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Bruno Santos prepara-se para o Dakar 2025

Bruno Santos, piloto de Torres Vedras, iniciou-se no motociclismo Off-Road em 2010, participou no Campeonato Nacional de Enduro na categoria Verdes. Este piloto decide mudar para a categoria de Todo-o-Terreno, logo em 2017 quando do Campeonato do Mundo de Torres Vedras. Nos dois anos seguintes Bruno Santos torna-se Campeão Nacional de TT Rally Raid e na época seguinte repete o feito, sendo bicampeão nesta disciplina do desporto motorizado.

 

Os sonhos e a garra de Bruno Santos não se ficam por aqui e em 2021 começa a preparar-se para o Dakar 2022, considerada a prova rainha do Todo-o-Terreno. Contudo a sorte foi madrasta e devido a um acidente que sofreu no Rali de Marrocos não lhe foi possível correr nesse ano nesta prova.

Em 2023, foi Campeão Nacional de Todo-o-Terreno na Classe TT3, após o grande triunfo na Baja Portalegre 500, Bruno Santos apostou na participação no Rally Dakar, 2024 a prova de motociclismo mais mediática em todo o mundo.

 

Mesmo como estreante Bruno Santos dá cartas a conseguir o segundo lugar no pódio Ranking Rookie da 46ª edição do Rali Dakar.

As corridas já fazem parte do seu ADN e continua a pontuar Top 20 do Ranking Rally 2 e Top 30 absoluto. A sua participação no Dakar ficou ainda marcada pelo facto do seu capacete  ter sido considerado o mais original e bonito entre todos os pilotos de motociclismo.

Ao longo da temporada teve um palmarés considerável, sendo que subiu ao pódio na etapa portuguesa do Campeonato do Mundo e venceu de forma categórica a Baja Extremadura.

Para 2025, e a pouco tempo do Rali Dakar, o piloto torrense está a preparar-se para viajar e continuar a sua carreira ao mais alto nível.

 

Alguma curiosidade à parte: o prato favorito de Bruno Santos é o cozido à portuguesa, como local favorito de estar Santa Cruz e o filme de eleição eleito “O Senhor dos Anéis”, Bruno conta neste momento com 37 anos de idade.

AMMA: Bruno inicia a sua carreira numa idade um pouco mais avançada que alguns dos seus concorrentes de provas que começam a correr ainda em crianças. Notou isso como sendo prejudicial, podendo ter um início de carreira mais gradual, ou entrou no momento certo para vencer?
Bruno Santos: Quanto mais velhos nós somos menos o nosso corpo está apto a aprender. Quando somos crianças aprendemos de uma forma muito natural só precisamos de ver uma vez e as coisas saem naturalmente. Trabalhei muito para evoluir e aprender. No entanto a minha técnica nunca foi nem será a melhor, pois já não vou conseguir recuperar totalmente essa parte. De qualquer modo, mas creio que a vontade de querer fazer e o trabalho que tenho aplicado é o que tem permitido ter evoluído ao longo destes anos e conseguir chegar a um bom nível hoje em dia.

AMMA: É interessante ver o seu palmarés desde 2018 ao presente, cheio de vitórias em provas isoladas, como em campeonatos. Qual é o segredo para este sucesso?
BS:Tem sido mesmo muito trabalho e o evoluir de ano para ano gradualmente em muitos momentos. Sempre pensei que nunca conseguiria chegar a esse nível e vencer provas, mas ter sido persistente permitiu-me evoluir um pouco mais de ano para ano e está a fazer com que hoje em dia, que já estou numa idade mais avançada, consiga estar muito competitivo.

 

AMMA: Tendo sido uma carreira à base do Todo-o-Terreno, que prova o marcou mais? Qual a mais desafiante e como a venceu?
BS: O Rally Dakar é de longe a prova que mais me marcou, é muito importante é muito mediática é muito dura, longa e difícil não só a prova em si como criar todo o projeto até lá estar. Vencer a Baja Portalegre foi um grande momento também, porque revivi a lembrança de ao longo de muitos anos estar do lado de fora enquanto miúdo e ouvir toda a gente a falar da baja Portalegre….Nessa altura para mim jamais seria uma possibilidade poder vir a estar ali, naquela corrida quanto mais poder vir a vencê-la.

AMMA: Como se sente quando sobe a um pódio e ouve “A Portuguesa” e vê içar a bandeira nacional? Dedica esse momento a alguém em especial?
BS:Esse é um momento muito especial. Estar ali do lado de dentro e sentir que toca para mim. Numa corrida ser o primeiro significa que todos ficaram mais atrás. Para mim que não cresci habituado a issoé muito emocionante. Lembro-me sempre que tenho uma sorte muito grande em ter uma ótima família e poder contar com o apoio da minha mulher.

AMMA: Para ter a equipa e os patrocinadores que renovam a confiança do seu trabalho, houve um longo caminho a percorrer, ou devido ao seu sucesso nas provas agilizou esse processo?
BS: Existiu um caminho imenso a percorrer. Houve muito investimento pessoal de deixar muitas coisas pessoais para trás para chegar até aí. Depois de começarem a haver resultados começa a ficar mais fácil, mas ainda assim é sempre muito difícil. O que vai agilizar bastante é o facto o Rally Dakar ter a importância e o mediatismo que tem.

