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Abertura em velocidade (II)

Se a etapa de distância média quase se transfigurou em sprint, o terreno da Herdade dos Cascavel, onde se disputava a vertente longa, apresentando um declive ainda mais ligeiro, igualmente fazia prever uma jornada de pura velocidade. Como havia chegado a Coruche em forma física periclitante e o percurso rápido do primeiro dia ter contribuído com um desgaste acrescido, não via com bons olhos a possibilidade de me sair airosamente de nova correria.

Bom, havia uma notícia que podia atenuar (ou se calhar não) a exigência de um ritmo tão veloz. O nosso campeão, durante a prova da Lamarosa, contraiu uma lesão muscular (aproveito para lhe desejar uma rápida recuperação), que o impedia de defender a sua liderança, facto que lamento profundamente, pois acho que sou prejudicado com a sua ausência.

Podem pensar que é hipocrisia da minha parte (ou piada de circunstância), mas com ele em prova existe uma motivação extra, pois todos os adversários sentem necessidade de rolar nos limites, e é se pretendem obter pontuações dignas. O que acontece, é que o Zé Fernandes também não nos poupa um milímetro e assim, nem sabia se íamos lucrar alguma coisa com a desistência do Albano.

Efectivamente, a etapa desenrolou-se a velocidades proibitivas para as capacidades do “berdadeiro”, que não obstante ter alcançado uma pontuação mais alta que no dia anterior, baixou uns furos na classificação. E o resultado alcançado não poderia ter sido muito melhor, porquanto efectuei um percurso a roçar a perfeição, se não considerar que o meu andamento poderia e deveria ter sido bem mais célere. Vontade não me faltou, mas as “botas” pesavam que nem chumbo.

Que culpa tenho eu de pertencer ao escalão mais competitivo da Orientação Nacional? Se não há Albano, há Zé ou Jorge ou Rui ou Alves ou Domingues ou mais uma quantidade deles, que se perfilam para realizar provas em tempos…estive a pensar no termo mais indicado…ilegais…é isso, estes tipos deveriam ter um limitador de velocidade, caso infringissem, seriam penalizados. Porque quem não faz mal a ninguém (refiro-me ao “berdadeiro”) é que acaba por ser castigado valentemente, hehe!

Sei que já há gente com a lágrima ao canto do olho, da pena que sentem pelo “berdadeiro”, mas podem estar descansados, que estou perfeitamente tranquilo e bastante satisfeito com a prova que realizei. Apesar de inicialmente estar um pouco pessimista com a minha reacção a novo esforço, houve alguns pormenores que me elevaram a boa disposição, fizeram esquecer o cansaço e permitiram que atingisse objectivos improváveis.

O dia amanheceu calmo e solarengo, contrastando com a chuvada da noite anterior; fomos confrontados com uma ampla área de estacionamento; procedemos a uma agradável pernada de um quilómetro, pela zona do mapa até à Arena, que se encontrava muito bem equipada e organizada, num local excelente e muito bem enquadrado na paisagem circundante. Motivos de sobra para deitarmos as maleitas para trás das costas.

E foi carregado de boa disposição, que me dispus a partir para os meus 6.200 metros e 17 controlos. Ao pegar no mapa, de imediato me chamou a atenção para o branco quase uniforme, que pressupunha a existência de uma excelente pista para os aceleras. Se aliarmos a este detalhe, um desnível fraquinho, a táctica a utilizar devia assentar no azimute puro e duro (linha recta sobreposta à “red-line”). Iria progredir a direito e só pedia ao Santo Padroeiro dos Orientistas, que não me aparecesse nenhuma vaca desatenta pela frente, uma lura de coelho que me obrigasse a estatelar ou que esbarrasse com as malfadadas vedações. O Santo foi eficiente no gado e buracos, mas quanto aos arames deve-se ter esquecido de um.

Seguia eu todo lampeiro e saltitante para o quinto ponto, tentando esmagar a linha vermelha ao máximo, quando me surge uma arreliadora vedação (bem esticada por sinal). Mau…vou à passagem obrigatória ou cometo uma ilegalidade e rasgo a indumentária? Ora bem…passagem a duzentos metros…o ponto seguinte numa reentrância à minha frente…o cronómetro a passar…chegam mais três desesperados…deixo à vossa imaginação a cena seguinte.

