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Hamlet de W. Shakespeare, TEC, Escola Prof. de Teatro de Cascais em tempo de pandemia, com Carlos Avilez

 

Hoje vamos ao Teatro. Não para assistir à peça em si, mas sim a um dos seus ensaios, e ainda falar com Carlos Avilez encenador do Teatro Experimental de Cascais (TEC) e director da Escola Profissional de Teatro de Cascais, sobre o teatro e o seu ensino em tempos de pandemia.

 

Em 2020 o TEC abriu as portas ao público a 15 de Maio, com a continuação da exposição “9+2” no seu Espaço Memória assinalando os 150 anos do Teatro Gil Vicente, local onde nasceu o TEC, onde levaram a cena as suas peças durante 9 anos consecutivos, e após um interregno a companhia voltou a este palco por mais dois anos, daí o nome da exposição ser “9+2”. Conseguiu-se a reabertura desta exposição com todo este espólio documental após o levantamento do confinamento geral, com as medidas propostas pela DGS para ter as portas abertas ao público com a devida segurança.

 

A primeira peça a ser levada ao palco do Teatro Mirita Casimiro pela companhia foi Bruscamente no Verão passado”, de Tennessee Williams. Foi um desafio pós-confinamento sendo uma experiência pela qual nenhum dos intervenientes tinha passado até ao momento. Com esta 165ª peça a ser apresentada ao público pelo TEC, entre 10 de Julho e 2 de Agosto, ainda teve uma componente solidária, a receita de uma das suas sessões reverteu totalmente para a Refood Cascais, o Teatro solidário com os que mais necessitam.

 

Como estamos em tempo de crise pandémica o teatro reinventou-se e em menos de um mês Carlos Avilez tem mais uma peça em palco, mas num formato ao ar livre, o “Caminho Real”, também de Tennessee Williams em cena de 7 a 20 de Agosto, no Anfiteatro do Parque Marechal Carmona em Cascais. Como tem sido habitual no final do ano lectivo, alunos da Escola Profissional de Teatro de Cascais fazem parte do elenco. Nesta peça participaram 40 alunos dos quais 33 são finalistas.

 

O ano não acabou aqui, o TEC ainda levou a palco YERMA de Federico García Lorca, com a estreia a 13 de Novembro e em cena até 13 de Dezembro, mas com a conjuntura de confinamento obrigatório ao fim-de-semana as suas sessões acabaram por ser reajustadas à nova realidade.

 

YERMA, para além do elenco fixo da companhia e com mais actores que têm feito parte da história do TEC ao longo dos últimos anos como Renato Godinho, Rita Calçada Bastos e Rodrigo Tomás, foi protagonizada por Sara Matos, que também começou a sua carreira passando pela Escola Profissional de Teatro de Cascais.

 

Já para este ano, o arranque das actividades do TEC com o público dá-se com HAMLET, de William Shakespeare a 21 de Abril. Tendo a tradução de Sophia de Mello Breyner Andresen, dramaturgia de Fernando Moser e colaboração dramatúrgica de Miguel Graça, conta com a encenação já característica de Carlos Avilez.

 

O seu elenco é composto por actores como Bárbara Branco, Diogo Martins, José Condessa (em Hamlet) e Maria João Pinheiro, que se juntam a Elmano Sancho, Flávio Gil, João Gaspar, João Pecegueiro, Luiz Rizo, Miguel Amorim, Miguel Loureiro, Renato Pinto, Rodrigo Cachucho, Sérgio Silva e Teresa Côrte-Real. Embora com uma lotação reduzida a 48 lugares sentados, segundo as orientações das autoridades sanitárias, o TEC leva a peça para a frente para o seu público.

 

Tivemos a oportunidade de ter uma agradável conversa com Carlos Avilez em que o  tema base é o Teatro em tempo de pandemia, tanto no TEC como na Escola Profissional de Teatro de Cascais. Vamos ver o que ele tem para nos dizer.

 

 

AMMA: Como encenador, o que é para si fazer teatro em tempos de pandemia?

 

Carlos Avilez: É horrível… por todas as razões claro. Para já por ser uma situação de não poder ter contacto, o teatro é uma coisa de contacto, nós estamos próximos uns dos outros. É um problema de ternura… e depois é um problema de tudo o que influencia. É evidente que uma pessoa que está em casa dois meses, quando volta, volta com muitos problemas de mobilidade inclusivamente, de depressão, de estar a dar um espectáculo e ter que parar e pior que isso, eu até ontem não sabia se havia ou não a estreia na 4ª Feira. Por exemplo no ano passado para fazer “Bruscamente no Verão passado” estive sete meses à espera de estrear e agora estava nessa espectativa de estreia ou não estreia, como é que se faz… é horrível… ensaiarmos de máscara e não nos podermos tocar, tudo isso…

 

AMMA: Os vossos ensaios foram reinventados com a utilização dos equipamentos de protecção. Foi complicado derivado à dinâmica que têm em palco?

