A fazer fé nos escribas de “istórias” do antigamente, uma nobre dama do século XVII terá proferido num momento de exaltação e porque não, de extrema ambição pessoal, uma frase carregada de simbolismo – “mais vale rainha por um dia, do que duquesa toda a vida”.
Dando seguimento à ideia de um sonhador da nossa praça, na altura apelidado de lírico pelos mais cépticos (eu chamar-lhe-ia visionário), comemorou-se pelo terceiro ano consecutivo, o Dia Nacional da Orientação. Um dia, em que um pouco por todo o país (dezanove localidades), desde Braga a S. Bartolomeu de Messines, a modalidade saiu à rua, numa verdadeira acção de marketing, dando a conhecer ao público em geral, o seu enorme potencial como actividade física e intelectual, mas sobretudo como um desporto de famílias e de proximidade com a natureza.
Pelo menos neste dia, cerca de um milhar de pessoas envolveram-se pela primeira vez nas suas vidas, com mapas, bússolas, chips e prismas. Provavelmente, a Orientação andou nas cabeças dos “tugas” durante umas horas, aumentando-lhes a adrenalina, fazendo “esquecer” grandes eventos desportivos, tornando-se modalidade-rainha por um dia. Paulatinamente, vamos passando a mensagem do “grão a grão” – a filosofia humilde de quem é pequeno e o sabe, mas que aspira a tornar-se num desporto de referência.
Façamos um ligeiro exercício. Quantas famílias, quantos amigos, quantos atletas, não terão comentado durante este dia, ao tomar o “cimbalino” no café da esquina, entre uma garfada das refeições caseiras ou enquanto bebiam um “shot” num bar nocturno, as experiências vividas ou as questões suscitadas pela Orientação? Uma certeza podemos ter – após 7 de Maio de 2011, a percentagem de portugueses que desconhece a modalidade, baixou consideravelmente.
Aproveitando a data, o GD4C não poderia deixar de homenagear a memória de um saudoso atleta, na passagem do quinto aniversário do seu desaparecimento. Assim, a comparticipação do clube neste dia nacional, fica também associada ao Troféu de Orientação Sálvio Nora. Evento que decorreu novamente no Parque do Carriçal, em Matosinhos, concelho de onde era natural.
Não obstante a chuva desmoralizadora, que caiu quase até à hora das partidas (“Alguém” mexeu os cordelinhos, pois a partir daqui não mais choveu), compareceram mais de cento e oitenta participantes, número bastante animador e acima do inicialmente previsto. A larga maioria composta por curiosos, abrangendo todas as faixas etárias, a procurar o primeiro contacto com a modalidade.
É sempre de louvar, o constatarmos neste género de iniciativas, a participação de atletas federados, casos dos experientes, Joaquim Sousa, António Amador ou João Casal, entre outros, cuja presença funciona como elemento motivador, que aproveitaram para realizar um excelente treino técnico. Alguns deles ainda foram picar o ponto nas provas de Barcelos e Braga. Simplesmente exemplar!
Marcaram igualmente presença, os elementos da 5ª etapa do Circuito de Orientação de Precisão - “Todos diferentes, todos iguais” - competição que decorreu em simultâneo e que o GD4C tem orgulhosamente patrocinado, colaborando com o seu grande impulsionador, Joaquim Margarido, por acaso também o mentor deste Dia Nacional.
Sei que me vou repetir, mas não será demais voltar a afirmar, a seriedade com que o clube encarou a organização da prova. Julgo que tudo fizemos, para que o essencial não faltasse. Tentamos dar importância a todos os pormenores, de maneira a que ninguém saísse defraudado. Afinal, se estamos perante uma acção de divulgação, não é conveniente expor as nossas fragilidades.
Sendo um dia de festa, apresentemos a “melhor roupa”, mesmo que amanhã a realidade nos obrigue a despi-la. No entanto, continuarei a alimentar a quimera, de a Orientação, quem sabe se brevemente, poder também reinar em Portugal e que não seja apenas por um efémero momento.
Deixem-me sonhar!