Tendo completado há pouco 24 anos de idade, Inês Gonçalves foi uma das melhores duatletas nacionais. Antiga campeã nacional júnior de duatlo e triatlo e vice-campeã europeia de duatlo por equipas em 2001, Inês é licenciada em Ciências do Desporto e prepara o seu futuro profissional, realizando um Estágio Profissional. A seguir, conheça a entrevistada, na primeira pessoa, os seus sonhos e os seus objectivos.
– Depois de uma fase de grande fulgor por volta do ano 2000, pressuponho que a quebra que se registou a seguir se deva à entrada na faculdade.
- Sim, deixei de ter tanto tempo para treinar, e de me manter focada no triatlo e duatlo. As exigências da faculdade são outras e deixei de treinar aos poucos. Cheguei a ter o percurso de alta competição, mas não tinha grandes vantagens. Aquilo, verdadeiramente, não me trazia grandes facilidades, nem nada de novo.
- Começaste pelo futsal, depois veio o duatlo / triatlo, o atletismo, ... O gosto pelo desporto começou cedo?
- Sim, sempre pratiquei muito desporto na escola, mas nunca foi a nível federado até 1999. Nesse ano, eu e uma amiga conhecemos uma rapariga que jogava futebol e fomos as duas para o Del Negro. Foi o primeiro desporto em que me federei. Posteriormente fui para natação no CF “Os Belenenses”. Lá conheci o meu primeiro treinador de triatlo, que me incentivou e levou à prática da modalidade. Eu já a conhecia da televisão, e na altura já pensava “Um dia hei-de praticar este desporto”. Não foi difícil, o salto para o triatlo e duatlo! O atletismo surgiu depois, como forma de preparação para as provas de duatlo e triatlo. Também gostei tanto, que houve ainda uma época que me dediquei apenas ao atletismo, mas acabei por voltar ao triatlo. É uma modalidade que me fascina. Na fase de preparação geral, costumava também fazer passeios de BTT, provas de orientação, e de Eco-Aventura. Os desportos ao ar livre sempre me atraíram muito.
- Após cerca de 8 anos de desporto federado, qual é o desporto que mais te atrai?
- É o triatlo e o duatlo, sem dúvida alguma. São duas modalidades muito semelhantes. O atletismo vem por acréscimo. Tenho algumas características para o atletismo e é um desporto em que tenho mais facilidade em treinar. Mas também não esqueço os desportos de evasão, tipo o BTT e a orientação.
- E a vocação pelo desporto, a nível universitário, como surgiu?
- Surgiu por altura do 9.º ano, numa conversa informal com o meu tio. Surgiu a ideia, ficou e desenvolveu-se. Agora, depois de licenciada, estou desejosa de aplicar, na “vida prática”, os conhecimentos que trouxe da faculdade, continuando sempre a desenvolvê-los, e a aprender cada vez mais, é claro.
- A nível escolar, fizeste incursões em várias modalidades. Numa perspectiva profissional, qual será a aposta?
- A área que eu gosto mais é a do treino desportivo, essencialmente nas camadas jovens. Complementarmente, também gosto muito de educação física escolar.
Actualmente, Inês Gonçalves estagia no Departamento de Habitação da Câmara Municipal da Amadora e é com agrado que nos fala desta nova etapa.
- Eu e mais dois colegas desenvolvemos um trabalho que visa a integração das crianças e jovens residentes nos bairros de realojamento da Amadora (Casal da Boba, Casal da Mira e Casal do Silva) nas dinâmicas da própria cidade. Nós utilizamos as actividades desportivas como o meio de integração privilegiado. Queremos que essa integração ocorra gradualmente, ao longo dos 9 meses de estágio, que as crianças voltem à escola (muitas delas já não andam na escola) e, também, se possivel, levá-las à prática federada. Fazêmo-lo sempre em trabalho de parceria com os clubes e associações locais. Por enquanto, no Casal da Boba, estamos a formar uma Escolinha de Desporto (segundas-feiras, entre as 15 e 17 horas), Actualmente temos desenvolvido principalmente o futsal. E temos diversas raparigas muito boas jogadoras.
