18 anos ao serviço do Desporto em Portugal

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Vanessa Rodrigues

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Na nossa primeira incursão no voleibol, entrevistamos Vanessa Rodrigues, uma distribuidora de 24 anos de idade e 1,80 m de altura, que é um dos maiores valores portugueses, com grande margem de progressão pela frente. Eis a jogadora na primeira pessoa:
 
 
O que é, para si, o voleibol?
 
Gosto de dizer que não é apenas o que faço, mas o que sou!
 
É uma paixão, é algo que eu amo e que gosto muito de fazer e na qual tento dar sempre o meu melhor.
 
Que me ensinou a ser quem sou, que ao longo destes anos modelou a minha personalidade e maneira de estar e encarar a vida, ensinou-me a trabalhar e conviver em grupo, a respeitar e ajudar o próximo, a ter disciplina, perseverança, força de vontade para superar obstáculos e, também, ensinou-me a perder.
 
Como, quando e porquê, começou a jogar voleibol?
 
Eu comecei a jogar aos 8 anos, no Boavista FC, tinha acabado de regressar a Portugal, depois de quase 3 anos fora do país.
 
Sempre fui muito activa e adorava fazer desporto, praticava ténis, jogava futebol, basquete e volei com meus irmãos e amigos, entre muitas outras brincadeiras, e, quando regressei a Portugal, para mim, era tudo novo e diferente.
 
Foram os meus pais que deram o empurrãozinho, pois, queriam que eu praticasse algum desporto. Os meus irmãos já estavam no andebol e faltava eu. Nessa altura, eu estava mais inclinada para o futebol (risos), mas, a minha mãe puxou-me para o voleibol, fui fazer uns treinos e acabei por ficar.
 
Engraçado que lembro-me perfeitamente do 1.º dia, do pavilhão - o velhinho Pav. Dr. Acácio Lello -, da treinadora Prof. Laura, das dezenas de miúdas, da primeira manchete, do primeiro passe,.. Desde esse dia que vivo o voleibol!
 
Fale-nos do seu percurso.
 
Como já disse, dei os primeiros passos no Boavista FC, clube com muita tradição nesta modalidade, que me viu crescer ao longo de 11 anos da minha vida, entre alegrias e tristezas, vitorias e derrotas, me fez jogadora e pessoa.
 
Dessa altura, realço o ano de 2002 como dos mais marcantes na minha carreira, pois, apesar da lesão do joelho direito que me fez parar mais de 1 mês, fui convocada pela primeira vez para uma selecção nacional, ganhei o meu primeiro título nacional (juniores), integrei a equipa sénior do clube e recebi o prémio de atleta revelação-AVP.
 
Foi um grande empurrão para a minha carreira desportiva, para que continuasse em frente, ambicionando cada vez mais.
 
Após 3 épocas como sénior do Boavista e um vice-campeonato, transferi-me para o GDC Gueifães, orientado pelo Prof. António Ferreira, meu antigo treinador das camadas jovens da selecção.
 
Terminada essa época, recebi o convite do CA Trofa e o interesse foi mútuo.
 
Estive, ao comando do Prof. Manuel Barbosa, quatro épocas, onde conquistei 3 campeonatos nacionais, 1 Taça de Portugal e um vice-campeonato.
 
Nesta época, mudei-me para os Açores, mais propriamente para a ilha do Pico, para representar o CD Ribeirense, detentor do título nacional e com um dos melhores planteis do campeonato, orientado pelo Paulo Barreto.
 
Recentemente, conquistei a minha segunda Taça de Portugal e estamos a preparar a defesa do título nacional.
 
Ao longo de todos estes anos, tive e tenho o prazer de jogar lado a lado com grandes atletas e pessoas e de trabalhar com vários treinadores que admiro, que acreditaram e que tornaram-se essenciais no desenvolvimento das minhas capacidades – Prof. José Machado, Prof. João Pedro Vieira, Prof. António Guerra e Prof. Juan Diaz.
 
