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Genciano Morais Afonso, marcou muitos alunos, que por ele passaram, nas disciplinas de português e história no 2º Ciclo / Ensino Preparatório, tanto pelo seu agradável método de ensino, como pela amizade com que sempre os tratou.
Nascido em Vila Praia de Âncora em 1946, foi aluno dos Salesianos, passando pelas escolas de Mogofores, Manique e Estoril entre 1956 e 1968. Entretanto é chamado ao serviço militar, de Mafra vai para as Operações Especiais em Lamego e segue para Moçambique em 1972 no teatro de guerra colonial. É integrando a Companhia de Artilharia 2717 em Nancatári (Mueda) primeiramente, passando por Malema (Vila Pery). Quando passa à disponibilidade, seis meses antes de regressar, tem a autorização dada pelo general Kaúlza de Arriaga, para poder dar aulas no Instituto Verney de Lourenço Marques. Leccionou também no Colégio D. Dinis, no Externato Marques Agostinho e no Liceu Salazar. Regressa a Lisboa já no ano de 1976.
Em Portugal continua a dar aulas inicialmente na Escola Industrial e Comercial de Abrantes, depois é contratado para as aulas de Português e História na Escola dos Salesianos do Estoril, entre 1977 e 2012. Durante esse período, e em acumulação, ajudou a instalar e foi director pedagógico dos Externato Zambeze e a Escola Princesa Isabel, ambos em Oeiras.
Já reformado, dedica-se à escrita, tendo publicado “Australopiteco” em 2022 e, no ano seguinte, “Bons Ventos…”.
O “Australopiteco” vem de um desafio proposto ao seu neto Bernardo, residente na Ilha do Pico, que necessitava, como aluno de 6º ano, fazer uma entrevista a um antigo combatente da guerra do Ultramar. Estava com a pessoa certa, o seu avô. O texto “Memórias do meu baú”, espalhou-se com rapidez devido à qualidade de conteúdos e de escrita pelos vários jornais regionais. Quando uma editora teve conhecimento deste feito, desafia o Prof. Genciano a reuni-los e preparar para publicar um livro. Assim nasce o “Australopiteco”.
Esta obra está dividida em três partes:
Há quem diga que para ser um homem completo tem que: “Ser pai, plantar uma árvore e escrever um livro”, aqui o Prof. Genciano escreve na badana do livro:, “Sou pai, plantei um cajueiro e escrevi um livro.”
AMMA: Em primeiro lugar confesso que passei pelas mãos do Prof. Genciano no 1º e 2º ano do Ciclo Preparatório, na Escola Salesiana do Estoril, na disciplina de História provavelmente em 1986. Dez anos mais tarde a minha irmã é sua aluna na disciplina de Português. Passados estes anos, reencontrá-lo com a sua história de vida e a forma que nos marcou positivamente é um luxo. Quando reencontra um antigo aluno também tem este sentimento de saudade e a amizade que construímos juntos?
Genciano Morais Afonso: Não podia ser doutra maneira. Esses encontros têm sido frequentes, sobretudo a 31 de Janeiro na festa de D. Bosco, nos Salesianos do Estoril, data em que, habitualmente, os antigos alunos marcam presença: partilhamos memórias, falam do seu percurso profissional e agradecem o contributo dos professores para o seu sucesso.
AMMA: Das suas aulas, tinha sempre uma postura divertida, construtiva e foi um grande educador. Lembro-me que quando a turma estava distraída, recorria aos anacronismos (algo fora do contexto em termos históricos). Lembro-me de alguns, como por exemplo dizer: “D. Afonso Henriques como não tinha nada que fazer e na TV não estava a dar nada que lhe interessasse e ia para o quintal brincar com a espada”. Em 30 alunos, um que estivesse atento, chamava a atenção: “Prof. mas não havia TV no tempo do D. Afonso Henriques”. Aí a turma ria, conseguia colocar todos nos seus lugares e retomar a aula de forma divertida e eficaz. Onde aprendeu ou desenvolveu esta fabulosa técnica?
GMA: São elogios que, sem falsa modéstia, não mereço. Aprendi com os Salesianos a ser melhor professor. Também os tive quando fui estudante e esses “truques” vieram de lá.
AMMA: Aos alunos de português brincava com as figuras de estilo. Ainda se lembra desses tempos? Em que consistia essa volta às figuras de estilo?
GMA: As turmas eram numerosas e, também por isso, havia alunos diferenciados no empenho e na atenção. As artimanhas que usava tinham o fito de captar a atenção dos mais desatentos. Duma forma geral, as figuras de estilo eram apreciadas pelos alunos e o meu jeito para o teatro era um dos motivos dessa abordagem. Teatralizando, aproveitava para lhes ensinar a alegoria, a personificação, a metáfora ou o eufemismo.
AMMA: O facto da sua vida tê-lo feito passar por várias escolas Salesianas como aluno, e voltar lá como professor, foi complicado mudar o papel derivado à vivência que tinha tido anteriormente?
GMA: De forma nenhuma: estava sempre “em casa”. Os ambientes eram diferentes mas o espírito sempre o mesmo: disciplina, respeito, entrega, compreensão e, acima de tudo, o “espírito preventivo” que D. Bosco, fundador dos Salesianos, quis imprimir como marca do seu sistema educativo, em oposição ao “repressivo”: o segredo estava em prevenir as situações mais complicadas para evitar castigos. Os alunos apercebiam-se disso.
AMMA: A guerra no Ultramar foi uma parte complexa na história, principalmente por quem esteve dentro dela. Nos últimos tempos, quando teve autorização para dar aulas na capital moçambicana, que tipo de crianças e jovens lhe apareceram nas turmas? Alunos interessados em aprender?
GMA: Dei aulas em colégios frequentados por alunos de famílias da classe média/alta, onde procurei que sentissem que a vida não era tão fácil como a que tinham no colégio e em casa. Eram maioritariamente europeus e tinham todas as condições para serem bons alunos, como se viu em exames nacionais e provinciais em que alcançavam os melhores resultados. Recordo os exames orais de Português do antigo 5º ano, feitos no liceu Salazar. Para espanto do júri, os examinandos escolhiam “Os Lusíadas” para serem interrogados e todos o júri louvou pela magnífica prestação. Foi inédito porque, na altura e em quase todas as escolas, ninguém queria ser avaliado sobre Camões.
AMMA: Ainda se mantém em contacto com alguns desses alunos do Ultramar?
GMA: Sou convidado todos os anos para encontros de antigos alunos dos dois colégios onde leccionei: o Instituto Verney e o Externato Marques Agostinho, tidos como os mais exigentes e com melhores resultados. Nesses encontros juntam-se dezenas de casais que fazem lembrar outros convívios com os camaradas da CART 2717 (de Mueda) onde fui alferes de Operações Especiais: recordamos o passado e partilhamos fotografias desses tempos.
AMMA: Já de regresso a Portugal, mais propriamente à zona de Lisboa, continua a leccionar nos Salesianos do Estoril e é director pedagógico do Externato Zambeze e a Escola Princesa Isabel em Oeiras. Sabendo o carinho com que desempenhou as suas tarefas em todas, ainda tinha tempo para si?
GMA: Procurei ter, sobretudo para a família: na altura tínhamos duas crianças cuja educação era prioritária. Daí que tivessem estudado nos Salesianos do Estoril. Nos primeiros anos, além da profissionalização em exercício, aproveitei para fazer o mestrado em Ciências da Educação na Católica.
AMMA: Nos Salesianos do Estoril, como professor, o que o marcava mais? O estar de perto com os alunos, as nossas peças de teatro, as brincadeiras com figuras históricas… todos nós nos lembramos destes momentos divertidos que passamos consigo.
GMA: Falei há pouco do sistema preventivo. Era sugestão da direcção da escola que, na medida do possível, acompanhássemos os alunos nos recreios, jogando com eles. Esse convívio esbatia barreiras e era oportunidade para, como recomendava D. Bosco, termos conversas “ao ouvido” com um ou outro: evitavam-se problemas, arranjavam-se soluções. Para além disso, aproveitava os conhecimentos e a prática da música e do teatro, principalmente nas festas de Natal: conseguia que quatro turmas do preparatório actuassem em palco, numa espécie de opereta, contando a história do nascimento do Menino. Para mim, era mais uma estratégia para os “conquistar”.
AMMA: Aposentado do ensino, o seu neto Bernardo, a partir da Ilha do Pico nos Açores, lança-lhe um pedido de entrevista para fins escolares. Com o sucesso deste trabalho, nasce o “Australopiteco”. Este livro tem três fases. Para si, qual é que foi mais desafiante de desenvolver?
GMA: A minha predilecção vai para a época medieval em Tomar: imaginando cenários e personagens, a narrativa anda em torno da reconquista cristã e do papel de Afonso Henriques, Gualdim Paes e os seus Templários nessa época. Eu próprio tenho a convicção de que já vivi outra vida nesse século XII.
AMMA: Um ano depois está de novo a lançar outro livro, desta vez o “Bons Ventos…”. Fale-nos um pouco desta obra. Vem em linha do “Australopiteco”?
GMA: O segundo é muito diferente do anterior. Durante meia dúzia de anos passámos as férias de Verão em Espanha. Não só porque tínhamos um filho a jogar hóquei no Liceo da Corunha, como porque o país vizinho é riquíssimo em sítios do património mundial. Como professor de História, não havia melhor ocasião para os visitar demoradamente e recolher bibliografia em cada um. O “Bons Ventos…” é o relato pormenorizado desse percurso pelo património mundial de Espanha, de Norte a Sul.
AMMA: Se voltasse 40 ou 50 anos atrás, tendo a mesma oportunidade de ser professor, aceitava o desafio, ou preferia abraçar outra profissão?
GMA: Ponto prévio: em criança quis ser padre. A mãe apoiou, o pai nem por isso. Naquele tempo, depois da quarta classe só os filhos da classe média continuavam a estudar. Embora não fôssemos pobres, a solução para mim era o seminário, onde andei até aos 22 anos, altura em que resolvi mudar de vida. Fiz o serviço militar: primeiro na EPI de Mafra e, a seguir, em Lamego, no Centro de Operações Especiais. Fui mobilizado para Cabo Delgado no final da Operação Nó Górdio. Aqui chegados, a saída profissional a seguir foi o ensino: primeiro em Lourenço Marques e, no continente, em Abrantes e na Escola do Estoril entre 1976 e 2012, período durante o qual ajudei a instalar e a dirigir o Externato Zambeze e a Escola Princesa Isabel em Oeiras. Conclusão: o ensino foi sempre um propósito. Voltaria a fazer o mesmo.
AMMA: Numa geração em que estamos muito ligados à tecnologia digital, onde temos excesso de informação que temos a filtrar em canais dos quais a queremos receber, o que gostava de dizer aos alunos das idades que leccionou, entre os 10 aos 12 anos, sobre gerir a tecnologia de forma positiva, ler livros em papel e ter momentos de pausa didáticos da melhor forma?
GMA: A escola do Estoril foi pioneira na chamada escola virtual. Usava essa tecnologia em todas as aulas de História e nalgumas de Português. Os alunos gostavam. A esse propósito, lembro a prática da escola nos finais dos anos 90: a proibição do telemóvel durante as aulas e nos intervalos, assim como o controlo da indumentária dos alunos mais velhos, como agora algumas escolas (como o liceu Pedro Nunes) procuram fazer. Como é possível que adolescentes se apresentem nas aulas como se fossem para a praia? Será assim que irão para o primeiro emprego? Foi um desabafo. Voltando à sua pergunta, recomendava aos alunos a leitura de livros em papel. Há trinta anos, escolhia com eles livros de leitura obrigatória como os da colecção “Aventura” de Maria Magalhães e Isabel Alçada ou de Alice Vieira e outros de teatro e poesia. Como ensinava Português e História de Portugal, aproveitava para recomendar a leitura das Lendas e Narrativas de Alexandre Herculano, em particular os textos “Bispo Negro”, “O Alcaide de Santarém”, “A Abóboda” e “a Morte do Lidador”. Os alunos mostravam-se interessados: nas aulas de Português enriqueciam os conteúdos da nossa história medieval. Nessa linha, promovi a participação de 350 alunos de todos os ciclos no Campeonato Nacional de Língua Portuguesa, organizado pelo Expresso em 2007 e 2008.
AMMA: Uma coisa que nunca tive coragem de perguntar a um professor de português e como a mim lecionou história, sinto-me mais à vontade para o fazer. Quando vê os erros ortográficos e gramaticais na escrita do dia a dia, é uma frustração para vocês docentes, ou conseguem ler isso de outra forma?
GMA: As incorrecções ortográficas nos alunos (e nalguma comunicação social) resultam, a meu ver, do facilitismo com que essa matéria é tratada nas escolas desde o primeiro ciclo. Por alguma razão sou contra o novo acordo ortográfico que ignora as origens grega e latina da nossa língua e lança a confusão na mente dos alunos e dos adultos que sempre escreveram doutra maneira. Remédio? Fazer como noutros países da lusofonia: esquecer o acordo.
AMMA: Depois de “Australopiteco” e “Bons Ventos…”, já tem em preparação uma nova obra? Quer falar-nos um pouco dela, ou ainda está em fase de “segredo”?
GMA: Há outro livro que estou a ultimar para cumprir uma velha promessa de escrever uma trilogia. Só que “escrever” não me obriga a “publicar”. De resto, já escrevi o correspondente a cinco pequenas obras que nunca verão a luz do dia por diversas razões: se me comprometer com editoras, os custos não compensam nem tem havido mercado bastante para tantos autores novos que se estão a lançar. Escrevo porque gosto de ocupar assim o tempo. O produto final fica comigo. Quando morrer, os filhos farão dele o que quiserem.