- Se tivesses que optar entre “relançar” a carreira desportiva a um mais alto nível ou seguir a vertente profissional como vertente prioritária, qual escolherias?
- Possivelmente, a vertente profissional, mas ... sempre ligada ao triatlo.
- Que condições são necessárias para se ser um bom triatleta?
- Antes de tudo é preciso ter uma grande capacidade de sofrimento e um gosto profundo pela modalidade. È preciso ter objectivos e estes devem estar muito bem definidos e hierarquizados. Complementarmente, é necessário muita disponibilidade de tempo, não só para treinar como para descansar. O suporte, que deve haver por trás: institucional, familiar, emocional, financeiro, etc, é também fundamental e talvez um dos mais importantes. O grupo de treino é outra “arma” que faz muita diferença. São sempre uma ajuda e um apoio nas fases de treino mais difíceis. Na altura em que treinava mais, treinava 3 a 4 horas por dia (o que actualmente é pouco), estudava e ainda trabalhava umas horas, mas suportava tudo, porque estava muito motivada e tinha sempre o apoio dos meus familiares, colegas da equipa e treinador. Este defendia-nos e protegia-nos muito, não nos deixando faltar nada.
- Mudando de assunto, em 2004, como é que foste parar ao Brasil?
- Isso faz parte de um sonho que eu tinha de fazer o Programa Erasmus. Fui adiando, adiando, até que no último ano da faculdade, andava a preparar tudo para ir para a Finlândia. Entretanto, as coisas começaram a complicar-se e, como faltava uma pessoa no grupo de colegas que ia para o Brasil, decidi ir com eles. E tive a sorte de ir parar a Florianópolis. Fomos sempre muito bem aceites, apesar de eles terem alguma dificuldade em compreender-nos.
- A curto prazo, em termos desportivos, quais são as tuas perspectivas?
- O meu objectivo, será fazer uma boa prestação no Campeonato Nacional de Triatlo Longo, isto é, talvez 4 horas ou um pouco menos. A longo prazo, e agora numa vertente profissional e como treinadora de triatlo e duatlo, gostaria um dia de poder levar atletas às grandes competições, ou seja, Campeonatos da Europa, Campeonatos do Mundo, provas da Taça da Europa e do Mundo de Triatlo, e quem sabe, talvez um dia aos Jogos Olímpicos.
- Como é que se detectam os talentos para o triatlo?
- A Federação de Triatlo de Portugal tem desenvolvido um programa de detecção de talentos muito interessante, dirigindo-o aos jovens entre sensivelmente os 14 e os 18 anos. Este programa contempla uma prova de natação de 400 metros e uma de corrida de 3000 metros em pista. Após isso, penso que acompanham os atletas que conseguiram as melhores prestações nas provas de natação e corrida ao longo de algumas competições de triatlo, analisando a sua postura e comportamento em prova, ou seja, ao nível da competição. É um programa interessante e que tem dado os seus frutos. Vemo-lo pelos brilhantes resultados que se tem conseguido, também com os triatletas mais jovens. O que me parece é que falta algum apoio nas camadas mais jovens, de forma a que possa forma o “triatleta de base”. Geralmente, vêm desviados de outros desportos, principalmente da natação.
A terminar, a nossa entrevistada abre a porta do futuro.
- Um jovem triatleta ou duatleta, para iniciar a prática de triatlo e/ou duatlo, ou mesmo para continuar a sua prática, deve antes de tudo estar motivado. Para isso, há que definir, com o próprio atleta, objectivos a longo, médio e curto prazo, de forma a que haja sempre metas a cumprir ou ultrapassar. O apoio aos atletas é fundamental,
e não deve partir apenas dos que mais perto o acompanham, ou seja, familiares, amigos, treinador, e eventualmente professores. O apoio do clube é fundamental, principalmente facilitando o acesso aos locais de treino, equipamentos, suplementos energéticos, etc.
- E vês, na Amadora, algum clube capaz de se “meter numa aventura dessas”?
- Sim, tenho pensado nisso, talvez uma secção integrada num clube... por enquanto.