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Filipe Albuquerque, o famoso piloto de Coimbra, começou a dar os seus primeiros passos no desporto motorizado com apenas 7 anos de idade, em 1993 no karting.
Cinco anos mais tarde já na Norma Team, foi Vice-Campeão e obteve também a Taça de Portugal.
Não fica despercebido aos olhares dos irmãos Nuno e Pedro Couceiro e em 2002 continua a sua carreira de kart em Itália, ficando em segundo lugar do Open Italiano e Vice-Campeão Europeu. Obviamente que os grandes construtores não conseguem ficar indiferentes ao talento deste jovem piloto. E contratam Filipe para piloto de fábrica na CRG em 2003 e 2004.
Em 2005 troca os karts pelos fórmulas como piloto da Redbull Junior Team, e no seu ano de estreia é o melhor Rookie nos 3 campeonatos em que compete. (Fórmula 3 Espanhola, Fórmula Renault 2.0 Eurocup e Fórmula Renault 2.0 Alemã). No ano seguinte ganha todos os campeonatos onde participou na Fórmula Renault 2.0.
Em 2007 integra a prova World Series by Renault 3.5, em que também dá cartas com alguns pódios e uma vitória. Ainda neste ano Filipe Albuquerque chega à Fórmula 1 como piloto de testes da Redbull Racing e da Toro Rosso.
No ano seguinte muda de campeonato, o A1GP, terminando em terceiro lugar.
A Audi Sport Itália vem buscá-lo em 2010 para o Campeonato Italiano de GT, obtendo o segundo lugar.
Em 2011 estreia-se no mítico campeonato alemão, DTM, como piloto oficial da Audi Sport sendo o primeiro português a subir a um pódio do DTM. Nesse ano entrou em paralelo na também mítica competição europeia Blancpain Sprint Series ficando no terceiro lugar da geral.
Com a Audi, participa em 2013 pela primeira vez nas 24h de Daytona em GTD e sobe ao mais alto lugar do pódio nesta famosa prova americana de resistência.
O ano de 2014 é um ano de viragem na carreira de Filipe Albuquerque, em que começa a deixar as provas de velocidade a solo, a que estava habituado, para se dedicar ao máximo às de resistência, nas quais tem vindo sempre a somar pontos. Nesse ano corre pela primeira vez na mítica prova francesa 24h de Le Mans com a Audi Sport Joest e ainda entra pela primeira vez no circuito de provas da ELMS (European Le Man Series) ficando na segunda posição.
2015 participa num misto de tipologias de provas, continuando a participação no ELMS com um terceiro lugar, faz o Campeonato Italiano de GT3 e o Campeonato de Resistência Blancpain Endurance Series.
No ano seguinte também corre em três diferentes Campeonatos com excelentes resultados em todos: segundo lugar no Campeonato Italiano de GT3, sobe ao primeiro lugar do pódio no Campeonato Norte Americano de Resistência (IMSA) e o segundo lugar no Campeonato do Mundo de Resistência (WEC) em LMP2.
Em 2017 compete novamente no IMSA e termina em segundo lugar no ELMS. Consegue até à data o melhor resultado nas 24h de Le Mans em LMP2 com o quarto lugar.
Em 2018 volta aos Estados Unidos para vencer as 24h de Daytona fazendo equipa com o também português João Barbosa.
O ano de 2020 foi um ano de ouro desportivamente, para este piloto, com um palmarés único, vencendo as 24h de Le Mans, Campeão do Mundo de Resistencia (WEC) em LMP2 e Campeão Euroepeu (ELMS.)
Este ano 2021 começa com firmeza vencendo as 24h de Daytona numa nova equipa trocando o volante do Cadillac nº5 para o Acura Wayne Taylor Racing, equipa com que Filipe Albuquerque fará o IMSA.
O piloto, em forma de reconhecimento a Nuno e Pedro Couceiro pela forma queinfluenciaram a sua carreira, ofereceu a Nuno Couceiro o valioso relógio obtido como vencedor nesta prova do campeonato americano.
Para 2021, Filipe Albuquerque está dedicado a dois campeonatos, ao IMSA como já referido, e ainda no WEC. Para já não vai participar no ELMS.
Nem só nas provas de automobilismo este piloto é premiado, tendo sido agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Mérito pelo Presidente da República, tornando-se assim o Comendador Filipe Albuquerque.
AMMA: Tem o seu primeiro contacto com o desporto motorizado aos 7 anos de idade nos karts. Foi influenciado por alguém, por ver algumas provas, ou começou casualmente?
Filipe Albuquerque: Fui influenciado pelo meu pai. Era um desporto que ele gostava e levou-me e ao meu irmão a experimentar. Nunca mais larguei...