Estes e todos os outros foram e são importantes à sua maneira e no seu momento, todos deixam a sua marca.
 
Escolheu ser distribuidora? Gosta de jogar nessa posição, ou preferiria jogar em outra?
 
Não fui propriamente eu a escolher, ninguém me perguntou se queria ser distribuidora.
 
Eu subi rapidamente de escalão, andava sempre nos acima da minha idade, e cedo os técnicos orientaram-me para esta posição.
 
Devia ter uns 12 anos, mas, quando necessário, ainda jogava muitas vezes como atacante no clube.
 
Aos 14 anos, quando entrei para os trabalhos da selecção nacional de cadetes, foi já como distribuidora, e assumi a minha posição por definitivo quando integrei a equipa sénior do Boavista FC no ano a seguir – a comando do Prof. José Machado, de quem eu tenho um grande apreço.
 
Desde nova que adoro o que faço e, por mais difícil que pareça esta posição, dá-me um prazer imenso a jogar e sempre tento pensar para frente e evoluir, pois, sei que ainda posso melhorar muito.
 
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Na sua opinião, o que falta, para o voleibol feminino português atingir o nível do masculino?
 
Eu não gosto de diferenciar níveis, o voleibol feminino e o masculino têm realidades muito diferentes. Um é mais táctico e técnico e o outro é mais força e potência.
 
Agora, se formos falar em visibilidade, em Portugal, o voleibol masculino é muito mais conhecido pelo público em geral, em primeiro, porque todos os fim-de-semanas dá, pelo menos, um jogo num canal televisivo desportivo.
 
Segundo, porque, desde há muitos anos, há um investimento e um interesse muito maior na selecção nacional masculina por parte da entidade federativa com participações em grandes competições e todos os jogos televisionados.
 
E, terceiro, porque a imprensa desportiva é capaz de fazer uma página inteira sobre a última jornada do voleibol masculino com foto e entrevistas, e apenas, quando tem, um rectangulozinho sobre o feminino.
 
Também, devido ao facto de o Benfica ter equipa masculina, o único dos chamados “grandes” do futebol nacional.
 
Além disso, o potencial que existe no voleibol feminino é, há já muitos anos, desaproveitado pelas entidades competentes (ciclos de treinos incompletos, condições de estágio inferiores, ausência de trabalho a longo prazo e de investimento numa equipa técnica completa, etc), com consequente e natural desacreditar, desmotivação e, mesmo, desinteresse das jogadoras em representar a selecção nacional, facto que prejudica a imagem do voleibol feminino.
 
Todas as jovens atletas de todo o mundo têm o sonho de representar o seu país ao mais alto nível, mas, só, realmente, as melhores conseguem um dia chegar lá e jogar lado a lado com quem admiram e seguiram como exemplo.
 
Actualmente, não é essa a realidade portuguesa, várias das melhores jogadoras da I Divisão estão ausentes dos trabalhos da selecção há vários anos, afastadas por esta situação criada em torno do feminino.
 
Concorda com a presença de jogadoras estrangeiras nas equipas nacionais?
 
Concordo plenamente, quando essas jogadoras acrescentam uma maior qualidade às nossas equipas e ao nosso campeonato, criando estímulos maiores para o desenvolvimento das nossas jovens atletas.
 
Em toda a minha carreira como sénior, joguei e treinei lado a lado com jogadoras estrangeiras e muitas delas consideradas as melhores do campeonato.
 
Para o meu desenvolvimento como atleta foi e é muito importante a presença destas jogadoras, fazem-me lutar sempre, nunca acomodar, esforçar-me ainda mais, ser melhor, e, no final, festejamos e sorrimos juntas por cada vitória e título conquistado.
 
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Se tivesse responsabilidades nessa matéria, que medidas preconizaria para desenvolver o voleibol nacional?
 
O voleibol é dos desportos com mais praticantes federados em Portugal, mas conhecido por uma minoria.
 