 

CA: Foi complicado. Eu tenho a sorte de ter um extraordinário elenco. Tenho grandes actores que estão habituados a dominar as situações mais terríveis e mais complexas, mas para isto nós não estávamos preparados, não sabíamos, é uma coisa que nós desconhecíamos,  eu não sabia como me haveria de defender disto, como é que se defende de uma coisa destas. Fui surpreendido… faço 65 anos de carreira e nunca me tinha deparado com uma situação destas. Deparei-me com subsídios e com muita coisa agora com isto não, porque o inimigo é invisível.

 

AMMA: Após o primeiro confinamento no ano passado, abriu o ano do TEC com “Bruscamente no Verão passado”, de Tennessee Williams. A escolha dessa peça foi estratégica?

 

CA: Não. Uma programação é feita à distância, por exemplo esta peça que eu estou agora a fazer já estava a planear há mais de um ano. Eu fiz o Hamlet em 1983 e não pensava voltar a fazer por várias razões, inclusivamente as afectivas, o desafio, a grande peça, o grande momento, eu fiz e estou a fazer o Hamlet.

 

AMMA: Compensa abrir as portas da sala com as restrições de limite de público determinado pelas autoridades? Que futuro prevê para o teatro em Portugal enquanto durar a pandemia?

 

CA: Sabe, nem que seja para um espectador… nós representamos para o público e temos que ter público, é impossível não ter público… o nosso trabalho é para o público e uma relação com o público. É preciso que vejam o nosso trabalho. O cinema e a televisão tudo isso fica, o teatro não fica. É uma coisa que não fica. As pessoas sabem que existiram determinados espectáculos mas não vêm não sabem como eram. Ouvi falar da Ângela Pinto, mas nunca vi. Vi no cinema mas é diferente. Eu já atravessei muitas lutas, eu e os meus colegas todos e o teatro sobreviveu: à rádio, à televisão, ao cinema e agora o problema é sobreviver à pandemia.

 

AMMA: Como estão as companhias de teatro a sobreviver nestes moldes?

 

CA: Nas piores condições… as piores condições em que fiz um espectáculo desta dimensão foi exactamente o Hamlet actualmente.

 

AMMA: A segunda peça do TEC em menos de um mês, no ano passado, em espaço ao ar livre e com alunos da Escola Profissional de Teatro de Cascais, teve um motivo especial? Fez parte de uma experiência, ou foi idealizada dessa forma logo desde o início?

 

CA: Foi feito ao ar livre porque não podíamos fazer no Teatro. Era uma peça que estava prevista e adaptamos ao exterior, resultou bem. O Tennessee não é propriamente para exterior, mas aquela peça sim pode ser feita. Tive que me adaptar.

 

AMMA: Sobre a Escola Profissional de Teatro de Cascais, como se tem conseguido ensinar e aprender nestes tempos conturbados?

 

CA: Eu aprendo todos os dias e ensino todos os dias. Sabe, nós ao fim de uns anos temos uma experiência muito grande. Eu trabalhei com grandes nomes e tenho a obrigação de passar essa mensagem, mas também as coisas mudaram e o que realmente. Esta gente nova é uma geração completamente diferente, e a geração depois da pandemia é outra e eu aprendo com eles também e tenho uma relação muito forte com os meus alunos e essa é uma das razões também que me faz estar activo.

 

AMMA: Mesmo no teatro que é uma arte muito prática, chegou-se a fazer ensino à distância nas aulas teóricas?

 

CA: Mas eu não sei fazer… eu fui quase obrigado a fazer mas o teatro não é para ser feito online. É para ser feito ao vivo, mas é evidente que tinha que acompanhar os alunos mas senti-me um bocado frustrado porque não estava a ensinar nada. Estava a acompanhar as pessoas, estava a dizer as coisas, mas aquela experiência que eu tinha e queria passar, e que se vai ressentir evidentemente porque os alunos que tiveram as aulas de Teatro online não têm a preparação dos outros e espero que recuperem quando tudo isto acabar, mas não me sentia bem e fui sempre contra isso. Tive que me sujeitar porque senão não tinha contacto com os alunos.

 

AMMA: Como está o estado de espírito tanto da equipa de professores como dos alunos com estes impasses?

 

CA: À espera… à espera.

 

AMMA: Em média quanto tempo necessita para por uma peça deste género em palco? Contando com os ensaios, cenários, guarda-roupa, luzes e toda a envolvente necessária à produção da peça?

 

CA: Acho que para ter esta peça, tem que se pensar que o tempo é uma vida… (risos). Comecei a ensaiar em Janeiro e demorou cerca de três meses, mas é uma vida… não se aprende o Hamlet em três meses ou quatro, é uma vida de experiência. 

 

AMMA: Já tem idealizada a peça que pretende levar a palco com os alunos finalistas da Escola de Teatro deste ano?

 

CA: Sim, já. “Os gigantes da montanha”  de Pirandello.

 

AMMA: Uma palavra final para os nossos leitores sobre o teatro e a cultura em tempo de pandemia.

 

CA: Estejam connosco, que nós estamos com eles.

 

Texto e Fotos: Pedro MF Mestre

 

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