Será que o “berdadeiro” cumpriu o regulamento escrupulosamente e deslocou-se para a passagem, de dentes a ranger, perdendo uns irrisórios segundos? Aproveitou a denominada “solidariedade do arame” – “segura aí enquanto eu passo”? Ultrapassou a vedação de forma dolorosa, esfarrapando pele e roupa? Qualquer que tenha sido a solução encontrada, se apanho alguém na próxima prova, a examinar se o meu fatinho ostenta uns furos recentes ou se apresento cicatrizes, zango-me e como castigo, obrigo-os a ler aquela coisa esquisita, que o meu primo “espécie” escreveu.

Após o sempre enervante episódio da transposição, continuei de forma descontraída a galgar terreno, dado que os pontos iam sendo controlados naturalmente, sem me causarem stress, apesar do esforço que paulatinamente me ia atrofiando. Até que por fim, termina o estado de graça e borro a pintura.

Ao evoluir na décima primeira pernada, ia cogitando todo satisfeito, que nenhum dos quatro parceiros, que haviam partido depois de mim, me tinha ultrapassado. Mas por que carga de água fui pensar nisso? Na zona do ponto, cujo elemento característico era uma clareira, verifiquei apreensivo que não faltavam clareiras naquela área. Com o mesmo problema se devia estar a debater um atleta de outro escalão, que girava todo desorientado.

Quando se atasca um pastor, atascam-se logo dois ou três. Em menos de um minuto o grupo aumentou para cinco, para meu descontentamento, porque dois pertenciam ao meu grupo etário. Do mal, o menos, um deles era um colega de clube, que já me estava a ganhar seis minutos. Passaram-se alguns momentos de desnorte total, porque nenhum de nós se conseguia concentrar nos detalhes. A tal situação do “mais vale só”.

Valeu a perspicácia do Fernando (quem sabe, sabe) e todos fomos à nossa vidinha, mas não ouvi que alguém lhe agradecesse. Tinha aqui a oportunidade de seguir na sua peugada, atitude que não poderia ser considerada “cola”, antes uma inteligente estratégia de equipa, hehe!

Qual cola, qual estratégia! Ainda eu hesitava em segui-lo e o homem sai disparado, a um ritmo que nem valia a pena tentar acompanhar. Oh que pena! O aspecto positivo é que me livrei de mais um comportamento anti-desportivo; o negativo - nos restantes seis pontos, ainda me deu mais uma abada de cinco minutos.

Mantive-me calmo e sereno. Se tinha navegado 40 minutos sozinho e orientado, não seria este contratempo que me iria desatinar. E para relaxar, decidi logo parar no ponto de água para beber um copázio. Tinha que retemperar forças, pois aproximava-se a longa travessia da Arena (do 13 para o 14) e não podia efectuá-la a arrastar os pés. Poder, podia, mas seria um vexame público.

Estas pernadas para o espectáculo são interessantes, sobretudo para quem está sentado a dar aos dentes. Porque para os desgraçados que passam, tentam aparentar uma de sobriedade e elegância, engrenando não raras vezes, velocidades desajustadas para “inglês ver”, resultando à posteriori em sofrimento desnecessário.

Mal cheguei ao fundo da recta da Arena, fora do raio de visão dos mirones, quase parei com o abafo, pois levava a língua nas solas (mas fiquei bem na foto), facto que não se revelava muito aconselhável, pois aquela zona encontrava-se polvilhada de “bostedo vacum” (ainda escorreguei perigosamente, nhac!).

O trio de prismas que se seguiram antes do “200”, declararam-se bastante acessíveis, tendo aproveitado para baixar o andamento, de maneira a que me pudesse apresentar fresco como uma alface, no extenso sprint final (150 metros demolidores). Grr…foi quase até quebrar o esmalte da dentadura.

Não posso deixar de felicitar o COAC, pelos dois dias formidáveis que nos proporcionou. Ninguém diria, que esta era a sua primeira organização de uma prova da Taça. E nada melhor para abrilhantar a ocasião, do que a subida ao lugar mais alto do pódio em Elites, do nosso campeão Diogo Miguel, que relegou para segundo plano, um grupo de atletas de bom nível, oriundo dos países nórdicos.

Como arranque de temporada, tendo em conta as limitações pessoais actuais, nem me posso queixar dos meus resultados. Tomara que signifiquem um bom auspício para o resto da época. Apenas não me consigo desenvencilhar de um nefasto pressentimento – que o primeiro milho seja dos pardais.
 

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quinta-feira, 18 de abril de 2024 – 17:49:45

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