Nestes tempos de pandemia em que já há largos meses todos os eventos desportivos, culturais e artísticos foram anulados ou adiados para datas ainda incertas, torna-se difícil programar
reportagens ,como habitualmente , e por isso , decidi por estes dias visitar a Aldeia-Museu José Franco ,conhecida também por Aldeia Típica do Sobreiro .
Situada entre Ericeira e Mafra , esta localidade chamada de Sobreiro e perfeitamente localizável a partir de Lisboa e seguindo pela Estrada Nacional 116 ,sendo o nº da porta ,o 34.
Encontrei o Sr. José Silva no seu local de trabalho, e rodeado de centenas de peças em barro produzidas pelas suas próprias mãos, e pedi-lhe que me contasse a histórias que estão por detrás destas maravilhas.
" Eu estive aqui nos anos sessenta com o Mestre Franco , mas entretanto empreguei-me nos hotéis Tivoli como cozinheiro ,e mais tarde fui chefe de cozinha aqui em Sintra , mas nunca deixei de trabalhar com barro,até porque trabalhar com barro é uma terapia" , diz-nos o nosso anfitrião, já com o orgulho estampado na face.
Entretanto chega um casal com a filha , de quatro,cinco anos de idade , que ficou encantada com o que viu, e logo meteu conversa com o também oleiro , ao que este lhe ofereceu uma peça em argila simbolizando uma flor.
Porque não é a primeira vez que visito este local , e dada a situação em que vivemos, quis saber da frequência de visitantes ,e sem demora ,o nosso interlocutor esclarece :
"É incrível como neste período de pandemia ,continua a haver mais visitantes ao fim de semana , mas durante a semana há uma quebra enorme pois não há excursões , já lá vai o tempo
em que era possível ver quinze autocarros aqui estacionados ,e logo pela manhã , agora nem vê-los."
Recebem alguma verba ou comparticipação estatal ou municipal ?
" nós somos uma entidade privada, os visitantes não pagam nada pela entrada , e circulam por todo o espaço e todos os pontos de venda da Aldeia , colaboram nas receitas. O Mestre Franco foi o Criador, mas a gestora era a senhora dele . Ele sem ela a Aldeia jamais existiria "
Então a receita vem daí ?
"Sim ,sim , todos os dias a padaria faz e vende o pão , a louça que aqui se vende na Olaria era do avô do Mestre Franco , foi ele que a recuperou , o restaurante junto ao pátio, também colabora conosco , ao fim de semana continua a haver uma senhora a fazer filhoses nas arcadas do pátio , e sempre com boa aceitação , mas agora com este recolhimento que foi imposto pela DGS , sofremos uma quebra significativa nas receitas , mas teremos que saber viver de acordo com as normas de segurança, para protegermo-nos e também aos nossos visitantes.
A também chamada de Aldeia Saloia que se estende por dois mil e quinhentos metros quadrados , um vasto espaço cuja etnografia está bem patente nos trabalhos apresentados , cristalizando em memória viva, as gentes da sua terra , como o sapateiro ,o barbeiro ,o dentista , o açougue , o carpinteiro , o ferreiro , a adega , a cozinha saloia , a loja da Ti Lena e muitos mais .
É preciso algumas horas para apreciar toda esta família ,mas em barro ,produto que encanta toda a gente .
Neste período em que vivemos com todas as restrições e mais algumas, por exemplo,aqui na Aldeia provocadas pela COVID-19, eu já não digo que seja uma pandemia, mas sim um PANDEMÔNIO !
Texto e Fotos: José Carlos Pinto