AMMA: Uma palavra de incentivo a todos os podem escrever um “Australopiteco” seu, um livro que abranja uma parte biográfica, uma viagem no tempo e uma vivência num lugar de sonho… o que lhes diria?
GMA: Dêem lugar ao sonho! Se nos refugiarmos durante algumas horas no nosso canto e dermos asas à imaginação, por certo sentiremos uma paz que não tem preço.
AMMA: Uma mensagem final de professor aposentado, tendo agora uma visão mais global do ensino, desde o ponto de vista do aluno ao do professor, para os alunos que estão neste momento nas suas actividades lectivas e aos docentes que lhes mostram o caminho. O que lhes quer dizer?
GMA: Como escreveu António Gedeão, “O sonho comanda a vida”. A escola não se devia limitar a preparar cérebros; os alunos precisam de alguém que os faça sonhar com um futuro profissional em que sejam felizes, seja no desporto, nas artes, na ciência, na investigação, na defesa de causas humanitárias, na intervenção social e política e nas mais diversas profissões. Como dizia D. Bosco, preparemos “honestos cidadãos”.
Da minha parte pessoal, tenho a fazer-lhe um agradecimento especial por ter aceite fazer esta entrevista connosco, foi um prazer muito grande ter esta conversa com um professor meu, que me marcou muito positivamente na escola e à minha família também. As redes sociais também têm coisas boas e reencontrámo-nos lá após estes anos todos. Agradeço a oferta do exemplar do “Australopiteco” com a dedicatória, um excelente livro que aconselho todos a adquirir. Desejo-lhe que agora nesta fase da vida continue a escrever e a publicar livros desta qualidade.
Contacto do autor: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
Texto: Pedro MF Mestre
Elisabete Ladeira, lança dois livros em dois anos, para o seu público alvo muito especial, as crianças.
A autora, é Educadora de Infância, de profissão, e os seus dois livros têm uma componente lúdico-cultural, ao mesmo tempo educativa que se estende tanto às crianças como aos adultos.
Na sua primeira obra, "A Aventura de uma Gotinha", Elisabete entra na parte da sustentabilidade e ambiental da preservação da água no planeta, agora em "Um Fim de Tarde Agitado", a motivação é para o restabelecimento da paz num mundo muito agitado pelo conflito e pela guerra.
Em "Um Fim de Tarde Agitado" os personagensdas crianças transmitem a mensagem aos adultos e também interiorizam logo de pequenos que temos que viver num mundo melhor, mais pacífico e sem conflito.
AMMA: Dois anos, dois livros. Em ambos tem uma história para as crianças e uma mensagem para o mundo. É fácil fazer uma obra desta forma?
Elisabete Ladeira: Sim… quando sentimos aquilo que estamos a escrever, de uma forma tão profunda que parece arrancado das nossas entranhas, torna-se fácil. Flui… A componente lúdica, numa obra de literatura para a infância é fundamental mas se pudermos juntar, uma mensagem tão importante como esta… é a combinação perfeita. Gosto de escrever sobre temas atuais e que transmitem mensagens fortes e pertinentes, de uma forma leve e descontraída! Valores como a amizade, a cooperação, a solidariedade, o respeito pelo outro, a capacidade de perdoar, entre outros, estão progressivamente a ser postos de lado, em detrimento de uma sociedade cada vez maiscompetitiva, materialista e repleta de indivíduos narcisistas e egoístas que não conseguem ver para além do seu próprio umbigo e para quem a importância de Ser deu lugar à importância de Ter! O Ser Humano está cada vez mais alienado e pouco preocupado em fazer o que está correto, preocupando-se, maioritariamente, em satisfazer as suas próprias necessidades e vontades, sem se colocar no lugar do outro. É contra isto que me insurjo, tentando transmitir estes valores, a todos aqueles com quem convivo, diariamente! Ora estes temas são sem dúvida, excelentes pontos de partida para a criação de histórias impactantes, mas sempre de forma leve e divertida!
AMMA: Quando começou "Um Fim de Tarde Agitado" estava a pensar na violência que pode começar ainda na idade escolar e se não for travada a tempo, pode escalar para o adolescente e o adulto?
EL: Claro que sim. Crianças são como esponjas que absorvem tudo aquilo que veem, ouvem e sentem. Quando tratadas com carinho e respeito, num ambiente tranquilo e harmonioso, mais facilmente se tornarão adultos capazes de se colocar no lugar do outro, de respeitar e aceitar a diferença, de cooperar, de ajudar quem precisa! Somos nós, adultos que convivemos diariamente com as crianças, que lhes servimos de modelo. Ou seja, são as nossas ações e atitudes, o que nos vêem fazer, o que nos ouvem dizer e aquilo que as fazemos sentir, que irão futuramente influenciar no desenvolvimento da sua personalidade! Por isso sejamos adultos conscientes de que não estamos sozinhos no Mundo e que juntos somos mais fortes para combater a falta de valores cada vez mais enraizada na nossa sociedade!
AMMA: A presente guerra na Ucrânia teve influência na mensagem transmitida nesta história, apesar de a acção no livro se passar num parque infantil?
EL: Sim. “Um Fim de Tarde Agitado”, começou a ser escrito, aquando do início do conflito armado na Ucrânia, mas curiosamente, o mais recente conflito entre Israel e a Palestina iniciou no dia do meu aniversário… 7 de Outubro… parece-me a confirmação de que, este livro tinha que nascer para ajudar a espalhar esta mensagem de Paz! Na verdade, as Guerras sempre existiram, sempre ouvimos falar delas, mas quando surgem inesperadamente e tão perto, tomam outra proporção e fazem-nos refletir mais intensamente, sobre o assunto. A ideia base na criação desta obra, foi sempre falar de Paz e não de Guerra. Foi transmitir, às crianças, formas de resolver conflitos de maneira diplomática e de fazer a Paz perdurar, apelando à capacidade do Ser Humano de perdoar. Só desta forma conseguiremos alcançar a tão almejada Paz! O amor e o perdão são a base da Paz! A história do livro “Um fim de tarde agitado” desenrola-se numa pequena aldeia, chamada Vale da Paz, onde todos são amigos e se respeitam mutuamente. Certo dia, surge na aldeia, um menino pouco simpático, que vem desestabilizar a tranquilidade naquele belo lugar! Mas se quiserem descobrir como termina este fim de tarde agitado, e qual foi a forma que as crianças da aldeia arranjaram para fazê-lo perceber que estava a agir de forma errada, terão que ler o livro! Prometo que não se vão arrepender!
AMMA: Tem o livro editado e neste momento já o pode disponibilizar para venda, contudo tem a apresentação oficial dele para breve?
EL: A apresentação oficial do meu novo livro “Um fim de tarde agitado” tem já data marcada, para o dia 18 de Novembro de 2023, pelas 16 horas, no Palácio Baldaya, em Benfica. Deixo aqui a morada para que possam estar presentes e ajudar a espalhar esta bonita mensagem. Estr. de Benfica 701A, 1500-087 Lisboa. Apareçam , serão todos bem vindos.
AMMA: O seu convite para a presença na apresentação é para todos, contudo gostaria de ver muitas crianças no evento? O livro no fundo é para elas...
EL: Sim, sem dúvida. Muitas crianças, acompanhadas das suas famílias, professores, educadores… pois para a mensagem chegar às crianças, terá primeiramente que cativar os adultos! Terá que ser verdadeiramente, sentida pelos adultos, para ser passada com entusiasmo às crianças. Mas como referi, anteriormente, são todos bem vindos, desde que venham “EM PAZ”.
AMMA: De que forma se pode adquirir "Um Fim de Tarde Agitado"?
EL: Poderão adquirir um exemplar autografado no dia do lançamento, ou através da minha página de autor no facebook: https://www.facebook.com/ElisabeteParaltaLadeira
Está também disponível na página da editora que aqui deixo: Um Fim de Tarde Agitado, de Elisabete Ladeira | Oficina da Escrita, assim como nas plataformas digitais da Wook e Bertrand.
AMMA: Já está a pensar no terceiro livro? Que temática quer abordar (se não é ainda segredo)?
EL: Na realidade tenho já, mais 2 obras concluídas… e algumas ideias a fervilhar… mas ainda estão na gaveta e… são segredo (risos).
AMMA: Que mensagem quer deixar às crianças e adultos que leiam a sua obra? O que todos podemos fazer no nosso dia a dia para alcançar a paz que o "Um Fim de Tarde Agitado" atingiu?
EL: Que a Paz, apenas triunfará se nos respeitarmos mutuamente, se aceitarmos a diferença… se aceitarmos a opinião do outro, mesmo que seja contrária à nossa.
Que a Paz, apenas será uma realidade, no dia em que o Ser Humano, souber perdoar e seguir em frente, sem vingança e sem ódio, pois o perdão é a maior prova de amor que podemos dar!
Que para a Paz ser uma constante no Mundo, ela terá que começar dentro de cada um de nós, pois quem tem Paz no coração, não irá fazer a Guerra.
Sejamos todos PAZ, por um Mundo melhor!
Texto: Pedro MF Mestre
Foto: Elisabete Ladeira
Ilustradora: Carla Helena Pinto
Esta artista plástica brasileira (também com nacionalidade portuguesa), explora uma técnica um pouco habitual para exprimir a sua arte plástica, mais propriamente a utilização de vários materiais de maquilhagem e cosmética não usados ou mesmo já fora do prazo de validade. Inicialmente a sua técnica era o óleo, mas a ver os seus produtos ficarem fora de prazo e ter que os deitar fora, pensou em dar-lhes uma segunda vida. Para Geórgia Patrícia, também se torna uma questão de sustentabilidade, facilidade de adquirir esse material por preços baixos e terem uma outra utilidade. Assim nasce o projecto "Maquiarte".
A sua definição para Arte Sustentável:
- Suprareciclagem - transformar de modo que surja um novo objeto
- Infrareciclagem - descartar de modo adequado para ser enviada a um ponto de reciclagem
- Reutilização - em vez de jogar algo no lixo, aproveitamos o objeto como está para prolongar o ciclo de vida.
- Reciclagem - em vez de jogar no lixo, damos uma finalidade diferente da original
- Upcycledart - arte feita com material descartado
A sua formação académica é em direito, contudo já passou por várias áreas, tanto no Brasil sua terra natal, assim como a temporada em que residiu em Portugal.
A artista tem uma visão em que a própria pintura que fez, tal como o "make-up" da mulher pode ser retocado, também pode retocar a sua obra passado algum tempo, se vir que a pode melhorar e dar um novo aspecto que mais lhe agrade, desde que não tenha aplicado fixadores ou aerossóis permanentes.
Ela relembra que este tipo de arte reciclada não é novidade, já foi usada no passado, e temos artistas plásticos que hoje em dia têm muitas obras feitas a partir de materiais reciclados. É uma filosofia de trabalho transversal no tempo com mais diversos materiais e técnicas, como por exemplo Pablo Picasso ou George Braque com restos de jornais e revistas no início do séc. XX e temos outros mais recentes, como o artista português Bordalo II que tem muita arte urbana construída a partir de materiais reciclados.
AMMA: Geórgia Patrícia tem formação em direito, é artista plástica, mas diz que é por acaso. Como é que um artista plástico se torna artista por acaso?
Geórgia Patrícia: O acaso é um artista, é fundamento para todo processo criativo. A maravilha da arte é poder criar resultados artísticos que não conseguiríamos por meio da emoção. É estar livre de predefinições. Portanto, penso que todo artista plástico se torna artista por acaso, todas as vezes que aceita trocar ideias, analisar sugestões e estar aberto ao novo que pode dar muito certo.
AMMA: De início, quando pinta a óleo, tendo em conta o custo dos materiais e tem a sugestão de uma amiga para utilizar artigos de cosmética e maquilhagem, foi fácil a adaptação a estes novos artigos?
GP: Confesso que não foi fácil devido a rejeição imediata: “isto não serve”... mas a fala do artista está nos olhos nas ideias novas. Antes de tudo era preciso encontrar algo que pudesse fixar a maquilhagem à tela: o alcool gel cumpriu essa função pois além de fixar, higieniza. Depois parti a misturar o alcool às máscaras para sobrancelhas, bases, blush, sombras e tinturas para cabelos. O resultado foi excelente.
AMMA: Quando apurou a técnica e viu que podia prosseguir a sua carreira artística usando estes materiais que ideias lhe surgiram?
GP: Uma forma de dar continuidade ao trabalho com maquilhagem seria pedir as amigas, aos salões de beleza, as revendedoras das marcas as maquilhagens fora do prazo que certamente estariam na gaveta ou descartadas no lixo. Assim eu comecei a campanha peditória. De outra forma, pensei na realização de mini aulas expositivas a falar da importância da reutilização e o descarte correto e com isso fazer a recolha. A divulgação nas redes sociais a mostrar o resultado dos pigmentos na tela também ajudou bastante. Escollhi fazer figuras representativas da beleza feminina como principal atrativo e personagens do nosso carnaval, para despertar a curiosidade das pessoas. Ao final de um ano eu estava com uma divisão da casa só para as maquilhagens. A adesão foi imensa.
AMMA: Neste momento que tipo de pintura faz? Tela, vestuário...
GP: Basicamente utilizo a maquilhagem para compor as minhas telas. Um ou outro trabalho sob encomenda com tinta a óleo mas as pessoas já estão a perceber que a aquisição de uma tela com maquilhagem, gera a opção de modificá-la em dois ou três anos, acompanhando a mudança na decoração da casa. Quanto a vestuário ainda nao investi mas é para um futuro próximo. Tenho feito peças decorativas e utilitárias: bandejas, canecas, porta chaves, mini vasos com o vidro de verniz para unhas ou vidros de perfume.
