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No dia 3 de outubro, Arouca foi palco de uma verdadeira viagem no tempo que testou a coragem dos 35 atletas que ousaram desafiar o destino ao percorrer as “As Voltas do Impossível”, uma prova de autossuperação inspirada na corrida ao Volfrâmio durante a Grande Guerra. O desafio permanece insuperável, havendo já o convite para uma nova tentativa…
Às 7h30 da manhã, José Moutinho, o “Pai” do Trail Nacional e autor do argumento que inspirou a prova impossível, acendeu a lanterna de petróleo que deu a partida dos 35 atletas.
Esperavam-nos 5 voltas em plena Serra da Freita, passando por vários pontos do concelho de Arouca, numa prova que se prometia tão difícil quanto as Maratonas de Berkeley que a inspiraram. Porém, esta competição honrou uma memória bem nacional: a corrida ao Volfrâmio na década de 40, aquando da Grande Guerra, pelos mineiros conhecidos como “os Pilhas”, que procuravam, nas imediações da Serra da Freita, e em duras provações, esse metal usado no fabrico de armas.
Com esta realidade histórica em mente, “As Voltas do Impossível” recriaram vários rituais simbólicos em homenagem aos “Pilhas”, numa corrida tão dura e desafiante que permaneceu fiel ao nome – dos 35 atletas, nenhum concluiu o número total de voltas impossíveis!
Apesar disso, é de destacar a audácia dos concorrentes que, munidos apenas do indispensável e obrigatório (um apito, uma manta térmica, um telemóvel e um relógio com GPS) conseguiram ultrapassar 21kms, em Serra, em cada volta: Mário Elson e Pedro Marques foram os primeiros a terminar a 1.ª volta, com um tempo de 2h59, ultrapassando alguns dos concorrentes que se viram a braços com obstáculos inesperados, nomeadamente, a saída do percurso principal e a dificuldade de encontrar as caixas com guias de transporte, de recolha obrigatória na prova.
Apenas 8 corajosos atletas conseguiram completar a 3.ª volta impossível: Guilherme Lourenço e Mário Elson disputaram a chegada à meta. Por concluir, ficaram 4.ª e 5.ª voltas, pelo que, a famosa melodia “Taps”, fez-se ouvir para todos os concorrentes em competição, que não alcançaram (desta vez) a ambição de ver o seu nome imortalizado numa rocha em xisto em Rio de Frades.
IMPOSSÍVEL… POR AGORA
A prova foi alvo de elogios louváveis, pois, asseguram os atletas, tem tanto de impossível como de inesquecível:
“Apesar de não ter dado as 5 voltas, faço um balanço positivo. Da minha parte, meto-a no topo das provas mais duras e mais espetaculares em Portugal. (…) Todos nós sabíamos que isto era praticamente impossível, mas todos nós gostaríamos de ter o nosso nome na pedra.” Mário Elson, Atleta
“Se é possível? (risos) Não, não é possível, do todo. (…) Mas eu adorei, diverti-me muito, a primeira volta foi boa, mas a segunda foi qualquer coisa.” Alice Lopes, Atleta
O sucesso da prova não se fez só pela superação das expectativas dos atletas ao nível da organização, sobretudo tendo em conta o contexto de pandemia de COVID-19, como também pelo passo em frente na transformação do panorama da modalidade em Portugal. A isso, aliou-se também o destaque dado à História e identidade de uma região, que deu o pontapé de saída para novas formas de promoção e reconhecimento do património natural e cultural do município de Arouca.
“Queremos continuar a ser competitivos neste segmento do Trail, pretendemos continuar a atrair os mais audazes, a desafiar o impossível, num território duro, mas simultaneamente belo e inconfundível.” Margarida Belém, Presidente da Câmara Municipal de Arouca
A organização dá assim por cumprido o objetivo proposto, com a certeza de que, mais do que a superação do desafio em si, esta competição prima pela singularidade das emoções que traz consigo: “O espírito, entre todos os 35 atletas, foi de grande companheirismo. Até ao fim, acreditaram que seria possível verem o seu nome gravado na rocha de xisto.” José Moutinho, Grão-Mestre da Confraria Trotamontes
Para os que ainda procuram uma aventura brava e inesquecível, fica a promessa de uma nova edição do Trail para maio de 2021 e, quem sabe, talvez consigam trocar as voltas ao impossível.