 

AMMA: Como a vida não é feita somente de Dakar, em que provas costuma participar e em que campeonatos?
BS: Tudo começou essencialmente por ter disputado o Campeonato Nacional de Rali Raid. Um campeonato a navegação onde consegui vencer por dois anos consecutivos e aí senti que podia evoluir muito nas provas. Recentemente tenho participado nas provas de Baja, nacionais e Internacionais, algumas pontuáveis para a Taça do Mundo.  

 

AMMA: Considera que tem a equipa que sonha e a mota que tem o desempenho que deseja? Sente que há uma cumplicidade entre si, a equipa e a mota?
BS: Neste momento tenho uma equipa onde puxamos para o mesmo lado e fazemos para que tudo corra bem. Sinto que tenho muito boas condições, bons meios e posso fazer ainda um pouco mais com o que tenho. Ainda assim, mais poderia ser feito se houvesse mais recursos e mais possibilidades de evoluir principalmente no deserto.

AMMA: Esta equipa e os seus patrocinadores acompanham-no desde o início?
BS: Desde 2015 que estou com a equipa da Momento TT e sinto plenamente que é graças a eles que hoje estou onde estou. Se não me tivesse juntado a eles jamais teria evoluído até aqui.  

 

AMMA: Para competir teve que deixar a sua actividade profissional e dedicar-se ao desporto motorizado ou consegue conciliar ambas as actividades?
BS: Exerço uma atividade profissional de muito importância e responsabilidade, pelo que não posso jamais deixar essa parte. De qualquer modo, felizmente tenho tido a possibilidade de conseguir conciliar e despender do tempo que é necessário para gerir ambas as situações.

 

AMMA: A primeira abordagem ao Dakar foi cancelada devido ao acidente que teve. No ano passado conseguiu competir e pontuar.  Qual é a sua antevisão para esta prova agora em 2025?
BS: Pretendo evoluir um pouco mais, crescer um pouco mais dentro da prova, estar mais junto dos resultados das equipas de fábrica, tentando sempre não perder a orientação de que é necessário terminar etapa a etapa para poder concluir o Dakar.

 

AMMA: Como é correr no deserto? Para além da atenção à condução, é essencial não se perder. Sabe-se que há participantes pelo menos os que têm mais “anos de deserto” por vezes perdiam-se em muitos quilómetros. Isso ainda acontece hoje, ou já têm um kit electrónico que vos ajuda a orientar?
BS: Apesar de hoje ainda existirem muitos sistemas que permitiriam a qualquer um não se perder, não é essa a essência do desporto. Faz parte da competição a navegação, pelo que  os recursos que temos connosco e que são possíveis de utilizar são muito limitados, de forma a que tenhamos que fazer uma navegação antiga. O que temos em um roadbook com desenhos e a quilometragem da prova e temos que seguir sempre aquelas orientações e com essas indicações e o odómetro da moto temos que nos orientar. As ajudas eletrónicas são essencialmente para segurança, em caso de acidente e também para o controlo da prova em si.

AMMA: Alguma vez se perdeu? Como recuperou o caminho até ao acampamento?
BS: Já me perdi por alguns quilómetros, mas nada significativo. Felizmente consegui encontrar o caminho novamente e sem perder muito tempo. Nunca perdi totalmente o rumo.

 

AMMA: Quem costuma fazer os cálculos de jerricans de combustível, comida, água para uma etapa? Faz o Bruno, ou tem ajuda a preparar a logística do dia seguinte?
BS: No Dakar estamos integrados numa equipa logística onde temos sempre frequentemente a informação de cada etapa, sabemos a distância que vamos percorrer, sabemos a que distância a que estão os reabastecimentos e é uma questão de gerir o combustível adequado. Comida e água temos de levar em bastante quantidade. Temos que sair de madrugada bem preparados para estarmos autónomos durante todo dia. Nesta prova tenho uma grande ajuda. A minha assistente e companheira é a minha esposa Joana que me tranquiliza muito nesta parta e me dá uma grande ajuda com a gestão dessas situações.

 

AMMA: Entre deserto, uma Baja ou um campeonato nacional, quais são as modalidades que gosta mais e porquê?
BS: Gosto muito de deserto por ser tão diferente, tão desafiante. As Bajas, o Campeonato Nacional do terreno são muito interessantes pela velocidade, pelo ritmo, mas gosto mais das provas de deserto, pela navegação.

 

AMMA: Tem noção que em Portugal existem pilotos e mesmo atletas de outras modalidades sem ser o motociclismo que desistem e têm-se perdido talentos por falta de apoios. O que gostaria de lhes aconselhar a fazer para terem uma carreira estável dentro das suas possibilidades?
BS: Para ser um desportista de alto nível é preciso uma orientação muito grande. Tenho noção que muitos atletas entraram no mundo do desporto muito novos e muitas vezes não tem ainda as bases suficientes para psicologicamente conseguirem estar aptos a encarar os desafios. Há muita pressão, muitos problemas e muitos desafios. Sem uma boa orientação, sem umabase e sem alguém a suportar-nos fica muito complicado.

 

Texto: Pedro MF Mestre

Fotos: (Cedidas pelo piloto)

 

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sábado, 25 de janeiro de 2025 – 17:26:41

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