AMMA: Nos anos em que viveu em Portugal chegou a realizar pinturas? Já com esta técnica?.
GP: Portugal foi o meu despertar. Foram as janelas de Maluda que me fizeram observar mais a cidade de Lisboa. Eu me identifiquei com a artista, eu amo janelas. Pintei a janela da casa dos meus avós na tampa da caixa em que guardei os meus primeiros tubos de tinta que na época eram acrílicas. Tenho telas em casa de amigos portugueses.. foram meus primeiros rabiscos.
AMMA: Nos anos em que a pandemia afectou o mercado todos e as nossas vidas, conseguiu ter mais tempo para apurar as suas técnicas?
GP: O ano mais pesado da pandemia foi quando mais desenvolvi. Quando surgiram as lives as pessoas queriam conteúdo, novidades. Surgiu a oportunidade de uma reportagem para a TV, então mandei os vídeos do que eu estava a fazer naquelas longas horas. Eu não me sentia sozinha, a arte me acompanhava. Também recebi muito material. As mulheres em home office não usavam as maquilhagens. Tínhamos tempo para tudo! Diante de tantas tristezas, a arte resistiu.
AMMA: Em termos de locais onde por norma expõe as suas obras de arte, tem passado por que espaços?
GP: A primeira exposição surgiu de uma oficina com jovens aprendizes. Fui contratada para dar aulas e o resultado foi uma exposição das 20 telas produzidas. Antes, fizeram a campanha de arrecadação das maquilhagens em março/2022, em virtude do Dia Internacional da Mulher e com esse material surgiu a Exposição Ressignificando a Beleza do Descarte, no mês de Junho/22, dedicado ao Meio Ambiente. Tenho participado de feiras de artesanato, oficinas com crianças, adolescentes e adultos, feirinhas em colégios e em épocas especiais , tais como dia das crianças e férias escolares.
AMMA: Assim sendo a Fenearte tem sido uma grande feira que a acolhe com frequência. Na edição deste ano foi seleccionada para o Espaço Sebrae de Economia Criativa. Estava no seu sitio certo?
GP: “Todo artista tem de ir aonde o povo está”. A Fenearte é referência para as feiras de artesanato, especialmente no Nordeste onde se concentram por 12 dias, os grandes mestres do artesanato brasileiro. Ser seleccionada para o Espaço Sebrae é estar entre eles. Entretanto, já estive no sector do “artesanato contemporâneo não tradicional” mas sinto que estar no sector das artes plásticas é o ideal. Quem sabe na próxima? Ainda não estou no sítio certo da feira mas estou a caminho.
AMMA: No início da nossa conversa, abordamos a questão de ter passado da utilização de materiais mais caros para estes mais sustentáveis e economicamente mais acessíveis. O preço tanto das tintas como das telas pode ser o travão na carreira de um artista?
GP: Em termos. Os materiais de qualidade são mesmo caros. Sabemos que o tipo da tinta vai determinar a duração da obra de arte. Material ruim vai descascar, enrugar. Pincel ruim vai deixar pêlos na tela ou nao vai espalhar a tinta como deve ser. Isso ocorre também na maquilhagem, por isso a importância de usar boas marcas na nossa pele. Entretanto os altos preços não nos impede de criar e fazer arte. Há outras superfícies para a pintura, o tecido, o papelão, o papel machê por exemplo. Quanto as tintas podemos partir para os pigmentos naturais extraidos da cenoura, beterraba, feijão preto, romã, cúrcuma, coloral, casca de cebola, areia, argila, café... uma infinidade de cores que existem na natureza à borla.
AMMA: Acha que continua a ser complicado ser artista plástico e viver da arte, transversalmente a ser no Brasil, em Portugal ou noutros países?
GP: Penso que em qualquer profissão existem as dificuldades e as respostas podem demorar. Viver da arte é para poucos, infelizmente. Devemos sim viver com ela, insistir e acreditar que é possível, que o que se faz é satisfatório e pode ser ponto de partida para algo maior. Certamente o lugar aonde se vive pode determinar as oportunidades para o artista. No Brasil percebo melhor investimento nessa área nos últimos anos com os editais da Lei Paulo Gustavo de incentivo a cultura. Na iniciativa privada temos as galerias e as feiras de arte e grupos de artistas independentes.
AMMA: Que mensagem gostava de deixar a futuros artistas plásticos, sobre a exploração de outros materiais, ser criativos com outras técnicas, obviamente sem deixar de parte as mais clássicas?
GP: Já nascemos artistas, ocorre que ainda não sabemos, uns descobrem, outros não ou não desenvolvem. É preciso coragem para se expor, gostar do que produz, não se intimidar com a opinião alheia, fazer a arte do seu jeito, da cor que preferir, mas que tenha identidade, que tenha seu traço e características próprias e o mais importante é não desistir.
Texto: Pedro MF Mestre
Fotos: Cedidas por Geórgia Patrícia Silva
Isabel Rato é uma artista multifacetada entre compositora, arranjadora, pianista, professora e produtora musical.
Entre várias valências, destaca-se principalmente no Jazz e na Música Erudita, com alguns discos editados. O seu primeiro álbum data de 2016 “Para Além da Curva da Estrada”. Em 2019, o seu segundo disco sai com o nome de “Histórias do Céu e da Terra”, sendo considerado pela revista jazz.pt como um dos melhores discos do ano do estilo a nível nacional. O seu mais recente trabalho discográfico é “Luz” lançado a 1 de Maio de 2022.
O seu quinteto é formado por João David Almeida na voz, João Capinha nos saxofones (soprano, alto e tenor), João Custódio no contrabaixo e Alexandre Alves na bateria.
A sua formação musical começou desde pequenina, em quecom apenas cinco anos dá os primeiros passos no piano com a Professora Julieta Boavida. Em paralelo teve aulas de ballet clássico e entrou em espectáculos de teatro, dança e música.
Mais tarde, com 12 anos, estudou guitarra clássica e eléctrica em Cascais, onde residia.
Segue os estudos de piano em Música Clássica e Improvisada, Guitarra Clássica, entre outras disciplinas associadas, onde também passou pelo estudo de canto.
A sua licenciatura em Piano Jazz na Escola Superior de Música de Lisboa, teve como mentor e professor o pianista João Paulo Esteves da Silva.
A sua vida profissional inicia-se com 18 anos como pianista e teclista de vários artistas e bandas da música portuguesa de renome tais como Despe e Siga, Linha da Frente, Mikkel Solnado, Samuel
Quedas, Chen Liony, Carolina Deslandes, Maria João e Mário Laginha, Luís Represas e Corvos.
Participou no “The Voice” da RTP em que tocou com vários artistas destacando Daniela Mercury e Rui Reininho.
Agora é a vez de Isabel Rato passar os conhecimentos aos seus alunos lecionando Piano Jazz e Piano Clássico em várias escolas na região de Lisboa, tais como: Escola de Jazz do Hot Clube de Portugal; e Escola de Música Michel Giacometti em Cascais.
Participa regularmente em espectáculos e festivais de Jazz ao longo do país, com o seu quinteto ou mesmo com outro tipo de formação em palco.
AMMA: Começa a aprender piano e ballet aos cinco anos. Embora tivesse sido opção dos pais, em sua casa já se tinha o gosto formado na área da música e do espectáculo?
Isabel Rato: Sei que os meus pais sempre gostaram muito de música, mas o gosto começou mesmo com o início das aulas de piano do meu irmão mais velho. A música começou a fazer parte das nossas vidas. Tenho uma vaga ideia de ter aulas ainda de flauta no Teatro Gil Vicente em Cascais, mesmo antes da vinda do piano acústico para a nossa casa.
AMMA: O seu irmão João Nuno, mais velho, influenciou-a em alguma fase da sua formação e mesmo na carreira?
IR: Omeu irmão João foi fundamental no meu percurso escolhido, sem dúvida. Sempre foi uma enorme inspiração e ajudou-me sempre muito. Tive muita sorte. Sempre foi um músico extraordinário, com uma capacidade de estudo e trabalho impressionantes!! Desde muito novo que é assim.
AMMA: Pára o ballet, continua com o piano e aprende guitarra, tanto clássica como eléctrica. Como surgiu o gosto pela guitarra? O que a fez parar o ballet?
IR: Não me recordo porque deixei as aulas de ballet, talvez por ser muita carga horária. A guitarra surgiu também por influência do meu irmão. É um instrumento incrível e que me preenchia de uma outra forma bem diferente do piano. E pelo facto de ser um instrumento portátil, podia levar a guitarra para todo o lado, para a escola, para a praia… Sempre foi uma grande companheira.
AMMA: Quais foram as maiores dificuldades porque passou na caminhada da aprendizagem musical e mesmo para entrar neste mercado?
IR: Sempre adorei estudar. Talvez algumas disciplinas mais exigentes que me tomaram mais tempo, ou que não me eram tão naturais foram mais difíceis. Alguns professores mais duros. As dificuldades de ser músico são várias. Penso que é preciso muito um espírito de luta e perseverança. Ser persistente e muito trabalhador. Estar verdadeiramente preparado para ter uma vida mais inconstante, a todos os níveis.
AMMA: Portugal é um país onde se possa dedicar à carreira musical inicial como profissão, ou os músicos no seu início de carreira na maioria das vezes têm que ter outra fonte de rendimento?
IR: Penso que para se ter uma fonte de rendimento mais estável será sempre melhor ter outra fonte de rendimento. Eu sou professora de piano há mais de 20 anos, comecei muito cedo. É algo que sempre fez sentido para mim; estar directamente ligada à pedagogia e ajudar o aluno da melhor forma que me for possível. Comecei com aulas particulares e depois em Escolas de Música. Penso que se for a vontade verdadeira do aluno, seguir Música, deve seguir a sua vocação. Mas, também deverá ter plenamente a noção do trabalho que envolve esta profissão e a sua precariedade.
AMMA: Como podemos inverter isso? Dar mais valor aos artistas, apostar nas suas carreiras e haver mais mecenato?
IR: Penso que não há um apoio à Cultura em condições, comparando com outros países da Europa por exemplo. Dá-se pouco valor às Artes em Portugal nomeadamente a estilos de música mais específicos como é o caso do Jazz. Passa também pela Educação, pelos programas das Escolas que não têm uma grande abertura ainda às Artes, em geral. Tem de existir uma maior política cultural.
AMMA: Numa altura tem uma formação muito completa em Música Clássica e Improvisada, Guitarra Clássica, Teoria, Harmonia, Voz, Coro e História da Música. Todas elas interligadas foram decisivas para o sucesso da sua carreira?
IR: Este conjunto de disciplinas foram fundamentais para a minha aprendizagem e desenvolvimento, e também canalizá-las o mais possível para o meu instrumento principal - o Piano, tanto na Música Clássica, mas também no Jazz e na improvisação.
AMMA: Mesmo com várias valências de estilos musicais, o Jazz foi “amor à primeira vista”? O que mais lhe fascina neste estilo?
IR: A liberdade da improvisação. O Jazz oferece-nos uma imensidão de possibilidades que não tem fim. A relação e interacção entre os músicos, essa vivência é Única.
AMMA: Que grandes artistas de Jazz a influenciam?
IR: São muitos, penso que os mais importantes serão: Keith Jarrett, Bill Evans, Brad Mehldau, Wayne Shorter, Shai Maestro, Fred Hersch, entre muitos outros.
AMMA: Ao compor os seus temas, ou mesmo fazer arranjos musicais a uma peça, qual é a grande fonte de inspiração?
IR: Penso que hoje em dia, qualquer sensação, momento, sentimento, imagem, lugar, pode despoletar o processo criativo. A Pintura sempre foi muito importante para mim, e uma fonte enorme de inspiração. Viajar também…
AMMA: Quanto tempo levou a preparar o seu primeiro disco “Para Além da Curva da Estrada” em 2016?
IR: Não me recordo bem, mas talvez dois anos, já tinha peças compostas anteriormente.
AMMA: É difícil conseguir editar um trabalho discográfico em Portugal? Os artistas têm os apoios que necessitam?
IR: Não há muitos apoios, essa é a verdade. Editar na área do Jazz é quase um trabalho por conta própria, eu tive a sorte de ter a Editora Nischo, na área do Jazz, com o apoio do Carlos Martins e da Constanze Jurgens. Mas Editoras na área do Jazz não são praticamente nenhumas… O músico acaba por fazer uma Edição de Autor.
AMMA: Agora cada vez mais com acesso a disponibilizar trabalhos nas plataformas digitais, continua a preferir gravar o disco, ou no futuro pensa dedicar-se ao digital?
IR: Penso continuar a gravar discos e fazer sempre uma edição física em CD, mesmo que sejam menos cópias. Mas mantendo sempre o digital, e lançar o disco nas várias plataformas.
AMMA: Já que falamos em discos, tem algum trabalho em preparação para ser editado para breve?
IR: Sim, estamos neste momento a preparar o meu 4º disco, “Vale das Flores”, dedicado inteiramente à música em português, com temas de José Afonso, Sérgio Godinho e temas tradicionais portugueses, tendo em vista as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. Será editado no início de 2024. Vamos para estúdio em Novembro.
AMMA: Pelos inúmeros locais por onde já actuou, qual o que a marcou mais?
IR: Pergunta muito difícil. Penso que o Teatro de Bragança foi um local magnífico de tocar. E o concerto em 2019 na Festa do Jazz, no Capitólio, foi uma data muito importante para mim e para o grupo. E por último, ter tocado com a Elisa Rodrigues na Irlanda.
