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Os longos azimutes de Pedreanes

Minuto -1. O momento em que nos ataca o nervoso miudinho, a pulsação acelera, o suor escorre e a adrenalina sobe para os níveis competitivos. Os sessenta segundos de concentração e ansiedade. O sentir a tentação de virar o mapa, ainda no cesto, antes dos cinco segundos finais.

Alto!!! O mapa já está virado! Isto é novidade. Deduzi assim a quente, que sendo uma distância longa, talvez fosse necessário um mapa de dupla face, mas mirando bem, lá estavam os meus 16 pontos para os intermináveis 8.100 metros. Comentei com a malta das partidas – “Sabem que têm os mapas com o percurso para cima?”- “É um bónus que damos aos participantes” – respondem com um sorriso maroto.

“Isto cheira a esturro” – remoía eu com apreensão. Ainda não tinha soado o bip final e…”Ahhhh! Seus malandrões!” - exclamei. “Primeira pernada com 1.500 metros? Pronto…entendido…vou ser trucidado. É hoje que dou a vaga”.

O mapa de Pedreanes, na Marinha Grande, para a primeira etapa do X GP RA4, vinha mesmo a calhar, servindo às mil maravilhas para um ensaio geral, com vista à minha participação no WMOC`08, dado ser de características similares aos terrenos que vou ter de enfrentar em Pataias e Pedrógão (uops…era segredo). Pinhal, areia, vegetação rasteira de fácil progressão e dunas, umas suaves, outras nem por isso (as tais que se sobem de joelhos hehe).

Ora voltemos à super-pernada inicial. Enquanto me dirigia para o triângulo (rampa de 300 metros em areia), ia analisando as opções para o primeiro ponto, que me obrigava a “rasgar” o mapa de lés a lés. Um mapa predominantemente branco, com caminhos perpendiculares, um relevo médio demasiado uniforme que dificulta a sua observação e raros pontos de vegetação. Só havia uma opção: um longo azimute, de preferência em linha recta e muita atenção às curvas…de nível (hehe).

Com esta teoria estava no papo, o difícil seria aplicá-la na prática e simultaneamente orar à “Nª Sª das Espécies”, para não ocorrer nenhuma divergência com a minha “temperamental” bússola. Do final feliz desta pernada dependeria o resto da minha prova, disso tinha a certeza.

Na aproximação ao ponto, entrei pelo trilho errado, o que me fez desviar uns 200 metros e somar dois minutos de castigo aos quinze que já levava. Valeu-me como referência um providencial limite de vegetação. Para arranque podia ter sido pior. Acontece que o primeiro do meu escalão (um escocês voador) fez menos oito minutos! (ai, ai, que tareia vou apanhar no mundial). O que verdadeiramente me inquietava eram as consequências do desgaste físico a que iria estar sujeito, pois teria pela frente na primeira metade da prova, pelo menos mais duas pernadas duns mil metros.

Se tecnicamente tinha de estar ao melhor nível, as longas pernadas aconselhavam que se corresse depressa…e bem. Ora isso é coisa que me custa imenso, pois o físico não responde às solicitações (eu quero…ele não deixa…que vou fazer?). Fui correndo, bufando, tropeçando, ofegando, sempre com o máximo cuidado para não perder as referências do relevo e tentando “endireitar” os mais que longos azimutes.

Nalgumas progressões, julgo que tomei opções menos adequadas, mas considerando que as balizas iam surgindo como “por encanto”, não sentia grande preocupação. Somente pretendia efectuar uma prova de acordo com as minhas capacidades e o facto da restante rapaziada me poder deixar a “léguas”, tem sempre a simples justificação de serem uns “ases” da orientação e eu ainda não passar dum humilde “espécie” (hehe).

Até ao ponto 8, salvo a pernada inicial onde fui acometido dum ligeiro equívoco, tenho consciência de que fiz uma prova quase irrepreensível (para os meus parâmetros, entenda-se), com progressões muito razoáveis, a que não será alheio o cuidado constante com o relevo e o facto de ter andado isolado mais de meia hora (mais vale só…).

Só que para tudo funcionar “sobre rodas”, o mapa deve estar actualizado, porque basta aparecer uma reduzida área, alvo de um recente corte de pinheiros, para me atrofiar por completo o raciocínio. Para mal dos meus pecados, o ponto 9 situava-se bem no meio duma área desbastada, ainda por limpar. A clareira seria aquela ou não? A árvore derrubada não foi considerada ou era das abatidas? Faltava um trilho ou eram marcas de tractor? Para a maioria, não passam de pormenores de fácil resolução, para o “espécie de orientista” resultam em extrema desorientação.

Após uns instantes arreliadores, decidi ir ao caminho seguinte, localizar um ponto de referência e voltar em puro azimute. Nestas circunstâncias, tinha de esbarrar com o prisma (ai dele!), mas lá voaram mais de três preciosos minutos. Foi uma pena, mas também não esperava efectuar um percurso limpo, senão perdia a graça e ficava uma pasmaceira (hehe) ou ainda seria promovido a orientista.

Na parte final, estive tecnicamente perfeito (desculpem a imodéstia, mas é tão raro), apenas me ia atascando cada vez mais na areia, provocado pelo repetitivo sobe e desce e a corrida ressentia-se, decaindo de ritmo, para uma velocidade a roçar a câmara lenta o que veio a resultar no tempo realista de 1.31.17.

A decisão pelos azimutes, revelou-se acertada, e tenho fé que para a semana, a bússola continue a me dar tréguas, para no mínimo realizar umas provas semelhantes a esta, mesmo tendo em conta que o companheiro da Escócia fez menos trinta e tal minutos. Realidades!!!

Quanto aos aspectos organizativos, tenho um ligeiríssimo reparo a fazer. Este ano não houve partidas ao som de “G3”. Foi um desconsolo, logo agora que já me tinha habituado e feito a promessa de não fugir quando soasse o tiro (desmancha-prazeres).

 

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sábado, 18 de janeiro de 2025 – 07:44:55

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