Mundo da Luta Olímpica – Como e onde iniciou a modalidade? O que o levou a optar pela modalidade?
José Bastos – Iniciei a modalidade no GDC Conde 2, na Quinta do Conde – Sesimbra, onde os meus filhos treinavam. Ia levá-los ao treino, depois ia para o meu computador e no fim ia buscá-los. Eles tanto insistiram comigo para mudar a minha vida sedentária e treinar com eles que acabei por aceder, pensando que faria apenas o aquecimento e depois ficava a ver o resto do treino à espera deles. Engano meu, quando dou por mim estou a treinar regularmente com os restantes atletas.
MLO – Descreva um pouco a sua carreira como Atleta.
JB – Comecei já com 40 anos e apenas me inscrevia nas provas para pontuar para a Equipa.
MLO – Que títulos obteve como Atleta?
JB – Apesar da minha curta carreira como atleta, arrecadei alguns títulos de Campeão Nacional de Luta Greco Romana e de Campeão Nacional de Luta Livre Olímpica.
MLO – Que cargos desempenhou na Luta?
JB – Muitos. Ainda como atleta, tirei o curso de Árbitros e comecei a desempenhar aquela função. Depois tirei o curso de treinador e dividimos a equipa ficando eu a treinar os mais novos. Mais tarde tornei-me dirigente do Clube e posteriormente dirigente da Associação de Lutas Amadoras do Distrito de Setúbal.
MLO – Qual dos dois cargos dá mais prazer? Dirigente ou Treinador?
JB – Dirigente, sem dúvida.
MLO – Como treinador, que atletas descreve como sendo os melhores?
JB – Aqueles que sabem que só chegam ao topo treinando muito.
MLO – Foi o primeiro e o mais corajoso ao fundar um clube com o seu nome e especificamente para esta modalidade, está a resultar? Conte como foi desde o início.
JB – Passei por duas colectividades, ambas no Concelho de Seimbra, que embora a Modalidade as tenha projectado muito para além do âmbito local, nunca demonstraram para com esta o carinho que ela merece. Numa prova internacional contactei com o Treinador Espanhol Milú, que também desiludido com alguns clubes por onde tinha passado, fundou um clube com o seu nome (Club de Lucha Milú) e sem instalações treina em várias Escolas do Distrito, tendo vários treinadores a trabalhar com ele. Foi o meu mentor para a abertura deste Clube.
Penso que está a resultar, pelo menos todos os nossos esforços estão a ser canalizados para o engrandecimento desta nobre modalidade e para isso estamos a tentar aumentar o número de praticantes, com isso, agora aumentámos os locais de treino ao começarmos a treinar também no Pavilhão Municipal de Sampaio.
MLO – Faça o balanço destes poucos anos de vida do CLB. Êxitos, Campeões, entre outros.
JB – Só podemos fazer um balanço muito positivo. Embora apenas com 2 anos de existência, temos 14 títulos de Campeões Nacionais Individuais nos 3 estilos de Luta (Greco-Romana, Livre Olímpica e Luta Feminina), 20 títulos de Campeões Regionais Individuais, várias provas conquistadas colectivamente, 3 atletas femininas com várias presenças na Selecção Nacional a disputar Campeonatos da Europa e do Mundo, 2 atletas masculinos nos trabalhos da Selecção Nacional, com muitas hipóteses de começarem brevemente a disputar provas em representação Nacional. E mais importante, temos muitos jovens atletas com muito potencial para que nos anos vindouros nos dêem muitas alegrias.
MLO – O CLB aposta mais na formação ou iremos ver brevemente a disputar finais das competições por equipas?
JB – O futuro é a formação e é aí a nossa grande aposta, no entanto queremos brevemente começar não a disputar finais, mas, a participar nos grandes eventos colectivos (Campeonato Nacional de Equipas e Taça de Portugal), vamos a ver o quão breve é essa pretensão.
MLO – Ter atletas com bastante experiência, como o CLB têm, é positivo para a sua jovem equipa?
JB – Sem dúvida, pois eles são a referência dos mais novos e estamos a procurar habilitá-los com o curso de treinadores de jovens, para que possam transmitir essa experiência e para que o Clube possa crescer cada vez mais.
MLO – É um dos poucos clubes da Margem Sul, com atletas regulares nas Selecções Nacionais, a que se deve esse facto?
JB – É um trabalho que vem sendo realizado pelo Professor Luís Fontes (com a cooperação dos restantes treinadores) ao longo destes últimos anos e que começou no anterior clube que representámos. É um projecto com mais de 4 anos de trabalho.
MLO – Os seus atletas aspiram chegar ao topo?
JB – Alguns já estão no topo Nacional, mas queremos que olhem para mais alto e que trabalhem para chegarem mais longe.
MLO – Algum dia, veremos um dos seus atletas a subir a um Podium Internacional?
JB – Trabalhamos para que isso aconteça.
MLO – Que futuro prevê para a Luta?