AMMA: Qual é a sua percepção relativa à “saúde” do Jazz em Portugal?
IR: Temos uma comunidade de músicos espectacular, grandes instrumentistas e compositores também, mas com pouco espaço para se poder tocar e divulgar esta música.
AMMA: Como professora, há muita procura por parte dos alunos para aprender piano Jazz?
IR: Penso que há cada vez mais procura. Estou a dar aulas de piano tanto em Cascais como em Lisboa no Hotclube de Portugal, Escola de Jazz, e temos uma procura imensa de aulas de piano, ao ponto de não ser possível inscrever todas as pessoas…
AMMA: Em média quantos anos um aluno tem que se dedicar, estudando com frequência, para se lançar no mundo do espectáculo?
IR: Penso que pode haver muitas hipóteses… Depende muito do aluno e do seu estudo, da forma como vive a Música….
AMMA: Tem alunos seus a trabalhar já de forma autónoma no mercado da música Jazz?
IR: Sim, tenho alunos que passaram por mim, seguiram e estão a seguir Música, seja no Jazz ou no Pop.
AMMA: É gratificante ser professora? O que tenta passar aos seus alunos para além da componente teórica e prática?
IR: Ser professora para mim é ajudar e ensinar o mais possível, e respeitar sempre o aluno.
AMMA: Qual é o seu sonho enquanto compositora, professora, artista nesta arte?
IR: O meu sonho é estar bem, ser feliz, poder estar com as pessoas de quem gosto na música e na vida. Viajar muito. Enquanto professora, poder sempre melhorar e ajudar os meus alunos a encontrarem o seu caminho. Enquanto compositora, gostaria de continuar a escrever música e fazer arranjos para mim e para outros artistas. Enquanto pianista, continuar sempre a tocar o mais possível, em vários estilos também, não só no Jazz.
AMMA: O seu filho está a seguir os passos da mãe?
IR: Tenho um menino de 3 anos, o Gabriel. Ainda é cedo, mas ele gosta muito de música.
AMMA: Pensa em colocá-lo em escola de música, ou prefere que seja uma decisão dele, sem o querer influenciar?
IR: Vamos inscrevê-lo sim, em escola de música. Para nós a Música é uma disciplina fundamental para o seu desenvolvimento, para a sua formação, para a sua evolução. Este é um dos grandes problemas do Ensino em Portugal, na minha opinião, esta lacuna enorme no ensino que não dá valor nem importância às Artes.
AMMA: Pensando na sua carreira e experiência, o que gostava de deixar aos mais novos, potenciais grandes músicos como mensagem?
IR: O que mais posso deixar aos mais novos é que sejam acima de tudo felizes, sejam saudáveis, que sejam estudiosos e dedicados; que se divirtam a fazer música e a tocar; que explorem ao máximo!!!
Texto: Pedro MF Mestre
Fotos: Filipa Oliveira
André Neves, é um jovem de 17 anos praticante de Karaté e amante da escrita. Junta estas duas valências e nasce a obra "Alicerces Karatecas". No mesmo ano o atleta é convocado pela primeira vez para um campeonato Europeu de Karaté.
O autor e karateca descobre a sua aptidão para escrita aos 12 anos, inicia o Karaté também ainda muito novo para combater a hiperatividade. A paixão pela Arte Marcial foi crescendo e gosta de transmitir aos outros os valores que adquire dojo.
Na sua família não está sozinho nas artes marciais, a sua irmã Alexandra é vice-campeã do mundo de Karaté.
O livro "Alicerces Karatecas" é mais que um livro sobre o Karaté em si. Leva a viajar numa história fictícia com possíveis acontecimentos do dia a dia na vida de qualquer um de nós. O Karaté acaba por se enquadrar também nas emoções. A obra leva a viver a vida quotidiana mas com o Karaté incutido nela. Aqui a Arte Marcial revela-se muito mais que uma disciplina de luta, também tem a componente dos valores, da disciplina, do controlo pessoal. André Neves, consegue ter o Karaté tanto na prosa como na poesia da sua obra.
AMMA: Começa a praticar Karaté com 6 anos para controlar a hiperatividade e a escrita aos 12. Aos 17 anos juntou as duas paixões e nasceu o livro "Alicerces Karatecas". Já estava a pensar nisso há algum tempo, ou foi quase espontâneo?
André Neves: Bem, como disse escrevo desde os 12 anos. Embora tenha começado cedo a escrever, só com 17 anos é que ganhei a maturidade que me faltava para abordar diversos assuntos. Este livro, decidi escrevê-lo após ter participado num campeonato internacional. Como deve imaginar, para qualquer atleta é um sonho. Toda a energia que senti, despertou-me um interesse em abordar este tema. Embora que possa parecer um livro de Karaté, decidi escrever este livro, abordando uma filosofia que o desporto, neste caso o Karaté, consegue mudar a nossa vida, utilizando diversos conteúdos fictícios, mas, considero que essa participação no Europeu, despertou algo em mim, que quis logo escrever esta aventura.
AMMA: Agora também foi convocado para o Europeu de Karaté. Qual foi a emoção quando soube? Como correu esta participação na competição?
AN: Foi um sentimento inexplicável. Achava que não era capaz, mas foi como se todo o esforço que tive, acabasse por valer a pena. A competição não correu como esperava, mas saí com a noção que amadureci, e que, agora que sei que consigo, lutar por mais oportunidades como esta é um objetivo.
AMMA: Quando diz que "O karaté não é só um desporto de luta, mas também de disciplina, máximas e aprendizagens" está a transmitir a filosofia base da Arte Marcial. Ambiciona vir a ser Sensei, para dar continuidade à passagem dos conhecimentos do seu Sensei?
AN: Sendo o mais sincero consigo, não me vejo como Sensei/instrutor de Karaté. Vejo-me mais a ser mais um a ajudar a geração futura, transmitindo todos os conhecimentos que os meus Senseis passaram. Não é uma obsessão ser o Sensei, mas terei toda a disponibilidade e alegria em ajudar os próximos.
AMMA: Quando admite que "todos usam um bocadinho do Karaté sem perceberem", onde quer chegar? Todos nós mesmo não conhecendo a Arte Marcial em si temos atitudes que se identificam com a sua filosofia?
AN: Na minha perspetiva, acho que todos usamos o Karaté por diversas razões. À primeira vista, parece um desporto de pancadaria, mas, quem pratica esta arte, com vontade e interesse desde o início, entende que há muito mais do que meros seres humanos a lutar. O Karaté segue uma linha de pensamento, temos 5 máximas que pretendemos seguir. Tais como o Caráter, a Sinceridade, o Esforço, a Etiqueta e o Controlo ou Autocontrolo. Como pode ver, entende que estas 5 máximas, são utilizadas no nosso dia a dia. Sejam elas em momentos de felicidade, ou nas adversidades da vida. Onde quero chegar com isto? Com o facto de que, a nossa linha de pensamento usa muito a filosofia do Karaté. E com isto, sabemos abordar qualquer situação da nossa vida.
AMMA: Duas expressões que utiliza "Nascemos, crescemos e partimos com o Karaté" e "Viver a vida com diversão e humildade", de onde vem esta influência?
AN: A primeira expressão, foi uma expressão que o meu Sensei dizia muito. O que ele queria dizer com isto? Embora que os desportos muitas vezes, tenhamos aquele momento em que estamos no auge, e de seguida vamos pensando mais em retirar-nos do mesmo, seja pela idade, pelas lesões ou por outros motivos. O Karaté é dos poucos desportos que pratica-se para o resto das nossas vidas. Claro que um Futebolista, após a reforma, pode continuar a jogar à bola, mas, não será em alta competição. Já o Karaté, vemos atletas com mais de 50 anos a competir. Para além de que, o Karaté está presente nas nossas vidas do início ao fim.
Quanto à segunda expressão, essa expressão foi uma Auto motivação. Ou seja, com os valores e ensinamentos que os meus pais me passaram, formei uma expressão que uso em qualquer situação. O que procuro com esta expressão é, não precisamos de falhar e culpar meio mundo sem pensar direito. Ou, até mesmo não sorrir ou não saber perder. Com esta expressão, consigo aceitar derrotas, reconhecer o que não correu bem, e, deixar um bom clima entre mim e as pessoas à minha volta.
AMMA: Alguma vez experimentou outra Arte Marcial ou esteve em contacto com ela por exemplo em Estágios Interestilos? Se sim, acha que é uma aprendizagem útil, mais que não seja para perceber o seu âmbito e o seu caminho?
AN: Inicialmente, não escolhi o Karaté. Como já disse, por causa da hiperatividade, o médico aconselhou-me praticar Karaté, de modo a facilitar a minha concentração. A partir daí, foi amor à primeira vista. Nunca experimentei outros estilos, nem tenho interesse. Gosto do que faço, e sinto-me bem a fazê-lo. Acho que o Karaté é uma aprendizagem muito útil. Não só pelo que transmite, mas também pela forma como as pessoas conseguem gostar dela. E, perceber que não é luta, mas sim uma filosofia bastante madura. Também é importante para as crianças, especialmente atletas como o meu caso. Já vi crianças muito hiperativas a irem para o Karaté, e hoje em dia, estão muito bem formados.
AMMA: Quanto ao livro, a viagem a uma vida fictícia em que envolve o Karaté no seu dia a dia, não o combate, mas sim a filosofia, tanto nos momentos de prosa como de poesia, foi um caminho fácil?
AN: Não foi fácil. Primeiro porque é um tema muito complexo, segundo porque é difícil transmitir a ideia de Karaté atualmente. Estive muito tempo a tentar decobrir como ia escrever este livro. Até que, mergulhei em histórias fictícias, com personagens inventadas, juntei a filosofia do Karaté. Acho que foi um "Casamento perfeito". Também tive muita dificuldade, na questão da estrutura. Consigo escrever poesia com mais facilidade do que prosa. Gosto de fazer jogos de palavras e deixar versos que deixem os leitores a refletir. Quando apanhei o jeito, nunca mais parei de escrever.
AMMA: Relativamente à inspiração, foi uma paixão fluída? Teve fins de semana e noites prolongadas pela escrita da obra? Como conseguia por travão nas horas tardias sem perder o fio condutor que naquele momento estava a inspirá-lo?
AN: Sim, tive dias e dias focado no livro. Até porque a cada treino que ia, mais ideias tinha para o livro. Seja algo que fiz ou tenha aprendido. Quanto ao perder o rumo, nunca perdi. Devido ao facto, de que quando começava a escrever, as ideias nunca ficavam esquecidas.
AMMA: Teve que ler e reler até chegar ao que queria expressar, ou não necessitou de passar por essa fase?
AN: Muitas das vezes, pedia aos meus familiares para lerem o que escrevia. Porque assim, imaginava como os leitores iriam ficar ao lerem o que escrevia. Reli cada história diversas vezes, devido a meros detalhes, como o que ficava melhor, talvez o final da história pudesse ser diferente, a mensagem pode não ser bem interpretada. Quando senti que estava no ponto, foi aí que decidi que estava bom daquela forma.
AMMA: Em termos literários, como melhor classifica esta obra?
AN: Esta aventura fictícia, foi um grande trabalho. Não consigo a avaliar, prefiro deixar para quem quiser ler. Mas posso dizer que, talvez a forma de olhar para as coisas seja diferente. Eu até mesmo escrevendo um livro sobre esta matéria, a minha maneira de ver as coisas mudou. Acho que é importante amadurecer as nossas ideias, e, espero que consiga despertar essa estrutura das pessoas. Misturando a poesia com a prosa, como se vissem diversos mundos, diversas situações, e que cada personagem talvez possam usá-la como motivação.
AMMA: Aqui nasceu um precedente, um livro sobre uma arte que faz parte da sua vida. Já está a pensar no próximo trabalho?
AN: Já estou perto de lançar um próximo livro. Aliás, quando estava a acabar de escrever este primeiro livro, já iniciava as próximas obras. Pretendo lançar até ao final deste ano, ou no início do próximo, e posso garantir que será algo totalmente diferente deste primeiro.
AMMA: De que forma se pode adquirir este livro? Livrarias, Lojas Online, Pessoalmente?
AN: Podem adquirir no site da editora primeiro capítulo, e da Atlantic Books. Pode ser pessoalmente, e brevemente estará na Fnac, Bertrand, Wook, etc. Também estará na livraria Sousa Martins em Lisboa. Claro que também está disponível online.
AMMA: Queria pedir para deixar uma mensagem aos nossos leitores que tenham também paixões idênticas às suas, tanto da escrita como das Artes Marciais, para que com base na sua experiência, os motive a continuar na sua "luta" e não desistir na primeira queda?
AN: No quesito das Artes Marciais, a nível competitivo aconselho a não colocarem imensa pressão. Ou seja, mesmo que sejam os maiores campeões, não se enervem com o "e se não conseguir novamente?". Essa pressão adicional, dificulta o nosso bem-estar, e a nossa maneira de encarar as coisas. Mente aberta, sem pressão, consegue-se tudo.
Na escrita? ainda sou novato neste meio. Porém, aconselho a escreverem tudo o que vai na vossa cabeça. Escrevam palavras, formem frases, formem segmentos, e chegam lá. O mais difícil é o título do livro, a história cada um consegue contar.
Nas dificuldades, quer no desporto ou na escrita, continuar o nosso caminho. Quem critica não suporta o nosso momento. Como se diz " Os cães ladram e a caravana passa", as vozes menores tornam-nos maiores.
