cumprimentar o Diogo e o Rafael, incentivando-os e esperando que eles dignificassem a Orientação com a sua prestação, já que da minha parte era impossível ter voto na matéria. O Diogo, como sempre um bom rapaz, fez-me a vontade, vencendo a prova de forma categórica (26`e qualquer coisa).

Quanto à minha nova experiência, estava convencido que “levaria a carta a Garcia”, mas não fazia ideia do quanto teria de suar para o conseguir. Apesar de ao fim de duzentos metros já me encontrar nos derradeiros lugares, pressenti que parti demasiado rápido para as minhas capacidades, ao tentar seguir um grupo que eu julgava ser o ideal. Avaliei mal o assunto e na passagem do primeiro quilómetro, encontrava-me orgulhosamente só, debaixo dum sol abrasador e com sérias dificuldades em adquirir um ritmo certo.

Como as placas quilométricas não “apareceram” todas, ainda senti mais problemas em dar com a cadência correcta. E assim, quando finalmente pude controlar o andamento, verifiquei que estava a rolar abaixo de 5`30, o que se traduzia num ritmo muito acima do previsto e deveras inconsciente. Só três quilómetros mais tarde voltei a ver novo indicador de distância, tendo reduzido substancialmente a passada para uma média de 5`58, que era mais condizente com o meu potencial.

Ao entrar no penúltimo quilómetro, pagando o esforço do devaneio inicial (e da falta de minis frescas), sofri uma quebra monumental, que me obrigou quase andar a passo durante umas centenas de metros, sobretudo a recuperar do desgaste provocado pelo calor, voltando um pouco adiante a imprimir um ritmo decente, realizando os últimos mil metros em 5`25, compondo de certa maneira os lentos 6`45 anteriores. Um final penoso meio trôpego, que ainda assim deu para ultrapassar dois companheiros mais jovens, com aspecto de estarem a sofrer bem mais do que eu. O cronómetro apresentou-me uns digníssimos 45`12, afastando alguns incompreensíveis receios da minha cabeça, podendo a partir de agora mentalizar-me para nova e aterradora fasquia – 10 Km (ui que medo!).

Não posso deixar de enaltecer o espírito de sacrifício da minha mulher, que tendo sido arrastada para me acompanhar neste novo ensaio atlético (factor moralizante), alcançou um curioso registo na casa dos cinquenta e um minutos, tendo terminado à frente de alguns retardatários, fazendo jus ao imponente troféu que a Organização simpaticamente lhe atribuiu.

PS: Se alguém ousar afirmar que este último parágrafo é fruto de implacável pressão doméstica, será imediatamente banido da minha agenda de aniversários. 

Periodicidade Diária

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024 – 15:55:07

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