AMMA: Como foi a sua transição dos karts para os Fórmulas, tendo em conta que são carros e ambientes completamente diferentes?
FA: No inicio foi uma transição difícil porque era muito diferente mas depois compreendendo como tudo funcionava, adaptei-me bem e a cada corrida ficava mais confortável e confiante.
AMMA: Numa altura conjuga o DTM e o Blancpain Sprint Series. Qual deles foi o mais desafiante e em que aspecto?
FA: O DTM sem dúvida. Era um campeonato muito competitivo, com pilotos muito rápidos e experientes e com construtores envolvidos. Vencer era realmente complicado.
AMMA: Como foi a sua participação no Campeonato Italiano de GT3? Tem algum facto curioso nessa fase da sua competição?
FA: Adorei correr com a Audi Itália, aliás, ainda hoje tenho uma relação próxima com a equipa. Apesar de não ser o campeonato mais difícil de GT’s é muito competitivo com pistas espetaculares cheias de tradição. Um facto curioso é que havia uma tendência a favorecer as marcas Italianas como por exemplo a Ferrari do que outras, infelizmente para mim, eu corria com uma marca alemã, a Audi. Ahahah! (Mas se calhar sou eu que via dessa maneira.)
AMMA: Dos campeonatos como piloto a solo, qual foi o mais desafiante e lhe deu mais prazer fazer?
FA: Todos foram interessantes cada um no seu tempo. A Formula Renault foi um marco na minha carreira mas o A1GP também e o DTM também. Todos tiveram o seu tempo e o seu cariz de desafiante, mas se tivesse de dizer a que gostei mais foi sem duvida o A1GP.
AMMA: Como surge a oportunidade de entrar nas provas resistência?
FA: Foi um passo natural. Sempre gostei muito de acompanhar as provas de resistência. E depois de não conseguir chegar à F1, aquilo que mais me atraía eram este tipo de provas. E por isso foi um caminho natural até lá chegar.
AMMA: Fez-lhe alguma diferença no início de conduzir numa equipa de resistência em vez de competir a solo? De qual gosta mais e acha mais desafiante?
FA: Todas as corridas são desafiantes. Numa fase inicial foi estranho ter que comprometer a minha posição de condução porque teria que partilhar o mesmo carro com outro piloto que gostava de coisas diferentes. Mas uma vez que comecei a compreender o espirito de equipa, de partilha constante de coisas que nunca tinha partilhado com ninguém, como por exemplo, como fazer certas curvas, adorei. Hoje acho que sou um piloto bastante completo porque entende perfeitamente os dois tipos de corrida. A solo e em equipa.
AMMA: Em que aspecto é gerida a cumplicidade com os seus parceiros de equipa? É quase uma relação de irmãos a lutar pela victória?
FA: Sem dúvida. Um por todos, todos por um. Tem que ser este o espirito nas derrotas e nas vitórias.
AMMA: Como funcionam as comunicações entre o piloto na pista e a equipa durante a corrida?
FA: Funcionam através de rádio e são muito importantes para quem está dentro do carro e nas boxes. Há uma troca de informação constante importante para que a corrida decorra o melhor possível.
AMMA: Numa prova de 24h como é que gerem o descanso, concentração para pegar no carro de seguida ou acompanhar os colegas que estão na pista pelos meios digitais à vossa disposição? Que prioridades tem que estabelecer?
FA: Em corridas de 24h tem que se privilegiar o descanso. Se não estiver bem física e mentalmente não vou conseguir dar o melhor em pista. Faz parte do jogo!
AMMA: É estratégico ter o Filipe no último stint?
FA:Pode ser. Depende de como está a corrida. Cada piloto tem as suas características e consoante o decorrer da prova a estratégia pode mudar. Como lido bem com a pressão não me importo nada de fazer o ultimo 'stint' mesmo quando sei que poderá ser decisivo. É essa adrenalina que nos move.
AMMA: Consegue estudar o comportamento dos adversários na pista? Sabe qual é o piloto está a dirigir naquele momento o carro à sua frente ou atrás de si só pelo seu estilo de condução?
FA: É aí que entram as comunicações via rádio com as boxes! Mas sim, conheço todos os pilotos e sei como cada um pensa e reage em diferentes fases da corrida.
AMMA: O facto de ter carros em pista de várias categorias, os menos potentes que os vossos, de alguma forma atrapalham a vossa prestação ou simplesmente fazem parte do jogo?
FA: É um conjunto e temos de saber lidar com isso, mas tanto fazem parte da competição como em certas alturas atrapalham bastante...
AMMA: Em que aspectos o estilo de condução de Gentlemen Drivers pode comprometer o título a uma equipa profissional?