E se não conseguirmos manter o nível, devemos voltar atrás e tentar entender o processo de melhoria. Não é fácil, mas no final vale sempre a pena.
Mas sempre com humildade e felicidade, naquilo em que fazemos.
Texto: Pedro MF Mestre
Foto e capa: Cedidas por André Neves
Francisco Carvajal é o grande impulsionador do Flamenco em Portugal, possuindo uma carreira com quase 50 anos no mundo da arte e do espectáculo.
Oriundo do Bairro da da Prosperidad em Madrid, Francisco Carvajal, tem o ano de 1975 marcado com o início das suas actividades no mundo da cultura em Espanha, tanto no teatro, no cinema como na música.
Logo nesse ano, recebe o convite para uma acção na área da cultura pela Residencie Humanities Division Antioch College em Yellow Springs (Ohio) acerca de um trabalho feito por si sobre a maçonaria em Espanha.
Dai em frente nunca mais parou com as suas actividades.
(no Teatro Martin de Madrid de 1987 )
Destaca-se o seu trabalho na sala de concertos M&M que dirige entre 1977 e 1990, em 1977 como empresário e director artístico, recupera o Teatro Martim com cerca de 150 anos de existência e capacidade para 900 espectadores.
Já em 1987 Francisco Carvajal é distinguido pela revista cultural La Luna, como uma das 87 personagens indispensáveis na cultura da transição espanhola.
Continua com grandes realizações profissionais nesta área e em 1992 o Governo de Espanha convida-o como curador do programa da celebração do V Centenário da saída de Cristóvão Colombo de “Puerto de Palos”, nos descobrimentos espanhóis.
Tem mais atividades de curadoria em eventos de grande projecção em Espanha.
Na área da música trabalhou com artistas como John Mclaughlin, Larry Coriel, Paco de Lucia entre outros grandes nomes desta arte em vários pontos de Espanha.
(Chegada a Portugal em 2008)
No ano de 2007 radica-se em Lisboa e chega à conclusão que o Flamenco não tem muita expressão em Portugal. Para contrariar essa tendência, dá início ao Festival Flamenco de Lisboa em 2008. A partir deste evento Francisco Carvajal coordena espectáculos em Portugal, com os mais conceituados e premiados artistas desta dança sejam residentes em Espanha ou mesmo de fora dela, tais como: Pepe Habichuela, Javier Barón, Miguel Poveda, Enrique Morente, Estrela Morente, Juan Manuel Cañizares, Carmen Linares, Farruquito, Jorge Pardo, Rocio Molina, Sara Baras, Gerardo Nuñez, Miguel Vargas, Ursula Lopez, Eduardo Guerrero, entre outros. Artistas principais são mais de 50, mais de 250 artistas acompanhantes e mais de 25 artistas portugueses convidados.
Para este empreendedor cultural tem também acção em actividades, ao longo destes anos, no Instituto Cervantes com destaque à Aula “Enrique Morente. Lenguaje y Flamenco”, com as intervenções de Beatriz Carrillo, Laura Garcia Lorca, Balbino Gutierrez, Mario Pacheco, Ricardo Pachón, Faustino Nuñez, entre outros artistas.
Teve presença e acção na estreia em Portugal do documentário “La busqueda” de Fco. Sanchez Varela, com a presença da família do Maestro Paco de Lucia.
Não passa despercebida a “Masterclasse da Escuela Sevillana” no Campo Pequeno com a mestre Matilde Coral.
O empresário cultural dedicou-se também a conferências, exposições e a programação da Aula Enrique Morente já na faceta da gastronomia.
A Freguesia de Delães em Vila Nova de Famalicão vai receber a 2ª Edição do Summer Tribute a 22 de Julho. No ano passado foi a prova de conceito com os “A Kind of Queen”, banda de tributo aos Queen, este ano a organização vai apostar em duas bandas, uma de tributo a Tina Turner “Simply the Best” e outra aos AC/DC “Da Cá”.
António Lobo, mentor deste festival faz questão que seja um evento de tributo a grandes bandas e artistas. Estima-se que seja o único em Portugal deste género.
A organização está a ser feita pela Strong Wolf’s, com os apoios da Junta de Freguesia de Delães e da Câmara Municipal de V. Nova de Famalicão.
AMMA: No ano passado, ainda com um pé à frente e outro atrás com o fim das restrições provocadas pela pandemia, o que o levou a avançar na mesma com este Festival de Tributo?
António Lobo:Eu já tinha em mente este projecto antes da pandemia. Já tinha tudo tratado com a banda, som, luz, etc. Após o alívio das restrições resolvi levar a acabo o que tinha pensado fazer. No entanto o valor monetário que arranjei não me permitiu trazer duas bandas tributo, sendo que avancei com os “A Kind of Queen” e com uma banda local de nome “Via Sacra” para fazer a primeira parte, embora não fossem de tributos, eram de temas originais e o DJ Paulo Rodrigues para o fecho da festa, também ele local todos com o seu nível de qualidade.
AMMA: Como correu a edição? Teve mais público que o que esperava?
AL: Correu muito bem apesar de nas últimas semanas ficar num “efeito sanduiche” visto haver duas festas religiosas, uma numa freguesia antes desta e outra depois, com bandas apelativas para o formato romaria e então fiquei com receio do fracasso, no entanto superou muito a espectativa. Veio gente de muitos sítios ver. Também o fiz de forma gratuita.
AMMA: E porquê Delães? Qual a razão de escolher esta freguesia?
AL: Delães porque é onde vivo, embora tenha nascido noutra Freguesia não a muitos quilómetros desta, no entanto Delães tem esta particularidade quando se vem para cá ficamos agarrados a ela. Não se explica, sente-se.
AMMA: Inspirou-se em algo feito no estrangeiro e trazer esta ideia para Portugal?
AL: Por acaso não só. Depois de uma pesquisa verifiquei que existe um evento enorme, como temos cá os festivais de verão, que é na Irlanda. Foi apenas porque passo muito dos meus fins-de-semana em bares de tributos para ver bandas que já não estão no activo ou que nunca tive a oportunidade de ver. No entanto vou a muitos concertos de grande formato, ainda recentemente Roger Waters, mas ao estar nestes bares pensei porque não um festival de Verão na minha terra mas só de tributos para que as pessoas possam assistir aos seus ídolos que outrora quando estiveram no activo não os puderam ver, como se passou comigo.
AMMA: Que apoios teve na edição passada? Foram renovados para este ano e também conta com novos?
AL: Os apoios foram poucos, o comércio local, alguns amigos com empresas, Junta de Freguesia, não mais do que isso. Já este ano entramos com outra maturidade. Comecei logo no com uma pesquisa de festas religiosas nas Freguesias e outros locais mais próximos para assim agendar esta data de 22 de Julho e não chocar com mais nada. Os apoios do ano passado renovaram, tipo o nosso comércio local que conto sempre com eles e eles comigo para feitos desta natureza, na nossa terra, os meus amigos com empresas renovaram mas ainda assim tive que me expandir para locais mais longínquos, recorrer novamente à Junta de Freguesia de Delães e desta vez a Câmara Municipal de V. Nova de Famalicão tem também um orçamento superior para este Summer Tribute.
AMMA: O recinto pelo que sabemos é diferente. Qual a razão da mudança?
AL: Sim, é diferente. Na primeira edição foi no campo de futebol da Freguesia. Tive que improvisar um palco dentro da bancada, tinha aqui uma série de questões tipo que as beatas estragaria a relva, entre outras situações. Então resolvi levar o evento para um local que merece, é um campo de festas onde já se faz mostras comunitárias, é usado quando vem cá o Circo e lá é mais centralizado e é mais à festival de Verão. Enquadra-se melhor no formato. Quando vamos a Vilar de Mouros ou outros são assim também em descampados.
AMMA: Como surge a ideia de criar o “Summer Tribute”, um Festival somente de Tributos?
AL: Como disse anteriormente, por exemplo eu nunca tive a oportunidade de ver a Tina Turner nem os AC/DC como o poderia fazer. Agora se fosse algum destes os meus artistas de sonho como realizaria isso? Daí pensei nas pessoas que assim podem-nos ver pelo menos neste formato.
AMMA: Em Portugal existem muitas bandas de tributo? São transversais aos mais diversos estilos musicais?
AL: Em Portugal existem mesmo muitas e muito boas, ainda assim escolho sempre dentro dos artistas que quero, as melhores. Por vezes existem várias bandas de tributo aos mesmos artistas em Portugal e faço questão de as ver actuar primeiro.
AMMA: Após o balanço do Festival desse ano, pensa expandir para algo maior, com mais bandas e mais dias de espectáculo?
AL: Bem, este ano tenho a certeza que ultrapassará e muito o número de pessoas que no ano passado, embora este ano tenha o custo modesto de 2€, no entanto ainda não estamos no formato dessa logística, mas é esse o caminho. Nesta Freguesia temos um campo noutro sítio enorme, com condições para esse formato. Quando ele estiver a esse nível a ideia do futuro do Summer Tribute é de ser de dois dias e várias bandas. Mas isso é quando chegar aos apoios que pretendo alcançar no futuro.
AMMA: Tem uma grande equipa a trabalhar nesta segunda edição do Festival Summer Tribute? No geral partilham a sua visão em termos e Festival para bandas de tributo? No terreno são cerca de quantos elementos no vosso staff?
AL: A equipa não é grande, até lhe digo que é pequena mas é eficaz. Somos quatro elementos, mas toda a gente competente e que partilham a mesma vontade que a minha. Desta vez não temos que montar palcos, casas de banho etc. são empresas que o fazem. Vamos oferecer a exploração da restauração. No momento nós os quatro somos a equipa perfeita. No entanto se no futuro for necessário, obviamente fazemos com mais. Como no final do Summer Tribute do ano passado comecei logo a tratar deste, isto vai com muito tempo para não andarmos a correr.
AMMA: Que palavras de convite quer deixar aos nossos leitores que também partilhem o gosto por ouvir bandas de tributo e mesmo aos que não têm esse hábito, mas que possam ser potenciais espectadores do Summer Tribute em Delães?
AL: Tenho a dizer-lhes que irão disfrutar de um grande espectáculo. As bandas são do melhor que temos em Portugal neste formato. Teremos muitas surpresas durante o evento (que ainda não posso desvendar), terão uma entrada simbólica de apenas 2€, como já referi anteriormente e a restauração será de preços muito acessíveis. Certamente irá ficar na memória deles. Se os que assistiram ao primeiro ainda falam nele, imagino agora com este. Aproveito para dizer que as próximas para 2024 já estão escolhidas, só para terem a noção de como trabalhamos. Serão sempre feitos para agradar a dois tipos de culturas musicais.
Texto: Pedro MF Mestre
Cartaz: Cedido por António Lobo
A conceituada artista plástica Rosa Vaz, comemora os seus 35 anos de Arte e Cultura com uma exposição a inaugurar a 6 de Maio pelas 16h30 na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva em Braga, estando presente neste local até dia 27 de Maio. Depois seguem-se outros destinos onde estará patente, locais esses com muito significado para a artista.
Rosa Vaz é uma artista multidisciplinar. Desenvolve trabalhos em vários suportes e técnicas, onde podemos destacar pintura em tela, aguarela, pintura cerâmica de peças e de painéis de azulejo, ilustração, mais recentemente pintura têxtil e a joalharia. É também autora do livro de poesia “Pele de Lua” e já está a preparar a publicação de uma segunda obra literária. Para além desta área de criatividade, também é Promotora cultural, uma atividade que a tem acompanhado ao longo da vida, nomeadamente na organização de eventos culturais, em parceria com a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, Museu D. Diogo de Sousa , Museu dos Biscaínhos , Universidade Católica de Braga, essencialmente na promoção da cultura da Lusofonia, desde a organização dos Dia de África à promoção de escritores e cantores da lusofonia. Este é um aspeto muito interessante na vida da artista. A sua obra é muito divulgada no Norte do país, em especial, em Braga, onde reside e tem o seu atelier. O seu trabalho também é conhecido noutros destinos tanto em Portugal como no estrangeiro, como por exemplo em Espanha, EUA, Canadá, Lituânia, Angola, etc.
Está representada em várias instituições e tem trabalhos em conjunto com outros artistas muito ligados à lusofonia.
A sua história de vida é feita de desafios. Nasceu em Malange, Angola, onde viveu aí a sua infância. Filha de mãe angolana do Huambo e pai português de Monção, no meio da guerra civil vem viver para o Norte de Portugal, a Monção. A viagem foi decisiva para a sua arte, pois os azuis que utiliza nas suas obras têm a ver com o azul do mar que foram sua companhia ao longo da viagem de barco, entre Angola e Portugal. Uma viagem sem retorno, que marcou a sua vida para sempre, pois para lá do azul do mar ficaria o seu passado, a sua essência, África. O mar tornou-se assim um grande aliado, da sua vida, um comparsa de silêncios e saudades, um companheiro de criatividade, ao longo da sua criação. Assim, passear perto do mar no Norte do País, tornou-se um hábito, uma terapia, onde encontra a paz e tranquilidade para depois desenvolver a sua arte.
A sua obra também tem muito a ver com cores fortes africanas e gosta muito de ilustrar a mulher angolana, a sua importância e papel, nos laços familiares.
Esta exposição comemorativa dos seus 35 anos de carreira não só tem obras que ilustram a evolução da artista, como também peças documentais e de recordação do percurso ao longo destes anos de actividade.
Já mostrámos aos nossos leitores no passado a carreira e a artista em si. Hoje vamos falar com ela para nos dar uma retrospectiva destes 35 anos de carreira artística assim como outras curiosidades da sua actualidade.