O voleibol é um dos desportos mais bonitos de ser visto e em tantos outros países é tão famoso e aplaudido como o futebol é aqui em Portugal.
 
A Federação Portuguesa de Voleibol é a principal responsável pelo estado do voleibol nacional, não ajudada, também, pela mentalidade, apenas futebolística, do povo português.
 
Tem de haver uma maior qualidade e empenho das equipas técnicas na formação, feminina e masculina, de todos os clubes e das próprias selecções jovens. Os novos atletas são o futuro do voleibol nacional, e todos eles têm que perceber que nada é lhes dado de graça, porque, se realmente querem vingar numa equipa sénior de topo, têm de ter qualidade, trabalho, empenho e humildade para isso, ensinamentos que têm de começar desde os primeiros escalões.
 
Portugal vive, actualmente, uma situação de instabilidade financeira e o desporto dito amador foi uma das áreas que mais sofreu com os cortes.
 
Temos que rentabilizar as infraestruturas existentes em todo o país e apoiar esses milhares de jovens atletas e todas as pessoas que amam e lutam dia-a-dia pelo voleibol, pois só assim podemos mante-lo vivo e até mesmo reacender a chama e o brilho deste desporto fantástico, tanto no feminino quer no masculino.
 
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Quais são os seus planos e sonhos para o futuro, no voleibol?
 
Em relação ao voleibol, neste momento, penso a curto prazo e pretendo juntar o título nacional à Taça de Portugal conquistada no passado dia 7.
 
A minha equipa começa a disputa do play-off final no dia 21 de Abril, aqui nas Lajes do Pico, diante o GDC Gueifães.
 
O título nacional decide-se à melhor de três jogos.
 
Por ser jogadora de voleibol, considera-se diferente da maioria das jovens da sua idade? Tem algum tipo de restrições, em matéria de alimentação, saídas, etc?
 
Não me considero diferente, mas tenho plena consciência que o voleibol me modelou à sua maneira, “obrigou-me” a ser organizada e a conciliar as actividades e a prescindir de outras.
 
Não considero como restrições, mas é essencial ter hábitos saudáveis e cuidar da alimentação.
 
Além de se ter que alimentar bem e com qualidade, o descanso é muito importante.
 
O equilíbrio físico e mental é fundamental para atingir um bom rendimento dentro de campo e o sucesso individual.
 
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Tem alguém que a inspira, ou inspirou quando começou, na sua posição?
 
Como referência do voleibol português e distribuidor, sempre admirei muito o Miguel Maia.
 
A nível internacional, não é assim tão fácil escolher um, tenho alguns em mente e todos de elevada qualidade.
 
Mas, refiro a Fernanda Venturini, sem dúvida, das melhores distribuidoras de sempre, que por todo o lado onde passou, deixou a sua marca, mesmo recentemente na Superliga Brasileira, actuando pelo Unilever com 41 anos.
 
E, na vida, quem é o/a seu/sua herói/heroína?
 
Os meus heróis são os meus pais, por tudo o que eles lutaram, trabalharam, suaram e fizeram por mim e pelos meus irmãos.
 
Por todos os sacrifícios que fizeram nas suas vidas pessoais e profissionais para que eu pudesse dedicar-me a 100% aos estudos e ao voleibol, sem ter outras preocupações.
 
Orgulho-me muito deles e luto todos os dias para que eles sintam o mesmo de mim.
 
Como é a Vanessa, fora de campo?
 
Não muito diferente de dentro do campo.
 
Uma pessoa calma, quieta e tranquila.
 
Acima de tudo, disponível, lutadora, determinada e amiga.
 
Com uma vida centrada na família, amigos e na sua futura carreira como médica.
 
Terminei o curso de mestrado em Medicina no ano passado, muito trabalho e muito estudo, mas, uma área que me fascina imenso.
 