FA:As regras são iguais para todos por isso faz parte igualmente do jogo. Cabe-me a mim e a minha equipa, acompanhar o mais que pudermos o Gentleman no nosso carro, porque atualmente, ganha quem fizer menos erros.
AMMA: O que lhe provoca mais pressão na pista?
FA: Fico mais pressionado quando estou fora da pista a ver os meus companheiros do que dentro do carro. Quando estou ao volante a pressão é simplesmente fazer o meu melhor.
AMMA: Como é a preparação física e psicológica de um piloto de Endurance? As equipas têm preparadores para os pilotos, ou cada um tem o seu plano próprio e treinador?
FA: Depende de cada piloto. Eu como já tenho muita experiência já encontrei a minha rotina. Gosto de correr e de fazer os meus exercícios de ginásio. Já treinei com muitos preparadores físicos e agora tenho o meu plano que o executo sozinho.
AMMA: Quais são as suas condições meteorológicas preferidas para correr e se gosta mais de pilotar de dia ou durante a noite?
FA: Não tenho preferência... Gosto de todas as maneiras, em relação a temperatura, quando estão 20ºC e mais fácil porque não transpiramos tanto como se tivessem 35ºC como acontece muito nos Estados Unidos.
AMMA: Das várias vitórias obtidas no ano passado e a deste ano em Daytona, que balanço faz delas? Saiu sempre com espirito de missão cumprida, ou alguma vez quis mais de si ou da equipa?
FA: Foi um ano excepcional, não me queixo de nada. Foi sem dúvida o melhor ano da minha carreira e estou muito grato às equipas e aos meus companheiros.
AMMA: A transição do Cadillac nº5 para o Acura da Wayne Taylor Racing foi pacífica? Já conhecia os seus colegas de equipa?
FA:Já os conhecia enquanto adversários e sabia que eram bons. Foi um processo normal, muito tranquilo, eles correram juntos nos últimos 3 anos e agora foram muito acolhedores com a minha chegada a equipa.
AMMA: Como foi para si fazer as 24h de Daytona deste ano sem ter o João Barbosa na sua equipa?
FA: É sempre bom ter um piloto português ao nosso lado, mas estou habituado a mudanças e sei que fazem parte da evolução.
AMMA: As provas de resistência americanas têm algo diferente das outras em que compete? Ou seja há grandes diferenças entre o IMSA, o WEC ou o ELMS?
FA:Há diferenças, claro. O Campeonato Americano é muito particular porque as pistas são muito mais estreitas, há mais carros em pista e mesmo as regras são um pouco diferentes o que torna as corridas muito disputadas.
AMMA: O que o Covid-19 veio trazer de diferente na dinâmica das provas tanto no IMSA como no WEC ou o ELMS? Sentiram muito a falta do apoio do público na festa que é uma prova de Endurance?
FA:Claro que sim. O público é uma peça fundamental do espectáculo. Mas como tudo, tivemos que nos habituar.
AMMA: Em 2021 participa no WEC e no IMSA. O que o levou a não correr no ELMS nesta época?
FA:Não dava para fazer a totalidade do calendário porque as provas chocam entre si. Há que saber fazer escolhas.
AMMA: Como reagiu quando soube da atribuição da nomeação de Comendador?
FA:Fiquei feliz e muito grato por ver o meu trabalho reconhecido.
AMMA: O que sentiu quando recebeu a distinção pelas mãos do Presidente da República? No seu pensamento dedicou-a a alguém em particular?
FA: Uma emoção muito especial. Dedico sempre os meus sucessos à minha família e neste caso ao meu pai em particular.
AMMA: Em termos familiares, as suas filhas gostam de seguir as suas provas na televisão? O que lhe conta a sua esposa sobre a reação delas?
FA:Apesar de pequenas elas adoram e vibram!
AMMA: Alguma vez conseguiu levar a sua família a assistir a uma corrida “in loco” para lhe dar apoio e o Filipe lhes mostrar a envolvência da equipa e o trabalho associado?
FA: Sim, claro, a Carolina com 8 meses esteve no Estados Unidos durante 1 mês a ver a minhas corridas. Últimamente as restrições não têm permitido...
AMMA: Qual é a emoção da família quando regressa a casa vindo de uma prova com um troféu na mão?
FA: Ficam muito felizes e orgulhosos por mim.
AMMA: Que momentos que tira para si? Tem algum hobby?
FA: Estar com a família é o meu melhor hobby.
AMMA: O que gostava de dizer aos pilotos que se estão agora a iniciar no desporto motorizado, sejam as crianças no karting como os jovens nas várias modalidades do automobilismo?
FA: Que não desistam. As coisas levam o seu tempo a acontecer...
Texto: Pedro MF Mestre
Fotos: (cedidas por Filipe Albuquerque)