AMMA: 35 anos de carreira reflectem um percurso em várias valências, inspirações e novas experiências. Como retrata este caminho?
Rosa Vaz: Este caminho tem sido calcorreado sempre com muita criatividade e desafios que se me têm colocado, ou percursos que escolho, no sentido de encontrar novas formas de comunicação criativa,
AMMA: É mais fácil ser artista plástica ou curadora, sendo ambas arte?
RV: Na minha perspetiva para quem é artista e gosta da comunicação, organização, ser curador de eventos culturais é só mais um aspeto, uma oportunidade de comunicar com os outros. No meu caso, ser artista é a base da minha existência, é essa estrutura que me permite conhecer/identificar aspetos Culturais nos outros e que valham ser mostrados, colocados à disposição do público.
AMMA: São mais desafiantes as exposições colectivas ou individuais?
RV: São universos diferentes. Nas Exposições individuais, o artista mostra só o seu trabalho, o público tem só o universo desse artista para observar, entender, apreciar ou não; no caso das Coletivas, o artista é mais um elemento de uma construção gigante sobre a comunicação e, o público estará muito mais disperso na análise das linguagens dos artistas.
AMMA: A poesia, através do seu livro “Pele de Lua” vem complementar o trabalho artístico de Rosa Vaz? Já vem uma segunda obra a caminho, é poesia ou prosa? Tem data prevista para a lançar?
RV: A poesia faz parte da minha essência, é uma forma de ‘’pintar’’ com palavras, assim como, muitas vezes as obras pictóricas, são poemas pintados, coloridos. O segundo livro também é poesia e deverá ser apresentado em Setembro.
AMMA: Mais recentemente também tem desenvolvido trabalhos em pintura cerâmica, pintura têxtil e joalharia. Como surgiram estes novos desafios? Têm tido muita procura?
RV: Faz parte da essência dos artistas caminhar em vária formas de comunicação artística, é inerente à alma criativa; no meu caso, é também um desafio que coloco a mim mesma, como mais um patamar. A joalharia nasceu como um desafio, e como homenagem à terra do meu pai, a minha terra adotiva, Monção, e numa homenagem também ao vinho alvarinho, à vinha, como planta, como representação dessa terra e suas gentes. Sim , estou contente com a procura das minhas obras. Quem gosta de arte, procura sempre ter várias representações da expressividade artística do artista.
AMMA: Como professora que maiores alegrias lhe dão os seus alunos? Acabam por ser inspiradores para o seu trabalho de docente e artista?
RV: Como professora, sinto-me completamente realizada, feliz por sentir que ao fim de trinta e tal anos de serviço, ajudei a construir muitas vidas, e os alunos ao longo dos anos e até em adultos, procuram-me na escola, vão dar-me um abraço e agradecer os conselhos, o carinho, a paciência. Sabe bem receber um desenho deles, um abraço de saudades, sabe bem o reconhecimento do investimento na humanização do ensino e da pedagogia e todos estes momentos são intrínsecos á minha forma de estar/ser e a Arte é sempre uma componente muito forte neste percurso de docente, onde o maior objetivo é sempre que o ensino, a escola produza seres humanos felizes, autoconfiantes e com muito respeito e amor pela vida.
AMMA: Que novos desafios tem para os próximos tempos que queira revelar?
RV: O meu próximo desafio será escrever um livro de histórias infantis e continuar com o mais recente desafio, desenhar joias.
AMMA: Que mensagem de artista plástica com 35 anos de carreira gostava de deixar aos jovens que se estão a iniciar na arte ou ainda estão nos primeiros anos? Como devem reagir às adversidades?
RV: Gostaria de lhes dizer que NUNCA desistam de criar, dos seus sonhos. Sejam persistentes, organizados e trabalhadores. Tracem objetivos, planifiquem a curto e médio prazo, e, sobretudo amem o que fizerem o que criarem. Sejam críticos do vosso trabalho, registem dados, analisem e procurem percursos com coragem e persistência.
Algumas obras da artista incluindo a capa do seu livro Pele de Lua:
Texto: Pedro MF Mestre
Fotos e materiais: Cedidos por Rosa Vaz
Ricardo Costa Correia lançou o seu quinto romance “Madre Paula - Rainha na Sombra” no passado dia 18 de Novembro no Mosteiro de São Dinis e de São Bernardo em Odivelas. O autor vai estar numa nova sessão de apresentação, desta vez a Norte em São Mamede de Infesta a 7 de dezembro na Taberna Medieval "O Caldeirão", num evento a decorrer entre as 19h00 e as 23h30.
Este escritor tem como caracterítisca criar a ficção à volta de figuras históricas conhecidas. Desta vez tudo decorre no século XVIII.
Ricardo Costa Correia lançou o seu primeiro romance em 2017 “O segredo dos Bragança” com a história à volta do reinado de D. Carlos, livro esse cujas vendas correram conforme as suas expectativas.
No ano seguinte inicia a trilogia para um enredo histórico mais longo com o título “O regresso do desejado” à volta da vida de D. Sebastião após a batalha de Alcácer Quibir com a ideia da expansão do reino pela Peninsula Ibérica em vez de voltar ao norte de África. Esta trilogia despertou o interesse de um produtor norte-americano logo após a Feira do Livro de Lisboa desse ano. Contudo com o surgir da pandemia ficou temporariamente suspenso, pretendendo-se que retome para breve.
Quanto ao novo romance “Madre Paula – Rainha na Sombra” falamos de Paula Teresa da Silva e Almeida que ingressa na vida religiosa nas freiras do Mosteiro de Odivelas.
O seu pai é ourives de profissão e ambiciona melhorar a vida e de suas filhas pelo facto de ser fornecedor da Casa Real. Contudo Paula não tem vocação para a vida religiosa, ao contrário da sua irmã mais velha. Paula é uma bela jovem que não passa despercebida ao rei de Portugal, dom João V que a toma por amante. A raínha apercebe-se e consegue conquistar a sua inimizade, contudo o seu amor pelo rei aumenta. Paula é manipulada pelos inquisidores lisboetas que querem retomar o poder que tinham antes da Restauração de 1640 e esta jovem é o instrumento perfeito para espiar a corte e o rei.
Madre Paula entre amante do rei, mãe de um filho bastardo Inquisidor Geral de Portugal pouco tempo antes do Terramoto de 1755 e religiosa no Mosteiro de Odivelas, é uma das mais influentes mulheres do seu tempo.
Fica a questão: Quem foi na realidade Madre Paula?
AMMA: Um quinto livro em cinco anos, com um enredo à volta de figuras históricas, entre a corte, nobreza, clero e individualidades importantes da nossa história, é uma paixão muito ambiciosa? Quanto tempo demora materializar uma obra deste género?
Ricardo Costa Correia: Comecei a escrever o que viria a ser “O Segredo dos Bragança” cerca de 2012 ou 2013. Tinha feito uma extensa pesquisa sobre o Portugal da viragem do século XIX para XX e pensei que haveriam muitos pontos de interesse para explorar. Depois, com a dificuldade de entregar o manuscrito a uma editora, mas ainda assim explorando o quanto gostava da investigação, resolvi que haveria de dar um pulo mais atrás no tempo. Em finais de 2014 começou por isso a nascer a história ao redor de D. Sebastião, pensando desde sempre explorar um caminho alternativo à História de Portugal. Apenas publicaria “O Segredo dos Bragança” em 2017 e “O Regresso do Desejado” a partir de 2018. Claro que muitas vezes as pesquisas para uns assuntos nos levam a outros e acabam por nos envolver. Desde 2019 que faço Recriação Histórica e pratiquei Esgrima Histórica com a Companhia Livre e a Academia de Esgrima Histórica. Mas quase todos os meus livros demoram alguns anos a ser preparados, pois gosto de investigar para poder depois passar ao papel com ideia que sejam bem enraizadas. Este novo “Madre Paula, Rainha na Sombra” é também o resultado disso. Comecei a escrevê-lo em 2021, mas já desde 2020 que pesquisava e aprofundava o conhecimento sobre o Mosteiro de Odivelas e sobre o reinado de D. João V. Não tenho um prazo específico, mas penso que um livro deste género, entre a pesquisa e a escrita deverá tardar entre 2 a 3 anos.
AMMA: Para escrever um romance nesta linha de pensamento, estuda muito o perfil das personagens históricas e o contexto geopolitico para depois as entrelaçar com a ficção?
RCC: Sem dúvida. Não conseguiria recriar uma personagem histórica sem a conhecer profundamente. Por brincadeira digo muitas vezes que às vezes chego a sonhar com essas personagens. Há sempre nos meus livros personagens verdadeiros, que existiram no seu tempo e a esses não consigo subverter. Deixo que eles sejam quem são, que desempenhem as tarefas que historicamente deveriam ter. Depois tenho as personagens da ficção que me acompanham e que são criadas por mim, com a ideia concreta do que eram as pessoas no período histórico de que falo em cada livro. Por vezes individuais, outras vezes caindo mais nos estereótipos ou mesmo como personagens coletivas. Todos os contextos e em especial o geopolítico são fundamentais. Recordo por exemplo o episódio do mapa cor de rosa, n’”O Segredo dos Bragança”, Alcácer-Quibir n’”O Regresso do Desejado” e mesmo neste “Madre Paula, Rainha na Sombra” não foram esquecidas as feridas com ingleses e holandeses em Angola e em Pernambuco, e também o Terramoto de 1755, que Paula terá vivido em pessoa, sofrendo com a devastação que o mesmo provocou a Odivelas.
AMMA: Com o facto de usar a corte e acontecimentos reais com a trama imaginária considera um desafio ou alguma ousadia no sentido positivo?
RCC: Escrever é por si um desafio. Posso contar a História de Portugal, mas quando o faço, há sempre uma parte do meu entusiasmo e da minha experiência que transparecem para as páginas de um livro. Não o considero uma ousadia, visto que estou a falar de personagens que já desapareceram há mais de um século, mas espero que para quem leia possa sentir-se pelo menos tentado a ir conhecer mais sobre as personagens históricas de quem falo.
AMMA: As suas obras centram-se basicamente em personagens dos finais da 2ª dinastia e da 4ª. Tem mais facilidade em conhecer bem o perfil real dos protagonistas para desenvolver os romances?
RCC: É engraçado porque calhou. Confesso que em termos históricos há períodos concretos que me fascinam. Já escrevi sobre um desses períodos que é o início do Partido Republicano e a transição dos séculos XIX para XX. Depois o período que chamamos de Filipino, entre 1580 e 1640 é outro deles. Falei sobre esse período, mas não o abordei do ponto de vista do romance, mas sim de uma ficção, contando uma história alternativa. Talvez algum dia lá volte, quem sabe após uma nova visita ao Arquivo Geral de Simancas em Madrid ou ao Arquivo das Indias em Sevilha. D. João V é um rei de uma fase transitória na 4ª dinastia: ainda se sentem os tumultos da Restauração de 1640, mas ainda não chegámos à estabilidade completa. E o Rei-Sol Português foi quanto a mim bastante mal caracterizado pela historiografia, que tem ainda muito a descobrir sobre este período. Os perfis dos monarcas que governaram nestes períodos sobre os quais escrevi foram muito interessantes de caracterizar, mas ainda há muitos mais. E muito mais para descobrir.
AMMA: Como surge “Madre Paula”? Qual foi a fonte de inspiração para este trabalho?
RCC: “Madre Paula” surge precisamente de uma vontade de trazer alguma justiça a uma personagem injustamente esquecida pela história. A minha existência “cruzou-se” com o Mosteiro de Odivelas em 2015 e desde aí que o fascínio me puxou a descobrir muito mais. Foram vários os autores que sempre o trataram como uma espécie de prostíbulo ou bordel real e é impossível não falarmos de Odivelas sem nos passarem inúmeras anedotas e ditos jocosos pela cabeça. Em 2020, os meus editores sugeriram que buscasse uma personagem feminina para variar um pouco nas minhas narrativas e experimentar algum caminho. Falar sobre rainhas é interessante, mas supõe um desafio acrescido pois foram sempre tratadas nas sombras do rei que serviram. Em conversa com a minha esposa, que é de Odivelas, e entre as dúvidas sobre recuar ao tempo do patrono D. Dinis ou ficar numa época mais recente, Madre Paula surgiu como uma agradável surpresa. Era uma personagem ligada profundamente ao mosteiro de Odivelas e à história local, ao mesmo tempo que tinha sido muito injustiçada pela História. Daí ao início da descoberta foi um pulo, e seguiram-se meses de investigação, conseguindo muito pouco, mas o suficiente para começar a montar uma história.
AMMA: O facto de Paula ser amante do Rei e isso despoletar automaticamente a inimizade da parte da raínha, torna o fio condutor de toda a história? Ou seja o romance roda à volta deste trio?
RCC: Se o fosse já contar, os leitores perderiam a vontade de descobrir este livro. A rainha Maria Ana de Áustria tem uma influência e uma inimizade profunda pela rival, como o teve pelas outras amantes de D. João V. Só que o rei nunca deu a nenhuma delas o que deu a Madre Paula. E a rainha foi de alguma forma “obrigada” a aceitar a sua existência, pois Paula tinha um espírito e uma ambição bastante vincados e fortes. O romance ronda sempre à volta de Paula, que é a sua personagem principal. Acaba por se estender além da morte de D. João V, pois Paula ainda o sobreviveu por mais 16 anos, em que perdeu algum do seu fulgor, mas continuou a ter alguma presença na corte de D. José I, o rei que enfrentaria os desastrosos resultados do terramoto de 1755. Não esquecendo a presença de Sebastião José de Carvalho e Melo, aqui ainda retratado como jovem fidalgo e embaixador de Portugal em Inglaterra e na Áustria.