Resumidamente, tento ser uma pessoa simples, igual a todas as outras, estudando, trabalhando, jogando, divertindo-me e vivendo minha vida.
 
Que mensagem quer deixar a quem lê esta entrevista?
 
Eu considero-me uma felizarda, por poder fazer o que gosto, mas tenho plena consciência que lutei muito para chegar aqui e o importante é mesmo fazer algo que se goste.
 
Assim, todo o esforço, apesar de árduo, é compensador, no voleibol, nos estudos, no trabalho, em tudo na vida.
 
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Palmarés
 
2x Taça de Portugal

3x Campeã Nacional Sénior

2x Vice-Campeã Nacional Sénior

1x Campeã Nacional Júnior

1x Vice-Campeã Nacional Infantil

Medalha de Ouro nos 1.ºs Jogos da Lusofonia – Macau ‘06

Medalha de Ouro nos 2.ºs Jogos da Lusofonia – Lisboa ‘09
 
 
DESTAQUES RELEVANTES

Vários títulos regionais

4x Finalista Taça de Portugal

“Atleta Revelação do Ano” – Associação de Voleibol do Porto ‘03

Vencedora do II Torneio Voleibol Feminino Município da Trofa ‘08

Vencedora do III Torneio Voleibol Feminino Município da Trofa ’09

“Melhor Jogadora” - III Torneio Voleibol Feminino Município da Trofa ’09

Vencedora do IV Torneio Voleibol Feminino Município da Trofa ’10

Vencedora do I Torneio José Palmeira – Porto ‘10

Challenge Cup 2012 - 16 avos-de-final

Fez parte integrante de Selecções Nacionais de Cadetes e Juniores (2002-2005), e das Seniores Femininos (2005-2009), participando em provas a nível Europeu e Mundial

Vencedora do Torneio Novotel - Luxemburgo ‘06

Vencedora do XIII Torneio Internacional Feminino – AVP 65anos – Porto ‘07

“Best Setter” - Poule de Apuramento para o Campeonato do Mundo - Sheffield ‘09 
 
Provas nacionais no escalão Sénior I Divisão Feminina:
 
2003-2004 Boavista Futebol Clube (2.º lugar)
2004-2005 Boavista Futebol Clube (3.º lugar)
2005-2006 Boavista Futebol Clube (4.º lugar)
2006-2007 Grupo Desportivo e Cultural de Gueifães (4.º lugar e finalista da Taça de Portugal)
2007-2008 Clube Académico da Trofa (1.º lugar)
2008-2009 Clube Académico da Trofa (1.º lugar)
2009-2010 Clube Académico da Trofa (1.º lugar e vencedor da Taça de Portugal)
2010-2011 Clube Académico da Trofa (2.º lugar e finalista da Taça de Portugal)
2011-2012 Clube Desportivo Ribeirense (vencedor da Taça de Portugal)
 
As provas internacionais em que participou, totalizam 34 internacionalizações:

01/2003 - Poule Apuramento Campeonato da Europa de Cadetes Femininos
05/2003 - Poule Apuramento Campeonato do Mundo de Juniores Femininos
05/2004 - Poule Apuramento Campeonato da Europa de Juniores Femininos
01/2006 - Novotel Cup 2006
05/2006 - Poule Apuramento Campeonato da Europa de Seniores Femininos – 1.ª fase
06/2006 - Poule Apuramento Campeonato da Europa de Seniores Femininos – 2.ª fase
10/2006 - I Jogos da Lusofonia
05/2008 - Poule Apuramento Campeonato da Europa de Seniores Femininos – 1.ª fase
06/2008 - Poule Apuramento Campeonato da Europa de Seniores Femininos – 2.ª fase
01/2009 - Poule Apuramento Campeonato do Mundo de Seniores Femininos
07/2009 - II Jogos da Lusofonia
 
Entrevista de José Duarte
 
Fotos cedidas pela entrevistada
  

Periodicidade Diária

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024 – 05:07:05

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