JB – Prevejo um futuro risonho. É uma das modalidades mais completas para os nossos filhos, é uma modalidade que oferece aos jovens oportunidade de desenvolver força, flexibilidade e coordenação ao mesmo tempo que se divertem praticando inúmeros jogos que fazem parte de um treino de Luta.
MLO – A Luta é um desporto pouco divulgado a nível nacional, porque é que isso acontece?
JB – É inexplicável. Faz parte dos currículos escolares, é uma das modalidades mais completas e seguras, temos muitas técnicas espectaculares permitidas nos mais velhos, algumas das quais usadas pelo Wrestling Americano que os miúdos adoram ver, temos tudo para sermos grandes, no entanto..., talvez a falta de um grande resultado Internacional (resultou no Judo), talvez alguma inépcia dos nossos agentes desportivos, talvez a falta desses mesmos agentes desportivos, pois a grande maioria dos que existem trabalha por carolice o que não motiva o aparecimento de muitos mais. Não consigo explicar.
MLO – O que deve melhorar na Luta?
JB – O relacionamento entre todos os agentes desportivos, mesmo entre aqueles que não partilhem da mesma opinião, pois todos somos poucos e não nos podemos dar ao luxo de deixar sair da modalidade aqueles que gostam dela.
MLO – Qual é para si a melhor prova realizada pelos clubes?
JB – O LUTAGI, mistura estágio com competição e com convívio entre atletas de todas as idades, para mim é a prova de referência que já imitei noutro Clube, mas que no CLB por questões financeiras ainda não consegui realizar.
MLO – Um dos momentos altos do CLB, foi a co-organização do último Campeonato Nacional de Greco Romana e Luta Feminina, descreva como o clube viveu esse momento?
JB – Muito trabalhoso, mas muito gratificante. Foram meses de trabalho, desde o tentar puxar a prova para a Quinta do Conde, à procura de apoios, à organização da prova, à realização da mesma, muito trabalho, mas valeu a pena, pois foi gratificante o reconhecimento por parte de várias entidades da excelência do trabalho realizado. E depois tivemos a cereja no cimo do bolo que foi o facto dos nossos 11 atletas que participaram na prova obterem 8 títulos de Campeões Nacionais e 3 títulos de Vice-Campeões Nacionais, isto depois de terem passado o dia anterior a trabalhar na organização da prova.
MLO – Novos projectos para o CLB.
JB – Para já a expansão para Sampaio e a proposta apresentada a uma Associação de Pais para complementar o ATL numa Escola da Quinta do Conde. Temos muitos treinadores, agora mais dois terminaram o curso de Treinadores de Jovens e a nossa vontade é abrir cada vez mais pólos de ensino de Lutas Olímpicas.
MLO – Partilhe connosco uma história desta modalidade que o tenha marcado.
JB – Tive ao longo destes quase 7 anos de modalidade, muitos atletas que sabíamos que andavam na corda bamba, nós tentamos puxá-los para o bom caminho, mas as fracas amizades de uns, os maus exemplos familiares de outros, não nos ajudam nada, pelo contrário. Sabemos que perdemos algumas batalhas, mas num dia que vínhamos de uma prova em Leiria, parámos em Torres Vedras para jantar num Centro Comercial, houve alguém me abordou e pergunta “Mestre, lembra-se de mim?”. Claro que me lembrava dele, foi dos nossos primeiros atletas, eram dois irmãos que estavam numa família de acolhimento, com muitos problemas familiares e que ao fim de algum tempo abandonaram o Clube pois foram viver com a mãe para outra localidade e nunca mais soubemos nada deles.
Agora tinha um emprego estável, apresentou-me à sua mulher da qual estava prestes a ter um filho e levou-nos até ao irmão que trabalhava naquele centro comercial. Foi muito gratificante encontrar aqueles Homens que apesar das adversidades da vida, conseguiram andar para a frente e fugir dos muitos problemas que assolam os nossos jovens. E posso estar errado, mas quero acreditar que contribuímos um bocadinho para que isso tenha acontecido, deu-me mais força para continuar a trabalhar para que os meus atletas quando cresçam sejam Homens e Mulheres úteis para a Sociedade, sem seguir os caminhos desviantes a que estão sujeitos.
MLO – Que última mensagem gostaria de deixar aos leitores desta entrevista?
JB – Se já fazem desporto continuem a praticá-lo, se não fazem qualquer desporto nunca é tarde para começar e se tiver perto de si um Clube que pratique Lutas Olímpicas, não hesitem, apareçam.......
O CLB treina na Escola Básica Integrada da Quinta do Conde às 2ªs, 3ªs,5ªs e 6ªs pelas 19H00 e no Pavilhão Municipal da Quinta do Conde às 4ªs pelas 19H00 e aos Sábados pelas 09H00. Treinamos ainda no Pavilhão Municipal de Sampaio às 2ªs, 3ªs e 5ªs pelas 19H00.
Obrigado José Bastos pelo tempo disponibilizado e por ter respondido a estas perguntas de um modo aberto e sincero.