AMMA: Como vai buscar a figura do Inquisidor Geral de Portugal e o seu papel no romance?
RCC: Um dos meus locais preferidos de investigação são os Tomos da Inquisição Portuguesa. Por lá consegue-se perceber muito da sociedade portuguesa entre os anos de vigência da instituição. Durante os reinados de D. João V e de D. José I, a Inquisição Portuguesa é profundamente reformada e nem a propósito, o filho bastardo de D. João V com Paula, também chamado José, um dos meninos de Palhavã, é eleito Inquisidor Geral do Reino. Sendo a sua mãe uma religiosa e o seu pai o rei de Portugal, não é difícil perceber que as intrigas à sua volta seriam bastante “sumarentas” para qualquer livro que se referisse a este período.
AMMA: Sendo “Madre Paula” religiosa, como consegue gerir a sua relação com o filho, o bastardo do rei?
RCC: Espero que os leitores descubram, mas há algumas coisas bastante interessantes. A correspondência entre os dois não é vasta, mas há uma linha de texto muito curiosa. À pergunta de Paula sobre se o seu filho não teria consideração para com a própria mãe, o filho responde-lhe que o bastardo de um rei não tem mãe mas apenas pai, pois é simplesmente um “filho da mãe”. Talvez até tenha sido aqui forjada essa expressão... mas isso, deixo aos estudiosos e investigadores exclusivos deste período para que o descubram.
AMMA: Já tem novos trabalhos em preparação? Pode desvendar um pouco o que está para vir a seguir?
RCC: Agora, há que relaxar por um pouco e levar o livro “Madre Paula, rainha na sombra” ao maior número possível de leitores por todo o país e se possível a toda a diáspora no estrangeiro através da venda online. Contudo, há novas histórias em preparação e novas aventuras a caminho. Não sei ainda onde a imaginação irá parar, mas há alguns períodos da nossa História, uns mais recentes e outros um pouco mais antigos que eu gostava de explorar. Talvez daqui por algum tempo, se essa pergunta for novamente feita, eu já possa ter uma resposta mais segura para ela.
Texto: Pedro MF Mestre
Fotos e Capa: Ricardo Costa Correia e Ego Editora
Sofia Caessa é uma escritora e contadora de histórias para crianças com muito sucesso, talento e sempre disponível para abraçar novos desafios.
Já editou dois livros infantis tanto com a versão em português como também com tradução para a língua inglesa. É também mentora do projecto “Contos por carta” que proporcionou às crianças durante a pandemia, que devido ao confinamento não podiam ir às sessões da autora para ouvir contar as suas histórias. Sofia Caessa criou os “Contos por carta", uma ideia inovadora de contar histórias infantis que mesmo após os confinamentos provocados pela pandemia continua a ser um sucesso e é um modelo para continuar. Em vez de usar o tradicional livro, as crianças recebem na sua caixa do correio os capítulos através de uma carta, durante várias semanas. É interessante os mais novos receberem uma carta para si com um capítulo de um livro, que no final dos envios têm a história completa. Neste projecto dos “Contos por Carta”, Sofia Caessa envia as cartas para qualquer país da União Europeia e tem também finalizada uma versão adaptada ao ambiente escolar que conta com a participação dos educadores.
Com o conflito na Ucrânia, a escritora fez uma carta específica para crianças ucranianas hospitalizadas ou mesmo a necessitar de um carinho especial. Essa edição teve tradução para ucraniano e foi difundida de forma a chegar ao maior número de crianças possível.
Sofia Caessa tem tido uma vida conturbada em termos de saúde, lidou com dois cancros da mama e um dos seus filhos também teve leucemia.
Mesmo com estas rasteiras pregadas pela vida tanto na primeira como terceira pessoa (“eu” e “ele”) Sofia não baixa a guarda e com muita coragem e mesmo com os seus tratamentos e os do seu filho, continua a escrever, a contar histórias para crianças e a contribuir para as tornar mais felizes.
Desta vez o livro "Amar a Vida como ela é" não é para a mesma audiência das obras anteriores. Aqui ela expõe a sua vivência dos episódios clínicos e a sua fragilidade em termos de saúde, o seu testemunho do que foi passar por eles e como superou e também "Amar a Vida como ela é".
AMMA: Habituada a escrever para crianças, fazer este novo trabalho literário foi um grande desafio?
Sofia Caessa: Antes de escrever para o público infantil eu escrevia artigos para revistas. E, desde sempre, escrevi prosa e poesia como forma de lidar com as minhas emoções e os meus desafios.
AMMA: Escrever sobre si, principalmente testemunhar a vivência dos dois cancros que teve, como também a leucemia do seu filho não deve ser fácil. Como teve energia para materializar este livro? Houve muitas lágrimas a correr pelo seu rosto ao longo do projecto?
SC: Durante o processo de tratamento do meu filho, agarrei-me à escrita como uma boia de salvação. Acreditei e ainda acredito que partilhar a minha experiência e a forma como a encaro poderia trazer algo de bom para os outros. Escrever sobre esse sofrimento e deixar as lágrimas pintarem as folhas foi uma maneira de enfrentar as minhas emoções e não deixar que as suprimisse.
AMMA: Este livro foi espontâneo, ou partiu de um desafio de alguém?
SC: Os textos foram surgindo espontâneamente. A certa altura senti a necessidade de partilhar esses textos num blogue. Depois de perceber o impacto positivo que estavam a ter nas pessoas decidi abordar uma editora com uma proposta editorial. Após aceitação dessa proposta estive cerca de dois anos a escrever este livro.
AMMA: A obra está mais direcionada para pessoas que estejam a passar por uma situação de cancro, seus familiares, ou foi estruturada para ser lida por todos?
SC: Apesar de ter um ênfase no cancro, pela experiência pessoal que tive com essa doença, acredito que a mensagem poderá ser abraçada por qualquer pessoa que esteja a passar por um obstáculo ou desafio, quer seja a nível de questões de saúde ou de outra natureza.
AMMA: Que mensagem chave quer passar aos seus leitores com esta obra?
SC: Quero passar a mensagem que o amor e a aceitação incondicional são essenciais na vida. Não senti revolta pelo meu cancro nem pelo cancro do meu filho. Aceitei a realidade tal como ela me foi oferecida. E amei o quanto pude amar: o meu corpo doente, o corpo doente do meu filho, a minha vida que tinha vivido até ao momento, o milagre de ser mãe do meu filho... Senti muita gratidão pela minha vida e pelo amor que tinha por tudo e todos na minha vida, mesmo sabendo que a minha morte ou a morte do meu filho eram uma possibilidade real.
AMMA: Acha que este tema não é muito falado em Portugal? Será por reserva à vida privada das pessoas que passam por cancro, para não relembrar o sofrimento, ou não há interesse em elaborar e publicar obras literárias deste género?
SC: Sinto que nos últimos tempos têm surgido mais obras sobre cancro. Há mais testemunhos sobre quem passou por esta doença. Também há, infelizmente, um número avassalador de casos de doenças oncológicas por ano. Mesmo assim, ainda é uma doença e um tema que causa sofrimento, difícil de abordar e discutir. Ainda não se diz a palavra "cancro" com a naturalidade que se diz "diabetes", por exemplo.
AMMA: Esteve presente na Feira do Livro de Lisboa no dia 3 de setembro pelas 16h00 para o lançamento do livro na Editora Alma dos Livros e com a respectiva sessão de autógrafos. Para si foi um privilégio fazer o lançamento neste evento?
SC: Para mim, poder fazer o lançamento na Feira do Livro é um sonho que nem sequer tinha sonhado por ser tão grandioso!
AMMA: Que mensagem quer passar para os seus leitores, de forma a enquadrá-los na obra e também aos que estão a passar por situações parecidas com as suas?
SC: O meu desejo com esta obra é ajudar quem esteja a passar por uma situação de sofrimento a encará-la de outra forma, a ver essa situação de uma outra perspetiva. Eu sei o que é viver com a sombra do morte a espreitar por cima do ombro mas isso nunca me impediu de viver a minha vida, de amar a minha vida e de correr riscos. A vida é para ser vivida na sua plenitude, aceitando-a pela sua imensa fragilidade intrínseca.
Texto: Pedro MF Mestre
Imagem e foto cedida por Sofia Caessa
Os LUCKY DUCKIES são uma banda revivalista de “vintage swing and rock’n’roll”, fundada pelo seu vocalista Marco António em 1987. Comemora este ano 35 anos de existência com muita animação musical ao longo dos mais variados locais e palcos por onde têm passado.
Marco António oriundo da Póvoa de Santa Iria, perto de Lisboa, iniciou a sua formação musical aos 14 anos com a música evangélica, tanto solfejo como o órgão eléctrico. A voz não era o seu forte (pensava ele) sendo esse o motivo pelo qual abandonou o coro “gospel” que frequentava.
Mais tarde descobre os seus talentos e a voz estava no topo.
Os LUCKY DUCKIES inicialmente eram os “Promúsica”, entretanto ao fim de um ano de existência mudaram para o nome que ainda hoje prevalece.
Actuaram em festas privadas, eventos, hotéis, locais de glamour, dos pequenos palcos passaram para os grandes e hoje são um grande sucesso a nível nacional e internacional com muitas actuações e trabalhos gravados.
Os temas que tocam, entre originais e covers com arranjos da sua autoria fazem o seu público vibrar e reviver esses tempos áureos do Séc. XX.
Para reviver, não falamos somente de música, mas também de um cenário de palco composto por mobiliário que enquadra a época que se está a reviver assim como o guarda-roupa dos artistas. A “imagem de marca” de Marco António é sem dúvida a sua poupa bem definida.
Actualmente, e a título de núcleo duro, a banda tem nas vozes principais Marco António e Cláudia Faria e é composta por piano (João Carreira), bateria (Diogo Melo de Carvalho), guitarra (João Santos) e contrabaixo (Sérgio Fiúza). Por vezes para alguns eventos maiores e especiais adicionam saxofone (Kajó Soares), uma segunda guitarra (Pedro Soares) e percussão (Francisco Fernandes). Os músicos também colaboram nos coros.
Embora Marco António seja o seu líder e mentor, ele gosta de tratar a banda como um todo e todos tomam parte activa nos arranjos musicais e novos temas. Cláudia Faria também participa nessas tarefas.
Cláudia Faria juntou-se mais tarde aos LUCKY DUCKIES já no ano de 1998. Ela também tem formação musical. Iniciou-se em 1980 através da guitarra espanhola de cordas de nylon que o seu avô lhe ofereceu. Também participou, em termos musicais, em eventos na Igreja do Campo Grande em Lisboa. A sua família que também está ligada à produção de espectáculos, portanto nessa altura já “jogava em casa”. A sua primeira função na banda foi liderar as “back-vocals”, mais tarde passa a fazer par com Marco António na frente palco na voz e no pé de dança.
Voltando ao Marco Antonio, que para além da música partilha o seu tempo noutras artes, nomeadamente a pintura. Desde cedo que a professora primária notou este seu talento e alertou a sua mãe para que não ficasse escondido incentivando-o a ir para Belas-Artes. Além de músico ele também é pintor.
Nestes tempos que vivemos recentemente de confinamento, Marco António como não podia pisar os palcos com a banda, recriou um novo modelo de negócio, satisfazendo as suas encomendas de retratos em pastel.
À conversa com Marco António e Cláudia Faria:
AMMA: Quando iniciou a formação musical na Igreja Evangélica tinha alguma ideia que iria ter este sucesso com a banda, ainda mais na voz, algo que não gostava muito dela?
Marco António:Não imaginava, nem estava para aí virado! Pensava já que queria ser advogado. A minha voz na adolescência encontrava-se em fase de transição de soprano para tenor. Hoje sou barítono. De forma que as partes de harmonia que me eram dadas a executar eram muito altas e eu quase me esganiçava. Achava que não tinha assim tanto talento. Não tinha era a parte adequada às minhas cordas vocais. Percebi isso mais tarde.
AMMA: Embora tenha deixado de participar na banda e no coro “Gospel”, nunca deixou a música de lado?
MA: Nunca, pois ia cantarolando e tocando lá por casa da minha mãezinha que me estava sempre a elogiar. Mas mãe é mãe! E ela também cantava muito bem, a minha saudosa querida “Ildinha” que Deus já lá tem.
AMMA: A Universidade marcou-o muito na música através das actuações nas famosas festas das faculdades tanto em Lisboa, como noutras cidades com tradição académica. Já era revivalista nessa altura?
MA: Sim, sempre fui revivalista ab origine! E claro, com um aspeto vintage dava nas vistas tanto para alunos como para professores. Entrei na Faculdade Direito de Lisboa em 1986, e em 1988 dava lá um meu primeiro concerto universitário que foi um sucesso. Tinha alguns professores a assistir ao concerto e curiosamente dois deles são atualmente altas figuras do Estado: o nosso Presidente da República Professor-Doutor Marcelo Rebelo de Sousa e o nosso Primeiro Ministro Dr. António Costa, assistente do referido professor catedrático de Ciências Políticas e Direito Constitucional.
AMMA: O grande senhor da TV, como também é conhecido Júlio Isidro chamou-o ao seu programa de então. Como foi essa participação? Estava muito nervoso?
MA: Eu já tinha feito algumas atuações em TV. Mas foi o convite para integrar o programa do Júlio “Turno da Noite” nos anos 90, num episódio em tributo a Elvis Presley que me começou a dar alguma visibilidade. Pois o Júlio, apesar de mais jovem já eram um mito, já era considerado um dos melhores e mais inovadores comunicadores sem perder a classe, pois também ele fora inspirado noutras mestres como o Fernando Pessa e o Artur Agostinho. Criou-se uma amizade que cresceu paulatinamente graças a uma admiração e respeito mútuos.
AMMA: A experiência que teve na Orquestra Ligeira do Exército da Carregueira com o Maestro Sargento-Mor Pinto de Sá, quando cumpriu o serviço militar, abriu novas portas e novos projectos em mente?
MA: Sem dúvida! Fui convidado para ser “crooner” da Big Band e cantar clássicos da música americana dos Anos 30, 40 e 50. Foi mágico e deu-me alguma bagagem.
AMMA: Das festas particulares há umas curiosas passadas nos anos 90. Dois casamentos relacionados com dois conhecidos e sucedidos produtores de espetáculos. Como foi?
MA: Ah sim! O primeiro foi sermos escolhidos para animar o casamento do Álvaro Covões da Everything Is New, o homem do NOS Alive. O segundo foi o Luís Montez, que na altura era seu sócio e nos contratou para animarmos o casamento do seu cunhado Bruno Cavaco Silva, filho do então Primeiro-Ministro e que mais tarde viria a ser também nosso Presidente da República.
AMMA: Vamos agora a uma questão mais delicada. Numa ocasião também cantou “à capela” no funeral de um amigo. Como se consegue cantar neste ambiente envolvido num misto de emoções?
MA: Não é fácil, pois tinha um nó na garganta, mas lá consegui cantar afinado. Foi no funeral do meu querido amigo Alberto da Ponte, antigo CEO da Central de Cervejas (Sagres) e antigo Presidente da RTP.
AMMA: Um dos temas curiosos que compuseram, foi o Hino da Cerveja. Este trabalho partiu dos LUCKY DUCKIES ou foi alguém que vos desafiou a fazê-lo?
MA: Foi precisamente o Dr. Alberto da Ponte, ainda em vida, que, quando era Grão Mestre da Confraria da Cerveja, me entronizou como Confrade de Honra.
AMMA: Uma pergunta indiscreta… quando e como surge a popa e é definida esta sua imagem de marca?
MA: Desde 1977, quando vi as notícias da morte do King Elvis, que me apercebi que era um penteado que ficava bem em qualquer homem que tivesse cabelo. Pois via as fotos a preto-e-branco do meu pai e dos meus tios e reparava que eles também usaram nos anos 50 e 60 estes cortes de cabelo e que também eles pareciam galãs americanos de Hollywood. Era esse o aspeto que queria para mim.
AMMA: A Cláudia Faria aparece com a sua voz na banda em 1998. Nessa altura tiveram que fazer arranjos em muitos temas para contemplar uma voz feminina principal?
MA: Sim. Entrou paulatinamente e foi cantando temas lindos, mas mais adequados a serem interpretados por uma mulher, não só pela temática das canções como pela tessitura vocal adequada mais aguda e delicada de uma voz feminina. Por exemplo, introduzi logo na altura o tema “Que Será Será” da Doris Day e que eu gostava mas não cantava.
AMMA: Para a Cláudia foi um desafio que esperava ou para si foi uma surpresa quando passa das “back-vocals” para voz feminina principal da banda?
Cláudia Faria: Foi um misto das duas coisas. Adoro fazer arranjos de harmonias como backing vocal, mas confesso que me dá enorme prazer também ter interpretações enquanto lead singer. O Marco já me ia convidando, mas confesso que não tinha na época a mesma descontração que ele tinha. Acho que levei algum tempinho a amadurecer o domínio do palco perante multidões. Hoje estou completamente à vontade, aliás fico mais nervosa em ambientes mais intimistas com menos público.
AMMA: A sua formação musical, em termos instrumentais passa pela guitarra. Actualmente na banda costuma tocar num ou outro tema, ou prefere entregar a sua voz e contribuir nos arranjos musicais?
CF: Sinto-me mais confortável a cantar sem ter de me preocupar com a execução da guitarra. Mas por vezes têm vindo situações que se adequam a que eu o faça. E há registos em rádio ao vivo e programas de TV.
AMMA: A formação e a presença que teve na Igreja do Campo Grande foi determinante para a sua carreira?
CF: Sim, confesso que comecei lá a tocar após ter andado numa escola de música na Av. João XXI. Mas foi com o grupo de jovens que me entusiasmei mais e a debitar acordes para auto-acompanhamento.
AMMA: Nessa altura, a sua função era mais a voz ou o instrumento musical?
CF: Eram as duas coisas simultaneamente.
AMMA: Para se definir um alinhamento musical para um espectáculo o que conta mais?
MA: O tipo de evento que vamos fazer e o tipo de público que presumimos que vai aparecer. Mas não saímos das balizas do nosso conceito vintage!
AMMA: Os LUCKY DUCKIES já actuaram nos mais variados palcos pelo mundo fora, Europa, América, Médio Oriente, Oriente e também nos oceanos. Como é a vida de uma banda musical como esta a animar as noites a bordo de um cruzeiro? É um palco e um público muito diferente em relação a um espectáculo em terra?
MA: É sobretudo um público especial de variadas nações e que gosta muito de viajar, que é romântico e que aprecia muito o nosso repertório vintage. É uma batalha ganha!
AMMA: Têm curiosidades que queiram partilhar sobre as vossas experiências internacionais?
MA: São tantos os episódios! Lembro-me de termos actuado num Festival de Nostalgia na Sardegna, Itália, organizado no Romazzino pela Starwood Hotels Luxury Collection e de lá estar na plateia o Luís Figo com a esposa e o dono da COFINA (em mesas distintas) e só no dia seguinte descobriram que éramos portugueses. Atenção que deste festival éramos os mais desconhecidos do cartaz, pois faziam parte os Simply Red, Zucchero, Boney-M. Nesse concerto conheci o Sr. Timur Kuanishev, grande magnata do Cazaquistão que nos convidou a actuar numa megafesta do seu aniversário em Almaty, capital económica do seu país. Nessa festa estavam imensas estrelas de Hollywood na plateia a aplaudir-nos e percebemos o potencial que este projeto tinha para a internacionalização.
AMMA: Já que falamos de concertos, parece que já percorreram metade de Portugal continental a tocar. O convite para tocar na Concentração de Motos de Faro em 2010 onde tiveram um público de 40.000 pessoas, o que diz dizer isso para vossa carreira naquela altura?
MA: Foi realmente o primeiro megaconcerto que tivemos. Confesso que tinha algum nervosismo. Mas antes de entrar em palco, fiz uma oração ao Senhor, e claro tranquilizei-me e pensei para os meus botões: “calma Marco, eles estão alí amigavelmente para ouvir os LUCKY DUCKIES e são naturalmente aficionados em Rock’n’Roll, só tens é de interagir como amigo seles e ter algum sentido de humor!” E correu muito bem! Tenho uma grande gratidão com o Motoclube de Faro pela oportunidade que nos deu confiando-nos aquele enorme Palco Principal!
AMMA: Quando actuaram para personalidades estrangeiras qual foi a mais curiosa? Barac Obama? Ou têm mais alguma situação que também tenha sido curiosa? De onde partiu este convite?
MA: Sim, foi a convite dos serviços da Embaixada dos Estados Unidos da América a quando da Cimeira da NATO em Lisboa em 2010 para atuarmos para a Comitiva do Presidente Barac Obama no Lisbon Marriott Hotel. O Presidente e a Sra. Vice-Presidente Hillary Clinton ainda nos viram por uns minutos e acenaram-nos com um cumprimento gestual simpático. Foi-nos pedido na altura o maior sigilo e avisaram-nos que todos os nossos telefones estavam sobe escuta dos serviços secretos americanos naquele período. Pelo menos avisam-nos! Já passaram 12 anos hoje já não tem problema falarmos desse episódio. Para entrarmos revistaram-nos a todos meticulosamente e ao material musical também.
AMMA: Falando da vossa discografia, somente em 2010 decidiram editar um CD próprio com acordo com a FNAC para presença física em loja. Nunca tinham sentido essa necessidade antes? Era algo que não fazia parte da vossa ambição, ou houve algum tipo de entrave?
MA: Inicialmente não. Pois como nos dedicávamos a “pregar o evangelho do Rock’n’Roll”, e já havia tantos elementos discográficos da “Bíblia Sagrada do Rock”, achávamos que gravar covers não acrescentaria nada de novo. Mas os pedidos de fãs e sugestões de comunicadores de TV levaram-me a repensar na situação e a decidir gravar em 2010 o álbum “Glamour & Nostalgia-Part One”, sucedendo-se o “Part Two”, o “Na Língua de Camões”, o “30th Anniversary-Greatest Hits”, o “Lucky Christmas-Christmas Classics”, e os DVD’s “Glamour e Nostalgia” e “Live At Sintra”.
AMMA: Até ao momento os LUCKY DUCKIES têm uma vasta discografia em que incluem temas originais e covers com arranjos personalizados e “vintage”. Fazer arranjos a um cover é uma responsabilidade muito grande? Já alguma vez tiveram algum feedback engraçado de algum artista sobre um tema seu que tenham adaptado? Se sim, como foi?
MA: Sim! Tivemos do António Calvário e do Artur Garcia que elogiaram a versão que fizemos dos seus respetivos temas “É Tão Bom” e “Amor, Amor”. De Itália temos napolitanos a preferirem a nossa versão de “Tu Vuò Fá L’ Americano” à original de Renato Carosone, Que aliás discordo, o original é sempre o original e foi o original que nos inspirou!
AMMA: Estes dois últimos anos muito conturbados o Marco António cantor, dedicou-se à sua faceta de Marco António pintor com os retratos a pastel. O retrato é o tipo de pintura que mais tem a ver consigo ou tem algum outro que também domine e o realize como artista plástico?
MA: Sem dúvida. Conseguir ter uma expressão única de uma pessoa num retrato faz dessa obra uma obra única. Capturar a alma pelo olhar ou expressão de uma pessoa é um desafio gratificante quanto se atinge o resultado positivo.
AMMA: A técnica da pintura em pastel sobre papel rugoso especial é a sua preferida?
MA: Sim. Pois como sou impaciente e quero ver resultados com rapidez é a mais eficaz nesse aspecto. Alem de que se pode apagar e emendar com alguma facilidade.
AMMA: Durante a pandemia teve muitas encomendas? Foi um bom mercado para apostar?
MA: Confesso que sim.
AMMA: Que encomendas engraçadas, ou menos esperadas teve?
MA: De algumas figuras públicas e de animais de estimação.
AMMA: Ainda sobre a pandemia… ela esteve a dois passos de estragar a comemoração dos 35 anos de existência dos LUCKY DUCKIES, mas felizmente parece que está de alguma forma mais controlada e permitiu fazer uma excelente tournée que ainda está na estrada. Que balanço têm destes 35 anos de actividade? Que altos e baixos que tiveram, as vossas curiosidades… tem valido a pena esta dedicação?
MA: Momentos baixos nunca os houve, mas tivemos alguns momentos altos marcantes.
AMMA: Para este ano quantos concertos têm na agenda? Tantos já realizados como os previstos?
MA: Pelas minhas contas, sim, será mais um bom ano.
AMMA: Têm visitado muitas localidades novas? Quando regressam a uma terra que já vos recebeu no passado, vem à memória esses tempos?
MA: Claro, sempre!
AMMA: Embora os LUCKY DUCKIES sejam uma banda “revival”, os tempos mudam, as tendências e as tecnologias também. Qual é a vossa relação com as plataformas digitais para disponibilizar os vossos novos trabalhos em vez dos discos físicos?
MA:A melhor possível. O revivalismo é para a música e para o palco, é para o conceito. Mas não podemos ignorar que se não nos modernizarmos nos suportes pelos quais somos ouvidos, pura e simplesmente deixam de nos poder escutar, por mais que gostem! Só uma ínfima parte ouve discos de vinil, apesar de ser uma tendência crescente, mas pouco prática, e para uma pequena elite o nicho de mercado.
AMMA: Quanto a projectos novos, o que têm em mente para os próximos tempos?
MA: De novo é mesmo tentar novos mercados. Planeamos “invadir” Espanha”! LOL
AMMA: Para terminar que mensagem gostariam de deixar às bandas jovens que estão no seu início, as dificuldades que poderão vir a ter e como as ultrapassar… que postura devem ter para ter para chegar ao sucesso?
MA: Se eu soubesse a fórmula também estaríamos num patamar internacional muito maior. Mas advirto que devem estudar música, tentar ter coerência na criatividade, e serem pessoas responsáveis, humildes e cumpridoras. Devem sobretudo tratar os fãs como amigos e não como súbditos!
CF: Nunca desistam do sonho musical. É a música que dá alento àqueles que sentem que nasceram para ela. Não temos que viver economicamente dela. Pode ser um bom part-time. Se assim pensarem podem lentamente arriscar o viver da música exclusivamente. Não se deixem deslumbrar pela fama, esta é efémera. Vai e vem. É cíclica. Ser artista é ter a arte, não é viver dela!
Legenda das Fotos:
1) Foto para o álbum na "Língua de Camões"
2) Marco António num dos primeiros concertos da banda com o patrocínio da Harley Davidson
3) A primeira formação dos LUCKY DUCKIES em finais dos anos 80
4) Grande concerto no Centro Cultural Olga Cadaval, Sintra. Esta foto serviu para capa do DVD
5) Retratos a pastel pintados pelo Marco António.
6) Bonita moldura humana do seu público na Av. dos Aliados no Porto
Texto: Pedro MF Mestre
Fotos: cedidas por Marco António